A Dimensão Política do Trabalho Pedagógico
Dimensão Política do trabalho pedagógico
Fazendo uma reflexão a respeito do papel do educador nos dias atuais, sobre sua atuação na sala de aula como formador de opiniões e de personalidades e, sobretudo, em sua importante função social, vemos em demasia o fracasso escolar e social em nossos alunos devido a métodos tradicionais de ensino que não despertam o seu interesse e mesmo não conseguem desenvolver o aspecto cognitivo dessa criança plenamente.
Deparo-me então, com a educação que atua em espaços não formais e que, mais que a própria escola, consegue promover o indivíduo socialmente. Projetos sociais que promovem não só o aluno, mas sua família e a comunidade no sentido que eleva a autoestima dessas pessoas, fazendo-as sentirem-se integrantes que podem atuar efetivamente na sociedade no qual estão inseridas.
Com o objetivo de buscar contribuições para discussão do papel do educador e sobre a relevância da educação na vida social desse aluno e da sua comunidade, busco fundamentação teórica para discutir esse tema com mais profundidade e encontrar elementos que nos ajudem a pensar propostas para uma educação que não desassocie o aluno de sua realidade, mas que consiga integrar escola-comunidade.
Nesse sentido proponho algumas reflexões: educação e política, o que essas duas coisas têm a ver? Como essa relação é encarada pelos profissionais atuantes e estudantes da área educacional? Muito se tem refletido e discutido a respeito da dimensão política do trabalho pedagógico no meio acadêmico. Porém, será que saímos do senso comum, da forma de encarar a política somente como uma questão partidária? Ainda agimos de forma aversiva aos assuntos políticos, achando que enquanto cidadãos “comuns” só temos como atuação política o nosso voto? E os professores, de que forma eles podem contribuir na formação de seu aluno e na sua transformação social?
Educação
No Dicionário Aurélio encontramos a seguinte definição de educação: 1. ato ou efeito de educar (se). 2. Processo de desenvolvimento da capacidade física, intelectual e moral do ser humano. Além destas definições, certamente muitos autores discutirão o tema, dependendo da época e do contexto, concepções de educação serão encontradas.
Vemos assim que a educação não é um processo estático, de transmissão e acumulação de saberes, o dinamismo inerente a esse processo, permite a construção e socialização constante de conhecimentos.
Política
Buscando no dicionário Aurélio encontros a seguinte definição de política: 1. conjunto dos fenômenos e das praticas relativos ao Estado ou a uma sociedade. 2. Arte e ciência de bem governar, de cuidar dos negócios públicos. A definição encontrada não nos permite entender o real sentido da política nas nossas vidas enquanto seres atuantes na sociedade.
Recuperando o sentido da pólis da Grécia antiga encaramos como ser político todo aquele que participa das decisões da pólis, ou seja, da cidade. Se refletirmos sobre nossa vida social veremos que, o que ganhamos, o que compramos, o que podemos ou não fazer, está diretamente ligado às decisões e imposições do Estado. O que não paramos para perceber é que nos somos o Estado e nossa atuação é decisiva nas resoluções da vida pública, pois, apesar de termos perdido o sentido da pólis, participando ativamente, debatendo e refletindo, ainda somos seres políticos.
Política e educação: diálogos
Afinal, qual o compromisso do profissional com a sociedade? O profissional enquanto ser atuante no mundo é um ser comprometido com sua realidade. Freire (2005) nos fala que a condição primordial para se comprometer é ter a capacidade de agir e refletir, é se perceber no mundo quanto homem. É preciso ter uma reflexão sobre si, sobre seu mundo, associada a sua ação sobre o mundo.
Uma pessoa para comprometer-se não pode aceitar os limites que o mundo lhe impõe, ela precisa sair de seu contexto para fora dele, observá - lo e consequentemente transformá – lo. Um ser comprometido não fica preso à sua realidade, ao contrário, ele sai dela para ter uma consciência crítica e modificadora de sua própria realidade. Nesse sentido, minha atuação enquanto profissional é carregada de compromisso, portanto de atuação política e social.
Nogueira nos fala que:
O educador hoje instrui, treina, informa, forma, controla, executa, faz tudo exceto educar. Que educação é esta: que impede o homem de ser; que limita a experiência do educando, encerrando-o dentro dos limites da escola e da sala de aula; que representa verdades feitas e incontestáveis; que não aceita que muitas vezes o outro tenha mais a ensinar do que nós a ela; que não se adapta a diferentes realidades, que favorece a primazia do ter em detrimento do ser? Diante de tais constatações, o que nós, os chamados ‘educadores’ temos feito? O que deveríamos ter feito? O que devemos e deveremos fazer? (NOGUEIRA, p.10, 1980, in BRANDÃO, 1980)
Para o autor é preciso pensar a condição presente dos sujeitos diretos da educação, o educador e o educando, pensar a condição social do trabalho pedagógico e questionar a perca de identidade desse educador, é necessário que o educador se liberte dos mandos e desmandos autoritários do Estado e outras instâncias superiores, quando são concentrados os objetivos somente nos interesses do capital. É preciso agir contra a morte social do educador, da educação e da escola.
É preciso que nossas ações, nossa atuação, nossa força, tenha significação e sentimento. Vemos muitos companheiros de trajetória docente cansados, pessimistas, apáticos. A experiência do amor é o oposto desse sentimento de derrota e desânimo, é a vontade de ação e confiança na construção de um futuro de vitórias.
Com o advento do capitalismo e sua influência na educação vemos a grande ênfase nos métodos de ensino, tecnologia da educação, instrumentos de avaliação e adequação curricular, reduzindo o trabalho pedagógico em problemas meramente técnicos. Da lógica capitalista e da visão da escola como empresa (taylorismo) surgem os “’técnicos” em educação, os detentores do saber científico.
A concepção de prática educativa muito difundida é aquela ingênua e neutra, que se concentra somente no aspecto técnico, ou seja, o fazer pedagógico. Essa concepção escamoteia a essência do processo educativo que é a sua natureza política. O autor nos fala que o trabalho pedagógico é um instrumento que contribui para a superação da divisão social, sendo decisivo na libertação das classes oprimidas. O que precisa ser pensado e discutido é, de que maneira o trabalho em sala de aula e na escola como um todo pode colaborar na promoção dos alunos, da comunidade e do próprio educador.
O trabalho pedagógico precisa de organização e da participação do coletivo escolar, tendo iniciativa própria dos participantes e não esperar somente dos órgãos públicos. O trabalho pedagógico precisa explorar as contradições sociais e trabalhar em pró de uma consciência crítica, repensando os problemas educacionais numa ótica histórico-social, considerando sempre e refletindo sobre sua realidade. A escola necessita aumentar as oportunidades reais de escolarização e democratizar sua estrutura de poder.
Sobre algumas das obras consultadas
O livro Educador: Vida e Morte nasceu do III° Encontro Nacional de Supervisores de Educação realizado em Goiânia- 20/25 de outubro de 1980 a partir de falas de alguns participantes. Apesar de se passarem quase 27 anos, as questões levantadas no livro ainda são presentes na educação de hoje e se fazem mais fortes. Política e educação são elementos indissociáveis da sociedade, nossas ações enquanto cidadãos e enquanto educadores são carregadas de atos políticos. Como agente decisivo em sala de aula, o educador transmite concepções e ideologias a seus alunos.
Este livro discute temas importantes da profissão e da realidade docente, enfocando o aspecto político da ação pedagógica e do processo educativo. Em uma abordagem crítica em relação às políticas atuais e às ideologias existentes no campo educacional, os autores dissertam a respeito de assuntos que mesmo depois de vinte e cinco anos estão bem atuais.
Na obra Makarenko O nascimento de uma Pedagogia Socialista René de Capriles conta a história deste grande pedagogo contextualizando a época em que atuou, dissertando sobre as experiências enquanto educador e estudioso e dando enfoque em sua vivência na Colônia Górki. Com uma literatura envolvente o autor fala da Revolução russa e do socialismo na região, intercalando com as experiências de Makarenko na área educacional. O que me chama a atenção ao ler essas experiências é o grande envolvimento político de toda população, e a extrema valorização da cultura e das raízes local.
A metodologia utilizada por Makarenko também é algo de destaque, ao vermos o desenrolar destas experiências compreendemos a concepção de coletivo para o pedagogo e a sua importância no desenvolvimento social.
O inovador trabalho de Makarenko com as crianças delinquentes na Colônia Górki nos mostra a capacidade de transformação das pessoas e da sociedade quando a questão é encarada em sua devida importância e sobretudo quando não nos atemos aos métodos tradicionais de ensino para resolução de situações de conflito no espaço educativo.
Referências
BRANDÃO, Carlos Rodrigues (org.). Educador: Vida e Morte. Edições Graal, 2° edição, 1982.
CAPRILES, René. Makarenko O nascimento da Pedagogia Socialista. Editora Scipione, 1989.
RODRIGUES, Neidson. Da mistificação da Escola à escola Necessária. Editora Cortez, 1° edição, 1987.
FREIRE, Paulo. Educação e Mudança. Ed. Paz e Terra, 28° edição, 2005.
Fazendo uma reflexão a respeito do papel do educador nos dias atuais, sobre sua atuação na sala de aula como formador de opiniões e de personalidades e, sobretudo, em sua importante função social, vemos em demasia o fracasso escolar e social em nossos alunos devido a métodos tradicionais de ensino que não despertam o seu interesse e mesmo não conseguem desenvolver o aspecto cognitivo dessa criança plenamente.
Deparo-me então, com a educação que atua em espaços não formais e que, mais que a própria escola, consegue promover o indivíduo socialmente. Projetos sociais que promovem não só o aluno, mas sua família e a comunidade no sentido que eleva a autoestima dessas pessoas, fazendo-as sentirem-se integrantes que podem atuar efetivamente na sociedade no qual estão inseridas.
Com o objetivo de buscar contribuições para discussão do papel do educador e sobre a relevância da educação na vida social desse aluno e da sua comunidade, busco fundamentação teórica para discutir esse tema com mais profundidade e encontrar elementos que nos ajudem a pensar propostas para uma educação que não desassocie o aluno de sua realidade, mas que consiga integrar escola-comunidade.
Nesse sentido proponho algumas reflexões: educação e política, o que essas duas coisas têm a ver? Como essa relação é encarada pelos profissionais atuantes e estudantes da área educacional? Muito se tem refletido e discutido a respeito da dimensão política do trabalho pedagógico no meio acadêmico. Porém, será que saímos do senso comum, da forma de encarar a política somente como uma questão partidária? Ainda agimos de forma aversiva aos assuntos políticos, achando que enquanto cidadãos “comuns” só temos como atuação política o nosso voto? E os professores, de que forma eles podem contribuir na formação de seu aluno e na sua transformação social?
Educação
No Dicionário Aurélio encontramos a seguinte definição de educação: 1. ato ou efeito de educar (se). 2. Processo de desenvolvimento da capacidade física, intelectual e moral do ser humano. Além destas definições, certamente muitos autores discutirão o tema, dependendo da época e do contexto, concepções de educação serão encontradas.
Vemos assim que a educação não é um processo estático, de transmissão e acumulação de saberes, o dinamismo inerente a esse processo, permite a construção e socialização constante de conhecimentos.
Política
Buscando no dicionário Aurélio encontros a seguinte definição de política: 1. conjunto dos fenômenos e das praticas relativos ao Estado ou a uma sociedade. 2. Arte e ciência de bem governar, de cuidar dos negócios públicos. A definição encontrada não nos permite entender o real sentido da política nas nossas vidas enquanto seres atuantes na sociedade.
Recuperando o sentido da pólis da Grécia antiga encaramos como ser político todo aquele que participa das decisões da pólis, ou seja, da cidade. Se refletirmos sobre nossa vida social veremos que, o que ganhamos, o que compramos, o que podemos ou não fazer, está diretamente ligado às decisões e imposições do Estado. O que não paramos para perceber é que nos somos o Estado e nossa atuação é decisiva nas resoluções da vida pública, pois, apesar de termos perdido o sentido da pólis, participando ativamente, debatendo e refletindo, ainda somos seres políticos.
Política e educação: diálogos
Afinal, qual o compromisso do profissional com a sociedade? O profissional enquanto ser atuante no mundo é um ser comprometido com sua realidade. Freire (2005) nos fala que a condição primordial para se comprometer é ter a capacidade de agir e refletir, é se perceber no mundo quanto homem. É preciso ter uma reflexão sobre si, sobre seu mundo, associada a sua ação sobre o mundo.
Uma pessoa para comprometer-se não pode aceitar os limites que o mundo lhe impõe, ela precisa sair de seu contexto para fora dele, observá - lo e consequentemente transformá – lo. Um ser comprometido não fica preso à sua realidade, ao contrário, ele sai dela para ter uma consciência crítica e modificadora de sua própria realidade. Nesse sentido, minha atuação enquanto profissional é carregada de compromisso, portanto de atuação política e social.
Nogueira nos fala que:
O educador hoje instrui, treina, informa, forma, controla, executa, faz tudo exceto educar. Que educação é esta: que impede o homem de ser; que limita a experiência do educando, encerrando-o dentro dos limites da escola e da sala de aula; que representa verdades feitas e incontestáveis; que não aceita que muitas vezes o outro tenha mais a ensinar do que nós a ela; que não se adapta a diferentes realidades, que favorece a primazia do ter em detrimento do ser? Diante de tais constatações, o que nós, os chamados ‘educadores’ temos feito? O que deveríamos ter feito? O que devemos e deveremos fazer? (NOGUEIRA, p.10, 1980, in BRANDÃO, 1980)
Para o autor é preciso pensar a condição presente dos sujeitos diretos da educação, o educador e o educando, pensar a condição social do trabalho pedagógico e questionar a perca de identidade desse educador, é necessário que o educador se liberte dos mandos e desmandos autoritários do Estado e outras instâncias superiores, quando são concentrados os objetivos somente nos interesses do capital. É preciso agir contra a morte social do educador, da educação e da escola.
É preciso que nossas ações, nossa atuação, nossa força, tenha significação e sentimento. Vemos muitos companheiros de trajetória docente cansados, pessimistas, apáticos. A experiência do amor é o oposto desse sentimento de derrota e desânimo, é a vontade de ação e confiança na construção de um futuro de vitórias.
Com o advento do capitalismo e sua influência na educação vemos a grande ênfase nos métodos de ensino, tecnologia da educação, instrumentos de avaliação e adequação curricular, reduzindo o trabalho pedagógico em problemas meramente técnicos. Da lógica capitalista e da visão da escola como empresa (taylorismo) surgem os “’técnicos” em educação, os detentores do saber científico.
A concepção de prática educativa muito difundida é aquela ingênua e neutra, que se concentra somente no aspecto técnico, ou seja, o fazer pedagógico. Essa concepção escamoteia a essência do processo educativo que é a sua natureza política. O autor nos fala que o trabalho pedagógico é um instrumento que contribui para a superação da divisão social, sendo decisivo na libertação das classes oprimidas. O que precisa ser pensado e discutido é, de que maneira o trabalho em sala de aula e na escola como um todo pode colaborar na promoção dos alunos, da comunidade e do próprio educador.
O trabalho pedagógico precisa de organização e da participação do coletivo escolar, tendo iniciativa própria dos participantes e não esperar somente dos órgãos públicos. O trabalho pedagógico precisa explorar as contradições sociais e trabalhar em pró de uma consciência crítica, repensando os problemas educacionais numa ótica histórico-social, considerando sempre e refletindo sobre sua realidade. A escola necessita aumentar as oportunidades reais de escolarização e democratizar sua estrutura de poder.
Sobre algumas das obras consultadas
O livro Educador: Vida e Morte nasceu do III° Encontro Nacional de Supervisores de Educação realizado em Goiânia- 20/25 de outubro de 1980 a partir de falas de alguns participantes. Apesar de se passarem quase 27 anos, as questões levantadas no livro ainda são presentes na educação de hoje e se fazem mais fortes. Política e educação são elementos indissociáveis da sociedade, nossas ações enquanto cidadãos e enquanto educadores são carregadas de atos políticos. Como agente decisivo em sala de aula, o educador transmite concepções e ideologias a seus alunos.
Este livro discute temas importantes da profissão e da realidade docente, enfocando o aspecto político da ação pedagógica e do processo educativo. Em uma abordagem crítica em relação às políticas atuais e às ideologias existentes no campo educacional, os autores dissertam a respeito de assuntos que mesmo depois de vinte e cinco anos estão bem atuais.
Na obra Makarenko O nascimento de uma Pedagogia Socialista René de Capriles conta a história deste grande pedagogo contextualizando a época em que atuou, dissertando sobre as experiências enquanto educador e estudioso e dando enfoque em sua vivência na Colônia Górki. Com uma literatura envolvente o autor fala da Revolução russa e do socialismo na região, intercalando com as experiências de Makarenko na área educacional. O que me chama a atenção ao ler essas experiências é o grande envolvimento político de toda população, e a extrema valorização da cultura e das raízes local.
A metodologia utilizada por Makarenko também é algo de destaque, ao vermos o desenrolar destas experiências compreendemos a concepção de coletivo para o pedagogo e a sua importância no desenvolvimento social.
O inovador trabalho de Makarenko com as crianças delinquentes na Colônia Górki nos mostra a capacidade de transformação das pessoas e da sociedade quando a questão é encarada em sua devida importância e sobretudo quando não nos atemos aos métodos tradicionais de ensino para resolução de situações de conflito no espaço educativo.
Referências
BRANDÃO, Carlos Rodrigues (org.). Educador: Vida e Morte. Edições Graal, 2° edição, 1982.
CAPRILES, René. Makarenko O nascimento da Pedagogia Socialista. Editora Scipione, 1989.
RODRIGUES, Neidson. Da mistificação da Escola à escola Necessária. Editora Cortez, 1° edição, 1987.
FREIRE, Paulo. Educação e Mudança. Ed. Paz e Terra, 28° edição, 2005.
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