Há alguns anos era muito nítida a figura do professor como um profissional, autônomo, dono de um saber, com controle sobre o seu trabalho e gozando de um reconhecimento público que o tornava uma autoridade em muitas comunidades. Hoje os professores, em sua maior parte, são identificados como assalariados, participantes de sindicatos fortes, com pouca qualificação e pouco controle sobre o seu trabalho.
Com o processo de urbanização, com a industrialização, ocorreu a constituição de escolas em estruturas cada vez mais complexas e uma grande concentração de escolas. Isto levou a um aumento acentuado do número de professores, fazendo desaparecer a figura do professor autônomo e provocando o aparecimento do professor assalariado.
Pode-se afirmar que os professores são integrantes da classe trabalhadora? Sim e não.
Sim, porque estes estão submetidos a um processo de proletarização que, se não perfeitamente corJigurado, está em pleno desenvolvimento. Por outro lado, somente o assalariamento não caracteriza um membro da classe trabalhadora. Um trabalhador é aquele que, além de vender sua força de trabalho, não possui o controle sobre os meios, os objetivos e o processo de seu trabalho. O professor, mesmo já apresentando fortes características daquilo que pode ser definido como classe trabalhadora, ainda mantém boa parte do controle sobre o seu trabalho, ainda goza de uma certa autonomia e, em muitos casos, não é facilmente substituído pela máquina. Uma resposta à questão formulada deve levar em conta esta situação ambivalente, contraditória, por que passa o professorado.
A situação de ambivalência do professorado, entre o profissionalismo e a proletarização, é determinada por situações historicamente constituídas. No Brasil, o processo de proletarização é acelerado.
De acordo com Enguita (1990), um grupo profissional é um grupo de pessoas autoregulado, que trabalha diretamente para o mercado, oferecendo determinado tipo de bens ou serviços. É o que se poderia chamar de um profissional liberal. Realiza um trabalho autônomo, com controle sobre seu processo de trabalho. Normalmente, seu campo de trabalho e conhecimento profissional estão amparados por lei. Certos grupos profissionais - caso dos médicos -, mesmo quando assalariados, conservam um certo poder sobre seu trabalho, sobre a formação da profissão (conteúdos, currículos, etc.) e gozam de um certo prestígio social.
O oposto ao profissionalismo é a proletarização. Neste caso, além da força de trabalho ser vendida, o trabalhador não possui nenhum controle sobre os meios de produção, sobre o objeto e o processo de trabalho. Não possui autonomia, constituindose num trabalhador coletivo. Seu saber, ao longo do desenvolvimento do processo de trabalho, é apropriado pelo capital e incorporado ao processo de produção. Passa, o trabalhador, por um fenômeno de desqualificação.
(HYPOLITO, Álvaro M. Processo de trabalho na escola: algumas categorias para análise.
Teoria & Educação (4):12-3. 1991.)
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