Introdução Nos primeiros anos de escolaridade no Ensino Fundamental a prioridade é possibilitar aos alunos a compreensão do sistema de escrita. Uma vez compreendido, as questões ortográficas devem ser tomadas como objeto de ensino mais efetivo.
Para tanto, é preciso que o aluno compreenda que a ortografia é uma convenção e, como tal, precisa ser respeitada na escrita, pois unifica grafias, possibilitando a regulação de sentidos possíveis para as diferentes escritas.
O ensino deve orientar-se pela compreensão de que há dois tipos básicos de questões ortográficas: as produtivas - que podem ser aprendidas por meio da análise, comparação, reflexão e construção de regras - e as reprodutivas - que são aprendidas apenas com a utilização da memória (o que não significa exercícios exaustivos de repetição, mas muita leitura e releitura de textos, que possibilitem focalizar escritas corretas).
A atividade que será proposta pretende trabalhar com uma questão ortográfica produtiva, considerada por Morais (ver bibliografia) como uma questão morfológico-gramatical relacionada à flexão verbal: a terminação -am e -ão no pretérito e no futuro.
Objetivos
Possibilitar aos alunos a compreensão de que, quando se trata de palavras terminadas em am e ão, se esta palavra for um verbo, sempre que estiver conjugado no futuro, a terminação será ão; conjugado nos demais tempos, a terminação será sempre am. Criar condições para que os alunos se apropriem de procedimentos de análise e comparação de um repertório de palavras específico, de modo a poder estudar determinada questão ortográfica, analisando a possibilidade - ou não - de essa questão ser regida por uma regularidade observável.
Conteúdo específico Ortografia: verbos terminados em ão/am.
Ano
3º e 4º
Tempo necessário Uma aula de 50 minutos.
Material Necessário Folha de linguagem para o ditado, lápis, borracha para os alunos.
Desenvolvimento 1ª etapa Organize os alunos em duplas, sentados em suas carteiras.
2ª etapa Selecione um texto que apresente palavras terminadas em am e ão e que seja adequado para um ditado. Antes de iniciar a leitura, faça uma contextualização e comente sobre o gênero, autor, possível conteúdo, remetendo-se ao título.
Exemplo de texto (adaptado de http://sitededicas.uol.com.br/fabula_lebre_tartaruga.htm (acesso em 30 de març0 de 2008):
- Um dia, a Lebre, / considerando-se o mais veloz dos animais da floresta, / ridicularizou as pernas curtas / e a lentidão da Tartaruga. / A Tartaruga sorriu e disse: / "Pensa você ser rápida como o vento / mas, mesmo assim, / eu poderia vencê-la em uma corrida." /
A Lebre, é claro, / considerando que seria impossível / a Tartaruga vencê-la, / aceitou o desafio. / Então, convidaram a Raposa / para servir de juiz e organizar o evento./
No dia marcado, foram competir. / E partiram: / a Tartaruga, / com seu passo lento, mas firme; / a Lebre, / ágil e cheia de si. / Esta, confiante em sua rapidez, / e certificando-se de que a Tartaruga / seguia a passos lentos, / em uma determinada hora / deitou-se à margem da estrada / para um rápido cochilo. / A Tartaruga, ao contrário, / seguiu, determinada, / sem parar um só instante. /
Ao despertar, / embora corresse o mais rápido que pudesse, / a Lebre não mais conseguiu alcançar a Tartaruga, / que já cruzara a linha de chegada, / e descansava tranqüila em um canto. /
Moral da História: /
Aqueles que realizam seu trabalho / com zelo e persistência, / sempre êxito terão. Autor: Esopo
3ª etapa Faça o ditado e, a cada vez que chegar à palavra representativa da questão ortográfica em foco, pergunte aos alunos de que forma deverá ser escrita. Solicite que pensem em outra palavra que se encaixe na justificativa dada, para conferir se vale ou não a explicação. Caso a resposta for incorreta, apresente um contra-exemplo para fazer com que os alunos repensem a explicação dada, reformulando-a. Se disserem, por exemplo, que convidaram se escreve com ão no final, coloque na lousa algumas frases como:
- Os animais estavam torcendo pela Tartaruga.
- Na festa da vitória, todos comeram e beberam os quitutes que a Onça preparou.
- Os macacos serão os responsáveis pelas bandeirinhas na chegada disse a Raposa.
- Os canarinhos cantarão lindas melodias e as garças dançaram, graciosamente.
Solicite que comparem e vejam com quais exemplos a palavra convidaram se parece mais e porquê e, dessa forma, como seria escrita.
4ª etapa Ao final do ditado, solicite que elaborem uma explicação a respeito de quando a palavra for um verbo, como é que sabemos se se escreve com am ou com ão no final. A regularidade dessa escrita deve ficar disponível na classe, afixada, por exemplo, em um mural de registro de conhecimentos ortográficos. Deve ser consultada sempre que se precisar. É muito importante que o professor mostre como utilizar o registro para que a turma tire suas dúvidas.
Avaliação
Proponha outros ditados e produções escritas e analise se os alunos utilizam o registro como fonte de referência. Se o aluno tiver compreendido a regularidade e a memorizado, não precisará recorrer a ele.
Quer saber mais?
BIBLIOGRAFIA
O Aprendizado da Ortografia, Artur Gomes de Morais (org), 144 págs., Ed. Autêntica, tel. 0800-2831322, 31 reais.
Ortografia: Ensinar e Aprender, Artur Gomes de Morais, 128 págs., Ed. Ática, tel. 0800-115152, 35 reais.
Consultora: Kátia Lomba Bräkling
Especialista em ensino da Língua Portuguesa, da Alfabetização ao Ensino Médio, formadora de professores na área de ensino de língua e organização curricular, assessora e consultora na área de Ensino de Linguagem e de Reorganização Curricular (para escolas da rede pública e particular, assim como demais órgãos e instituições de educação)
As duas faces da ortografia
Trabalhar de forma específica com o ensino das regularidades e irregularidades auxilia os alunos do 1º ao 9º ano a refletir sobre a ortografia
Thais Gurgel (novaescola@atleitor.com.br)Aluna faz anotações durante
a leitura de um textoConteúdo relacionadoTUDO SOBRE
Reportagens
Plano de aula
A ortografia é uma convenção social criada para facilitar a comunicação escrita: dominando-a, temos uma forma comum de escrever cada palavra - incluindo as que têm mais de uma opção de letra correspondente a determinado som. No caso dessas últimas, a grafia pode ser dividida entre palavras que obedecem a regularidades (em que o conhecimento de uma regra permite antecipar como ela deve ser escrita, até mesmo sem conhecê-la) e as irregularidades (que não seguem qualquer princípio explicativo que justifique sua notação). Para que as crianças dominem a ortografia, você precisa propor um trabalho em duas frentes. No caso das regularidades, o mote é a observação e a reflexão sobre elas. Entre as irregularidades, o caminho é trabalhar estratégias para a memorização da grafia das palavras de maior uso. "Antes se aprendia que ‘se escrevia assim’ e se decorava simplesmente a ortografia. As regularidades nunca eram explicitadas”, explica Egon de Oliveira Rangel, professor da Pontifícia Universidade Católica (PUC-SP).
O primeiro passo do trabalho é realizar um diagnóstico do domínio da ortografia pela turma. Seja nos grupos dos anos iniciais - quando as crianças já estão alfabéticas - ou do Ensino Fundamental 2, é preciso analisar quais são os erros que aparecem na escrita de boa parte dos alunos e com que frequência essas palavras são usadas em suas produções cotidianas. Levantamento feito, é hora de planejar a sequência didática.
Abaixo, destacamos algumas dúvidas comuns sobre o ensino da ortografia e seu planejamento. Artur Gomes de Morais, professor da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE) e autor do livro Ortografia: ensinar e aprender - uma das grandes referências bibliográficas na área - é quem ajuda a resolvê-las. Confira!
Quais são as regularidades da ortografia?
Existem dois tipos nas correspondências fonográficas que todo professor deve conhecer. A primeira é a chamada regularidade contextual, que engloba as palavras cuja grafia é definida pela localização do som dentro da palavra (saber que é preciso grafar RR em “carro” para marcar um som de R forte entre duas vogais, por exemplo, ou que “tempo” se escreve com M e não com N, pois a letra seguinte é um P, etc.). A segunda é a regularidade morfológico-gramatical, onde se encaixam as palavras cuja grafia é ligada à sua natureza gramatical (como o uso do Z e não do S nos substantivos “realeza” e “beleza”, que são derivados de adjetivos; ou do SS e não do S ou do C em “falasse” e “partisse” por serem flexões de verbos no imperfeito do subjuntivo).
Como trabalhar com elas?
Embora tenham regularidades de naturezas diversas, o trabalho com os dois tipos de regras segue uma lógica comum. Primeiro, proponha a observação de um grupo de palavras - em atividades diversas - para que observem se há regularidades em sua escrita. Depois, a turma discute o que observou e encontra uma maneira de explicá-las. Com a explicitação das regras feita coletivamente, é hora de registrá-las por escrito, para que todos possam consultá-las quando necessário. Nessa perspectiva, as regras ortográficas são “elaboradas” pela própria turma, já que é ela que determina o que há de comum entre as palavras observadas e de que maneira transformar o observado em uma sentença a ser registrada. “Temos pesquisas com tratamento estatístico cuidadoso demonstrando que o ensino que promove a tomada de consciência das questões ortográficas é muito superior ao ensino tradicional - que leva apenas a memorizar ou preencher lacunas, de maneira repetitiva”, diz o especialista da UFPE. “Sem falar na ausência de ensino de ortografia que, infelizmente, ainda ocorre em muitas salas de aula do país.”
Quais são as melhores atividades na área?
Em suas pesquisas, Morais chegou a algumas propostas de atividades. De forma geral, pode-se falar em trabalhos com textos e com palavras fora de textos. No primeiro caso, em ditados, releituras ou reescritas, a ideia é que você chame a atenção dos alunos para as palavras que julga constituir “desafios ortográficos”, interrompendo a atividade para discussões coletivas sobre a grafia dessas palavras. A outra linha, com palavras “soltas”, tem como propostas jogos em que as crianças devem relacionar cartelas com palavras que sigam a mesma regra ortográfica (“carro”, “sorriso” e “espirro”, ou “careta” e “clarão”), desafios de encontrar em revistas e jornais palavras que se encaixem em grupos com uma determinada característica ortográfica, entre outras atividades. Há ainda o recurso de propor a escrita propositalmente errada de palavras cuja ortografia siga uma regularidade: “Para fazê-lo, a criança precisa conhecer a grafia correta”, diz Morais. “O ideal é que ela vá, junto com os colegas, verbalizando, discutindo e escrevendo as regras que justificam o fato de aquelas palavras terem que ser escritas assim.”
E quanto às irregularidades na ortografia? Como trabalhá-las?
No ensino das palavras irregulares, o princípio é diferente, já que sua grafia não se orienta por regra alguma. “Nesses casos, não há muito o que compreender, é preciso memorizar”, explica Artur Gomes de Morais. “Quem não é especialista em filologia não tem que saber que tal palavra tem origem em tal vocábulo latino, ou grego, ou mesmo que é uma palavra de origem indígena.” A saída nesses casos é consultar modelos - locais onde sabemos que determinada palavra está escrita da maneira correta - e usar o dicionário (que envolve conhecer a forma como as palavras estão nele organizadas e como procurar um termo flexionado, por exemplo). Você pode também combinar com a turma a produção de uma pequena lista de palavras de uso frequente que eles devem memorizar para não mais errar.
Como organizar tudo isso no planejamento?
Embora o trabalho com ortografia deva se pautar sempre pelo diagnóstico de cada turma, certas dificuldades costumam aparecer antes. De início, é comum surgir dúvidas sobre palavras com regularidades contextuais (os famosos usos do R, por exemplo). Só mais tarde começa a ser uma questão para os pequenos a forma como se escrevem palavras com regularidades do tipo morfológico-gramatical. “Uma regra envolvendo o SS do imperfeito do subjuntivo, como na palavra “cantasse” tende a ser mais difícil de ser observada que a regra que explica quando escrevemos com G ou GU”, afirma Morais. “Não só porque a primeira regra envolve uma consciência morfo-gramatical, mas porque, no cotidiano, escrevemos menos vezes palavras no imperfeito do subjuntivo que palavras onde aparecem as letras G ou GU com o som de “guê”.”
Com isso, de forma geral pode-se dizer que as palavras de regularidade contextual (como o uso do M antes de P e B) e aquelas com ortografia irregular, mas de uso frequente (como “homem” ou “hoje”), podem ser trabalhadas antes do que as de regularidade morfológico-gramatical (o uso do Z em “pobreza”) ou as irregulares de pouco uso. Afinal, o que se quer é que as turmas possam se comunicar sem o “ruído” dos problemas de ortografia em suas produções, certo?
Aluna faz anotações durante
a leitura de um texto
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TUDO SOBREReportagens
Plano de aula
O primeiro passo do trabalho é realizar um diagnóstico do domínio da ortografia pela turma. Seja nos grupos dos anos iniciais - quando as crianças já estão alfabéticas - ou do Ensino Fundamental 2, é preciso analisar quais são os erros que aparecem na escrita de boa parte dos alunos e com que frequência essas palavras são usadas em suas produções cotidianas. Levantamento feito, é hora de planejar a sequência didática.
Abaixo, destacamos algumas dúvidas comuns sobre o ensino da ortografia e seu planejamento. Artur Gomes de Morais, professor da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE) e autor do livro Ortografia: ensinar e aprender - uma das grandes referências bibliográficas na área - é quem ajuda a resolvê-las. Confira!
Quais são as regularidades da ortografia?
Existem dois tipos nas correspondências fonográficas que todo professor deve conhecer. A primeira é a chamada regularidade contextual, que engloba as palavras cuja grafia é definida pela localização do som dentro da palavra (saber que é preciso grafar RR em “carro” para marcar um som de R forte entre duas vogais, por exemplo, ou que “tempo” se escreve com M e não com N, pois a letra seguinte é um P, etc.). A segunda é a regularidade morfológico-gramatical, onde se encaixam as palavras cuja grafia é ligada à sua natureza gramatical (como o uso do Z e não do S nos substantivos “realeza” e “beleza”, que são derivados de adjetivos; ou do SS e não do S ou do C em “falasse” e “partisse” por serem flexões de verbos no imperfeito do subjuntivo).
Como trabalhar com elas?
Embora tenham regularidades de naturezas diversas, o trabalho com os dois tipos de regras segue uma lógica comum. Primeiro, proponha a observação de um grupo de palavras - em atividades diversas - para que observem se há regularidades em sua escrita. Depois, a turma discute o que observou e encontra uma maneira de explicá-las. Com a explicitação das regras feita coletivamente, é hora de registrá-las por escrito, para que todos possam consultá-las quando necessário. Nessa perspectiva, as regras ortográficas são “elaboradas” pela própria turma, já que é ela que determina o que há de comum entre as palavras observadas e de que maneira transformar o observado em uma sentença a ser registrada. “Temos pesquisas com tratamento estatístico cuidadoso demonstrando que o ensino que promove a tomada de consciência das questões ortográficas é muito superior ao ensino tradicional - que leva apenas a memorizar ou preencher lacunas, de maneira repetitiva”, diz o especialista da UFPE. “Sem falar na ausência de ensino de ortografia que, infelizmente, ainda ocorre em muitas salas de aula do país.”
Quais são as melhores atividades na área?
Em suas pesquisas, Morais chegou a algumas propostas de atividades. De forma geral, pode-se falar em trabalhos com textos e com palavras fora de textos. No primeiro caso, em ditados, releituras ou reescritas, a ideia é que você chame a atenção dos alunos para as palavras que julga constituir “desafios ortográficos”, interrompendo a atividade para discussões coletivas sobre a grafia dessas palavras. A outra linha, com palavras “soltas”, tem como propostas jogos em que as crianças devem relacionar cartelas com palavras que sigam a mesma regra ortográfica (“carro”, “sorriso” e “espirro”, ou “careta” e “clarão”), desafios de encontrar em revistas e jornais palavras que se encaixem em grupos com uma determinada característica ortográfica, entre outras atividades. Há ainda o recurso de propor a escrita propositalmente errada de palavras cuja ortografia siga uma regularidade: “Para fazê-lo, a criança precisa conhecer a grafia correta”, diz Morais. “O ideal é que ela vá, junto com os colegas, verbalizando, discutindo e escrevendo as regras que justificam o fato de aquelas palavras terem que ser escritas assim.”
E quanto às irregularidades na ortografia? Como trabalhá-las?
No ensino das palavras irregulares, o princípio é diferente, já que sua grafia não se orienta por regra alguma. “Nesses casos, não há muito o que compreender, é preciso memorizar”, explica Artur Gomes de Morais. “Quem não é especialista em filologia não tem que saber que tal palavra tem origem em tal vocábulo latino, ou grego, ou mesmo que é uma palavra de origem indígena.” A saída nesses casos é consultar modelos - locais onde sabemos que determinada palavra está escrita da maneira correta - e usar o dicionário (que envolve conhecer a forma como as palavras estão nele organizadas e como procurar um termo flexionado, por exemplo). Você pode também combinar com a turma a produção de uma pequena lista de palavras de uso frequente que eles devem memorizar para não mais errar.
Como organizar tudo isso no planejamento?
Embora o trabalho com ortografia deva se pautar sempre pelo diagnóstico de cada turma, certas dificuldades costumam aparecer antes. De início, é comum surgir dúvidas sobre palavras com regularidades contextuais (os famosos usos do R, por exemplo). Só mais tarde começa a ser uma questão para os pequenos a forma como se escrevem palavras com regularidades do tipo morfológico-gramatical. “Uma regra envolvendo o SS do imperfeito do subjuntivo, como na palavra “cantasse” tende a ser mais difícil de ser observada que a regra que explica quando escrevemos com G ou GU”, afirma Morais. “Não só porque a primeira regra envolve uma consciência morfo-gramatical, mas porque, no cotidiano, escrevemos menos vezes palavras no imperfeito do subjuntivo que palavras onde aparecem as letras G ou GU com o som de “guê”.”
Com isso, de forma geral pode-se dizer que as palavras de regularidade contextual (como o uso do M antes de P e B) e aquelas com ortografia irregular, mas de uso frequente (como “homem” ou “hoje”), podem ser trabalhadas antes do que as de regularidade morfológico-gramatical (o uso do Z em “pobreza”) ou as irregulares de pouco uso. Afinal, o que se quer é que as turmas possam se comunicar sem o “ruído” dos problemas de ortografia em suas produções, certo?
É hora de escrever certo
Ensinar ortografia é essencial desde as primeiras séries. Você só precisa saber quando e como. E conhecer bem as regras, claro
Paulo Araújo (novaescola@atleitor.com.br)Conteúdo relacionadoTUDO SOBRE
Há vários motivos para você ensinar seus alunos a escrever de forma correta. Além de estimular o aprendizado da língua oficial do país, o conhecimento das normas ortográficas ajuda a garotada a superar o medo de se expressar por escrito e, diferentemente do que muitos acreditam, não afeta em nada a criatividade. Ao contrário. No momento em que dominam as palavras com segurança, as crianças não precisam parar a toda hora para verificar a grafia e podem voltar toda a atenção para o desenvolvimento da história. E isso vale desde as primeiros anos do Ensino Fundamental. Não perca tempo!
Os primeiros passos
O ensino da ortografia deve ter início assim que o estudante começa a entender o sistema de escrita alfabética - de preferência ainda na 1ª série. Isto é, quando tiver aprendido o valor sonoro das letras e já puder ler e escrever pequenos textos.
Segundo o professor Artur Gomes de Morais, do Centro de Educação da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), é preciso deixar bem claro para os alunos que todas as regras ortográficas são fruto de uma convenção social, de um acordo estabelecido pelos especialistas cujo objetivo é padronizar a escrita - e que, no mundo em que vivemos, quem não domina essa convenção é discriminado. "Por isso, não deixe a criança acreditar que vai aprender ‘na hora certa’. Desde os primeiros momentos é papel do professor ajudá-la a refletir sobre os erros ortográficos", afirma. "Só assim ela internaliza as regras, que, por serem aparentemente complexas, vão desafiá-la por toda a vida."
Morais alerta também para o fato de que o domínio da escrita alfabética nem sempre é homogêneo em cada sala de aula e que o número de erros num texto nunca deve ser usado como parâmetro de avaliação.
Durante a última década, o professor pernambucano pesquisou o tema em escolas espanholas e brasileiras sob a orientação da educadora argentina Ana Teberosky e percebeu que explorava um terreno árido em que coexistem falsas crenças, dúvidas, sentimentos de insegurança - e muito autoritarismo -, tanto por parte de quem ensina a língua escrita como de quem precisa usá-la na escola e fora dela. "Quem não cria oportunidades de reflexão sobre as dificuldades ortográficas do idioma não pode nunca exigir que o aluno escreva certo", ensina Morais em seus livros de formação.
Refletir sobre a escrita
Estudo realizado há cinco anos em Pernambuco sob a orientação da professora Lucia Lins Browne Rego e da psicóloga Lair Levi Buarque, do Departamento de Psicologia da UFPE, detectou algumas fontes de dificuldade na aprendizagem de regras ortográficas. No trabalho, 79 crianças do Ensino Fundamental de escolas públicas e particulares do Recife escreveram um ditado de palavras reais e inventadas, no meio de frases, que exigiam o uso de r, rr, ç, s e outras letras consideradas difíceis. O aluno recebia um papel com frases incompletas. Os examinadores liam cada uma, ditavam as palavras faltantes e explicavam caso a caso as irregularidades que porventura as crianças encontrassem.
Quando comparadas com crianças que não tinham sido expostas a esse tipo de intervenção (escrever refletindo sobre a grafia das palavras), as pesquisadas demonstraram ampla superioridade no entendimento das regras. "O desafio maior do professor é elaborar situações didáticas que permitam à turma compreender as conexões entre a língua e a ortografia", aconselha Lucia. "Com alguma criatividade, é possível transformar esse ‘patinho feio’ que sempre foi a ortografia numa atividade prazerosa."
Os especialistas falam
"A aprendizagem da ortografia não é uma tarefa simples que a criança domina com a mera exposição à língua escrita, pois nem sempre o universo de palavras a que ela tem acesso permite abstrair os princípios da norma adequadamente" Lucia Lins Browne Rego, professora de Pós-Graduação em Psicologia da Universidade Federal de Pernambuco.
"Assim como não se espera que um indivíduo descubra sozinho as leis de trânsito - outro tipo de convenção social -, não há por que esperar que os alunos das nossas escolas descubram sozinhos a forma correta de grafar as palavras" Artur Gomes de Morais, professor de Pós-Graduação em Educação da Universidade Federal de Pernambuco e autor de livros didáticos
"Pesquisas mostram que, no desbravamento do campo da ortografia, as crianças empregam todos os meios que estiverem ao seu alcance para adquirir conhecimento. O professor deve acompanhar de perto esse processo"
Paulo Francisco Slomp, professor da Faculdade de Educação da Universidade Federal do Rio Grande do SulPsicogênese
O professor Paulo Francisco Slomp, do Departamento de Educação da Universidade Federal do Rio Grande do Sul, desenvolve desde 1996 um trabalho para averiguar se é possível falar em psicogênese (origem e evolução psíquica) da ortografia nas crianças, se existe um padrão no modo pelo qual um recém-alfabetizado encara as normas ortográficas e se há níveis de desenvolvimento cognitivo proporcionais à apropriação dessas normas.
"Uma forma muito comum de enfrentar uma dúvida na hora de escrever é não solucioná-la, substituindo a palavra que nos é difícil por um sinônimo", exemplifica Slomp. "Com isso, o problema imediato se resolve, mas chega um momento em que essa saída não é mais possível." Ele também lembra um hábito quase natural de decidir a grafia de certas palavras apresentando duas versões (pretenciosa/pretensiosa, por exemplo) para chamar a atenção para o contraste e obter, de memória, a grafia correta. "Desconheço a origem desse método de resolução, mas acredito que ele não provém de nenhuma teoria clássica sobre o conhecimento", relativiza Slomp, levantando uma questão para ser pensada por todo professor.
Teoria
A convenção que unifica a escrita das palavras em Língua Portuguesa exige algum esforço para ser compreendida. Observe abaixo os casos mais freqüentes, seguidos de exemplos práticos.
Regulares — São as palavras cuja grafia podemos prever e escrever, mesmo sem conhecê-las, porque existe um "princípio gerativo", regra que se aplica à maioria das palavras da nossa língua. As correspondências regulares podem ser de três tipos:
Diretas — Inclui a grafia de palavras com p, b, t, d, f e v (exemplo: pato, bode ou fivela). Não há outra letra competindo com elas, mas é comum a criança ter dificuldade para usá-las por causa do pouco conhecimento da pronúncia.
Contextuais — A "disputa" entre o r e o rr é o melhor exemplo desse tipo de correspondência. A grafia que devemos memorizar varia em função do som da letra. Por exemplo: para o som do "r forte", usamos r tanto no início da palavra (risada), como no começo de sílabas precedidas de consoante (genro). Quando o mesmo som de "r forte" aparece entre vogais, sabemos que temos que usar rr (carro, serrote). E, quando queremos registrar o outro som do r, que alguns chamam de "brando", usamos só um r, como em careca e braço. Essa variedade explica por que, a princípio, as crianças têm tanta dificuldade.
Morfológico-gramaticais — Nesse caso são os aspectos ligados à categoria gramatical da palavra que estabelecem a regra com base na qual ela será escrita. Por exemplo: adjetivos que indicam o lugar onde a pessoa nasceu se escrevem com esa (francesa, portuguesa), enquanto substantivos derivados se escrevem com eza (certeza, de certo; avareza, de avaro). Na maioria dos casos essas regras envolvem morfemas (partes internas que compõem a palavra), sobretudo sufixos que indicam a família gramatical.
Irregulares — Não há regras que ajudem o estudante a escrever corretamente. A única saída é memorizar a grafia ou recorrer ao dicionário. Elas se concentram principalmente na escrita:
• do som do s (seguro, cidade, auxílio);
• do som do j (girafa, jiló);
• do som do z (zebu, casa);
• do som do x (enxada, enchente);
• o emprego do h inicial (hora, harpa);
• a disputa entre e, i , o e u em sílabas átonas que não estão no final de palavras (seguro, tamborim);
• ditongos que têm pronúncia "reduzida" (caixa, madeira, vassoura etc.).
Texto adaptado do livro Ortografia: Ensinar e Aprender, de Artur Gomes de MoraisA língua é viva, muda sempre
A ortografia é uma invenção mais ou menos recente. Há 300 anos, línguas como o francês e o espanhol não tinham uma ortografia. No caso da nossa língua — o português —, as normas de escrita das palavras, tanto no Brasil como em Portugal, só surgiram no século XX. E vêm sendo reformuladas de tempos em tempos. Até a reforma ortográfica de 1940, escrevíamos "pharmácia", "rhinoceronte", "encyclopédia", "architetura" etc. Em 1971 tivemos uma minirreforma que eliminou os acentos diferenciais ("tôrre" virou "torre") e graves em palavras como "sòmente" e "fàcilmente".Quer saber mais?Artur Gomes de Morais, Centro de Educação da Universidade Federal de Pernambuco, Av. Acadêmico Hélio Ramos, s/nº, 50740-530, Recife, PE
Colégio Arbos, R. Sergipe, 300, 09770-080, São Bernardo do Campo, SP, tel. (0_ _11) 4330-2020
Lucia Lins Brown Rego, Secretaria da Educação do Estado de Pernambuco, R. Siqueira Campos, 304, 50010-010, Recife, PE
Paulo Francisco Slomp, Departamento de Educação da Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Av. Paulo Gama, s/nº, prédio 12201, sala 910, 90046-900, Porto Alegre, RS, internet: www.ufrgs.br/faced/slomp
BIBLIOGRAFIA
Além da Alfabetização, Ana Teberosky e Liliana Tolchinsky (orgs.), 295 págs., Ed. Ática, tel. (0_ _11) 3346-3001, 28 reais
O Aprendizado da Ortografia, Artur Gomes de Morais (org.), 139 págs., Autêntica Ed., tel. 0800-2831322, 22 reais
Ortografia: Ensinar e Aprender, Artur Gomes de Morais, 128 págs., Ed. Ática, 19,90 reais
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TUDO SOBREOs primeiros passos
O ensino da ortografia deve ter início assim que o estudante começa a entender o sistema de escrita alfabética - de preferência ainda na 1ª série. Isto é, quando tiver aprendido o valor sonoro das letras e já puder ler e escrever pequenos textos.
Segundo o professor Artur Gomes de Morais, do Centro de Educação da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), é preciso deixar bem claro para os alunos que todas as regras ortográficas são fruto de uma convenção social, de um acordo estabelecido pelos especialistas cujo objetivo é padronizar a escrita - e que, no mundo em que vivemos, quem não domina essa convenção é discriminado. "Por isso, não deixe a criança acreditar que vai aprender ‘na hora certa’. Desde os primeiros momentos é papel do professor ajudá-la a refletir sobre os erros ortográficos", afirma. "Só assim ela internaliza as regras, que, por serem aparentemente complexas, vão desafiá-la por toda a vida."
Morais alerta também para o fato de que o domínio da escrita alfabética nem sempre é homogêneo em cada sala de aula e que o número de erros num texto nunca deve ser usado como parâmetro de avaliação.
Durante a última década, o professor pernambucano pesquisou o tema em escolas espanholas e brasileiras sob a orientação da educadora argentina Ana Teberosky e percebeu que explorava um terreno árido em que coexistem falsas crenças, dúvidas, sentimentos de insegurança - e muito autoritarismo -, tanto por parte de quem ensina a língua escrita como de quem precisa usá-la na escola e fora dela. "Quem não cria oportunidades de reflexão sobre as dificuldades ortográficas do idioma não pode nunca exigir que o aluno escreva certo", ensina Morais em seus livros de formação.
Refletir sobre a escrita
Estudo realizado há cinco anos em Pernambuco sob a orientação da professora Lucia Lins Browne Rego e da psicóloga Lair Levi Buarque, do Departamento de Psicologia da UFPE, detectou algumas fontes de dificuldade na aprendizagem de regras ortográficas. No trabalho, 79 crianças do Ensino Fundamental de escolas públicas e particulares do Recife escreveram um ditado de palavras reais e inventadas, no meio de frases, que exigiam o uso de r, rr, ç, s e outras letras consideradas difíceis. O aluno recebia um papel com frases incompletas. Os examinadores liam cada uma, ditavam as palavras faltantes e explicavam caso a caso as irregularidades que porventura as crianças encontrassem.
Quando comparadas com crianças que não tinham sido expostas a esse tipo de intervenção (escrever refletindo sobre a grafia das palavras), as pesquisadas demonstraram ampla superioridade no entendimento das regras. "O desafio maior do professor é elaborar situações didáticas que permitam à turma compreender as conexões entre a língua e a ortografia", aconselha Lucia. "Com alguma criatividade, é possível transformar esse ‘patinho feio’ que sempre foi a ortografia numa atividade prazerosa."
Os especialistas falam
"A aprendizagem da ortografia não é uma tarefa simples que a criança domina com a mera exposição à língua escrita, pois nem sempre o universo de palavras a que ela tem acesso permite abstrair os princípios da norma adequadamente" Lucia Lins Browne Rego, professora de Pós-Graduação em Psicologia da Universidade Federal de Pernambuco.
"Assim como não se espera que um indivíduo descubra sozinho as leis de trânsito - outro tipo de convenção social -, não há por que esperar que os alunos das nossas escolas descubram sozinhos a forma correta de grafar as palavras" Artur Gomes de Morais, professor de Pós-Graduação em Educação da Universidade Federal de Pernambuco e autor de livros didáticos
"Pesquisas mostram que, no desbravamento do campo da ortografia, as crianças empregam todos os meios que estiverem ao seu alcance para adquirir conhecimento. O professor deve acompanhar de perto esse processo"
Paulo Francisco Slomp, professor da Faculdade de Educação da Universidade Federal do Rio Grande do Sul
Psicogênese "A aprendizagem da ortografia não é uma tarefa simples que a criança domina com a mera exposição à língua escrita, pois nem sempre o universo de palavras a que ela tem acesso permite abstrair os princípios da norma adequadamente" Lucia Lins Browne Rego, professora de Pós-Graduação em Psicologia da Universidade Federal de Pernambuco.
"Assim como não se espera que um indivíduo descubra sozinho as leis de trânsito - outro tipo de convenção social -, não há por que esperar que os alunos das nossas escolas descubram sozinhos a forma correta de grafar as palavras" Artur Gomes de Morais, professor de Pós-Graduação em Educação da Universidade Federal de Pernambuco e autor de livros didáticos
"Pesquisas mostram que, no desbravamento do campo da ortografia, as crianças empregam todos os meios que estiverem ao seu alcance para adquirir conhecimento. O professor deve acompanhar de perto esse processo"
Paulo Francisco Slomp, professor da Faculdade de Educação da Universidade Federal do Rio Grande do Sul
O professor Paulo Francisco Slomp, do Departamento de Educação da Universidade Federal do Rio Grande do Sul, desenvolve desde 1996 um trabalho para averiguar se é possível falar em psicogênese (origem e evolução psíquica) da ortografia nas crianças, se existe um padrão no modo pelo qual um recém-alfabetizado encara as normas ortográficas e se há níveis de desenvolvimento cognitivo proporcionais à apropriação dessas normas.
"Uma forma muito comum de enfrentar uma dúvida na hora de escrever é não solucioná-la, substituindo a palavra que nos é difícil por um sinônimo", exemplifica Slomp. "Com isso, o problema imediato se resolve, mas chega um momento em que essa saída não é mais possível." Ele também lembra um hábito quase natural de decidir a grafia de certas palavras apresentando duas versões (pretenciosa/pretensiosa, por exemplo) para chamar a atenção para o contraste e obter, de memória, a grafia correta. "Desconheço a origem desse método de resolução, mas acredito que ele não provém de nenhuma teoria clássica sobre o conhecimento", relativiza Slomp, levantando uma questão para ser pensada por todo professor.
Teoria
A convenção que unifica a escrita das palavras em Língua Portuguesa exige algum esforço para ser compreendida. Observe abaixo os casos mais freqüentes, seguidos de exemplos práticos.
Regulares — São as palavras cuja grafia podemos prever e escrever, mesmo sem conhecê-las, porque existe um "princípio gerativo", regra que se aplica à maioria das palavras da nossa língua. As correspondências regulares podem ser de três tipos:
Diretas — Inclui a grafia de palavras com p, b, t, d, f e v (exemplo: pato, bode ou fivela). Não há outra letra competindo com elas, mas é comum a criança ter dificuldade para usá-las por causa do pouco conhecimento da pronúncia.
Contextuais — A "disputa" entre o r e o rr é o melhor exemplo desse tipo de correspondência. A grafia que devemos memorizar varia em função do som da letra. Por exemplo: para o som do "r forte", usamos r tanto no início da palavra (risada), como no começo de sílabas precedidas de consoante (genro). Quando o mesmo som de "r forte" aparece entre vogais, sabemos que temos que usar rr (carro, serrote). E, quando queremos registrar o outro som do r, que alguns chamam de "brando", usamos só um r, como em careca e braço. Essa variedade explica por que, a princípio, as crianças têm tanta dificuldade.
Morfológico-gramaticais — Nesse caso são os aspectos ligados à categoria gramatical da palavra que estabelecem a regra com base na qual ela será escrita. Por exemplo: adjetivos que indicam o lugar onde a pessoa nasceu se escrevem com esa (francesa, portuguesa), enquanto substantivos derivados se escrevem com eza (certeza, de certo; avareza, de avaro). Na maioria dos casos essas regras envolvem morfemas (partes internas que compõem a palavra), sobretudo sufixos que indicam a família gramatical.
Irregulares — Não há regras que ajudem o estudante a escrever corretamente. A única saída é memorizar a grafia ou recorrer ao dicionário. Elas se concentram principalmente na escrita:
• do som do s (seguro, cidade, auxílio);
• do som do j (girafa, jiló);
• do som do z (zebu, casa);
• do som do x (enxada, enchente);
• o emprego do h inicial (hora, harpa);
• a disputa entre e, i , o e u em sílabas átonas que não estão no final de palavras (seguro, tamborim);
• ditongos que têm pronúncia "reduzida" (caixa, madeira, vassoura etc.).
Texto adaptado do livro Ortografia: Ensinar e Aprender, de Artur Gomes de Morais
A convenção que unifica a escrita das palavras em Língua Portuguesa exige algum esforço para ser compreendida. Observe abaixo os casos mais freqüentes, seguidos de exemplos práticos.
Regulares — São as palavras cuja grafia podemos prever e escrever, mesmo sem conhecê-las, porque existe um "princípio gerativo", regra que se aplica à maioria das palavras da nossa língua. As correspondências regulares podem ser de três tipos:
Diretas — Inclui a grafia de palavras com p, b, t, d, f e v (exemplo: pato, bode ou fivela). Não há outra letra competindo com elas, mas é comum a criança ter dificuldade para usá-las por causa do pouco conhecimento da pronúncia.
Contextuais — A "disputa" entre o r e o rr é o melhor exemplo desse tipo de correspondência. A grafia que devemos memorizar varia em função do som da letra. Por exemplo: para o som do "r forte", usamos r tanto no início da palavra (risada), como no começo de sílabas precedidas de consoante (genro). Quando o mesmo som de "r forte" aparece entre vogais, sabemos que temos que usar rr (carro, serrote). E, quando queremos registrar o outro som do r, que alguns chamam de "brando", usamos só um r, como em careca e braço. Essa variedade explica por que, a princípio, as crianças têm tanta dificuldade.
Morfológico-gramaticais — Nesse caso são os aspectos ligados à categoria gramatical da palavra que estabelecem a regra com base na qual ela será escrita. Por exemplo: adjetivos que indicam o lugar onde a pessoa nasceu se escrevem com esa (francesa, portuguesa), enquanto substantivos derivados se escrevem com eza (certeza, de certo; avareza, de avaro). Na maioria dos casos essas regras envolvem morfemas (partes internas que compõem a palavra), sobretudo sufixos que indicam a família gramatical.
Irregulares — Não há regras que ajudem o estudante a escrever corretamente. A única saída é memorizar a grafia ou recorrer ao dicionário. Elas se concentram principalmente na escrita:
• do som do s (seguro, cidade, auxílio);
• do som do j (girafa, jiló);
• do som do z (zebu, casa);
• do som do x (enxada, enchente);
• o emprego do h inicial (hora, harpa);
• a disputa entre e, i , o e u em sílabas átonas que não estão no final de palavras (seguro, tamborim);
• ditongos que têm pronúncia "reduzida" (caixa, madeira, vassoura etc.).
Texto adaptado do livro Ortografia: Ensinar e Aprender, de Artur Gomes de Morais
A língua é viva, muda sempre
A ortografia é uma invenção mais ou menos recente. Há 300 anos, línguas como o francês e o espanhol não tinham uma ortografia. No caso da nossa língua — o português —, as normas de escrita das palavras, tanto no Brasil como em Portugal, só surgiram no século XX. E vêm sendo reformuladas de tempos em tempos. Até a reforma ortográfica de 1940, escrevíamos "pharmácia", "rhinoceronte", "encyclopédia", "architetura" etc. Em 1971 tivemos uma minirreforma que eliminou os acentos diferenciais ("tôrre" virou "torre") e graves em palavras como "sòmente" e "fàcilmente".
A ortografia é uma invenção mais ou menos recente. Há 300 anos, línguas como o francês e o espanhol não tinham uma ortografia. No caso da nossa língua — o português —, as normas de escrita das palavras, tanto no Brasil como em Portugal, só surgiram no século XX. E vêm sendo reformuladas de tempos em tempos. Até a reforma ortográfica de 1940, escrevíamos "pharmácia", "rhinoceronte", "encyclopédia", "architetura" etc. Em 1971 tivemos uma minirreforma que eliminou os acentos diferenciais ("tôrre" virou "torre") e graves em palavras como "sòmente" e "fàcilmente".
Quer saber mais?
Artur Gomes de Morais, Centro de Educação da Universidade Federal de Pernambuco, Av. Acadêmico Hélio Ramos, s/nº, 50740-530, Recife, PE
Colégio Arbos, R. Sergipe, 300, 09770-080, São Bernardo do Campo, SP, tel. (0_ _11) 4330-2020
Lucia Lins Brown Rego, Secretaria da Educação do Estado de Pernambuco, R. Siqueira Campos, 304, 50010-010, Recife, PE
Paulo Francisco Slomp, Departamento de Educação da Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Av. Paulo Gama, s/nº, prédio 12201, sala 910, 90046-900, Porto Alegre, RS, internet: www.ufrgs.br/faced/slomp
BIBLIOGRAFIA
Além da Alfabetização, Ana Teberosky e Liliana Tolchinsky (orgs.), 295 págs., Ed. Ática, tel. (0_ _11) 3346-3001, 28 reais
O Aprendizado da Ortografia, Artur Gomes de Morais (org.), 139 págs., Autêntica Ed., tel. 0800-2831322, 22 reais
Ortografia: Ensinar e Aprender, Artur Gomes de Morais, 128 págs., Ed. Ática, 19,90 reais
Colégio Arbos, R. Sergipe, 300, 09770-080, São Bernardo do Campo, SP, tel. (0_ _11) 4330-2020
Lucia Lins Brown Rego, Secretaria da Educação do Estado de Pernambuco, R. Siqueira Campos, 304, 50010-010, Recife, PE
Paulo Francisco Slomp, Departamento de Educação da Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Av. Paulo Gama, s/nº, prédio 12201, sala 910, 90046-900, Porto Alegre, RS, internet: www.ufrgs.br/faced/slomp
BIBLIOGRAFIA
Além da Alfabetização, Ana Teberosky e Liliana Tolchinsky (orgs.), 295 págs., Ed. Ática, tel. (0_ _11) 3346-3001, 28 reais
O Aprendizado da Ortografia, Artur Gomes de Morais (org.), 139 págs., Autêntica Ed., tel. 0800-2831322, 22 reais
Ortografia: Ensinar e Aprender, Artur Gomes de Morais, 128 págs., Ed. Ática, 19,90 reais
TIPOS DE DITADOS
Os objetivos do ditado são: fixar conhecimentos, descobrir dificuldades, verificar o nível de escrita dos alunos, trabalhar ortografia, memorização e atenção. É uma prática bem antiga nas escolas, e que pode e deve ser usado na educação infantil. mas para evitar que se torne uma atividade monótona, devemos usar meios mais atrativos. Confira abaixo algumas sugestões para incrementar esta estratégia:
DITADO COM IMAGENS
O professor mostra gravuras ou objetos e as crianças escrevem a palavra.
Ou então mostra a palavra e eles fazem os desenhos.
DITADO COM DICAS
O professor dá as "dicas" para o aluno descobrir a palavra.
" É amarelo, redondo e ilumina a Terra". (Sol)
" É cheiroso e usamos para tomar banho".(sabonete)
Variação: os alunos dão as dicas para os colegas.
DITADO RELÂMPAGO
Este ditado visa principalmente ao treino das dificuldades ortográficas.
Mostrar a palavra numa ficha ou escrever no quadro.
O aluno lê a palavra.
O professor esconde a palavra e o aluno escreve a palavra.
Depois, o professor mostra a palavra.
AUTO DITADO
Os alunos escrevem uma lista de palavras que quiserem.
Eles gostam muito deste tipo de ditado e ao fazê-lo aumentam sua auto-confiança, procurando melhorar cada vez mais e errar menos.
DITADO DE MEMÓRIA VISUAL
O professor mostra uma gravura com desenhos de diversos objetos, animais, tipos de alimentos, frutas, etc.
É dado um tempo para os alunos memorizarem os objetos que constam na gravura.
Depois, o professor retira a gravura e os alunos procuram escrever os nomes dos objetos.
Quem escrever mais palavras será o campeão.
Variação: em vez de mostrar desenhos ou gravuras, o professor mostrará um grupo de palavras de treinos ortográficos estudados pelos alunos.
DITADO COCHICHO
O professor mostra a palavra numa ficha ou escreve no quadro.
Ele fala a palavra bem baixo, exagerando a sua articulação.
Os alunos lêem a palavra em voz alta.
Os alunos escrevem a palavra.
Depois, conferem se escreveram a palavra certa.
DITADO DESENHADO
Ler as palavras das fichinhas e fazer os desenhos correspondentes nos quadrinhos.
DITADO RECORTADO
Colar ou copiar no lugar certo das palavras correspondentes aos desenhos.
DITADO ADEDANHA
O professor sorteia uma letra do alfabeto.
Os alunos vão escrever nomes: animal, planta, objeto, etc.
DITADO DE BINGOO professor prepara as cartelas do bingo com as palavras.
Os alunos marcam com um X as palavras que forem sorteadas.
DITADO ENIGMÁTICO
Escrever somente a 1ª letra do desenho e descobrir as palavras.
EX: desenhos peteca, olho, rato, tartaruga, anel.
P O R T A
DITADO SURPRESA
Coloque alguns objetos dentro de uma caixinha bem bonita e passe durante a aula pela sala. As crianças vão tirando os objetos e escrevendo sua lista.
DITADO LACUNADO
O aluno recebe a cópia de um texto do qual foram retiradas algumas palavras. Sua tarefa é acompanhar a leitura do professor e completar as lacunas. A atividade permite ao professor selecionar os aspectos que pretende explorar, como palavras acentuadas, r ou rr, l ou u, s ou ss, por exemplo. Outra maneira de trabalhar com o ditado lacunado é envolver os alunos na seleção de palavras que eles considerem difíceis. Em geral essas palavras são aquelas em que há o emprego de letras rivais para uma mesma posição. Um grupo de alunos seleciona previamente as palavras que devem ser omitidas da cópia e dita o texto aos demais. Depois outro grupo realiza a tarefa.
DITADO EM DUPLAS
O professor seleciona um pequeno trecho que deverá ser ditado e organiza a turma em duplas heterogêneas, envolvendo os alunos com maior ou menor facilidade em ortografia. Quem tem maior dificuldade dita primeiro. Além de ditar, o aluno deve também acompanhar o que o colega está escrevendo e apontar os erros que for encontrando. Depois quem escreveu primeiro dita ao outro o mesmo texto. Isso permite que a criança com mais dificuldades possa obter melhores resultados e se encoraje para aceitar novos desafios.
JOGO DE DITADO
Há ainda uma outra variação interessante que permite trabalhar a articulação entre aumento da velocidade na escrita e redução de problemas ortográficos. O professor põe no quadro-negro várias cópias do texto a ser ditado. O aluno deve se dirigir ao local em que estão afixados os textos, memorizar um trecho, voltar à sua carteira e escrever a passagem. Vence quem escrever em menos tempo, com letra legível e menor número de erros.
DITADO COM ADIVINHAÇÕES
Você cria quadrinhas com características de determinados objetos, animais, os alunos tem que descobrir do que você está falando e escrever o nome.
Ex.: sou pequena, redonda e faça a alegria dos meninos. Sou a ______
DITADO MUSICAL
Coloca-se uma música para os alunos escutarem. No momento que ela pára, os alunos devem escrever a última palavra que ouviram. Uma variação: ter a letra da música com lacunas, depois de ouvir a música, escrever as palavras que faltam.
DITADO COMPLETANDO FRASES
A professora escreve uma frase incompleta e dá 2 ou 3 opções de palavras para que os alunos completem a frase. Essas palavras não são escritas. Ex.: A casa é__________. (pequena, amarela, bonita).
Pode aumentar o grau de dificuldade pedindo que completem a frase com duas palavras.
DITADO RELÂMPAGO DE FRASEA professora escreve uma frase e pede que leiam. Em seguida, apaga a frase e pede que escrevam.
JOGO DE DITADOHá ainda uma outra variação interessante que permite trabalhar a articulação entre aumento da velocidade na escrita e redução de problemas ortográficos. O professor põe no quadro-negro várias cópias do texto a ser ditado. O aluno deve se dirigir ao local em que estão afixados os textos, memorizar um trecho, voltar à sua carteira e escrever a passagem. Vence quem escrever em menos tempo, com letra legível e menor número de erros.
DITADO COM APOIO
Colocar um cartaz com as sílabas, acentos, r, s, n, m, l, u e vogais. Ao falar uma palavra, apontar para as sílabas da mesma. Em seguida as crianças escrevem a palavra ditada. Funciona como um “jogo da memória”.
Olá, Parabéns adorei seu blog, suas dicas são ótimas.
ResponderExcluirTenho apenas uma dica " tive muita dificuldade em ler por causa das cores das letras em relação ao plano de fundo!
Beijos fica a dica!