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SITES CONSULTADOS
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O LÚDICO NAS SÉRIES INICIAIS DO ENSINO FUNDAMENTAL
Izabel Cristina de Moura Sampaio*
Luciana Francisca Liotti Duarte**
Veralice Ângelo da Silva***
RESUMO
Este trabalho vem discutir a importância do lúdico nas séries iniciais, uma vez que os jogos e brincadeiras são excelentes instrumentos de mediação entre o prazer e a aprendizagem, já que o lúdico é eminentemente cultural. Analisa também a dificuldade dos professores das séries iniciais do ensino fundamental em utilizarem o desenvolvimento lúdico da criança nas atividades das experiências pedagógicas. Os professores afirmam que lhes faltam o conhecimento teórico para apoiar sua prática lúdica no cotidiano escolar. Essa postura exige mudanças nas atitudes pedagógicas, pois é fundamental trabalhar o lúdico na educação visando à formação de indivíduos capazes de cooperar, liderar, de viver em grupo e participarem ativamente do seu processo de aprendizagem. Os professores não utilizam as atividades lúdicas no processo ensino-aprendizagem, muitas vezes, alegando que geram distrações e consequentemente indisciplina.
Palavras chaves: Lúdico, Brincar, Brincadeira, Aprendizagem, Professor.
INTRODUÇÃO
Hoje o desafio de prender a atenção do aluno, que vive rodeado pela mídia e uma variedade de recursos tecnológicos, sem perder o foco que é a aprendizagem, exige do professor uma profunda reflexão sobre sua prática. Esse ofício sempre foi muito complexo, mas atualmente essa complexidade parece maior, pois além de trabalhar com alguns saberes, como no passado, tem que conviver com os avanços tecnológicos e a complexidade social atual. Vive-se um contexto onde o aluno, inserido numa sala de aula com quatro paredes, quadro, giz, carteiras dispostas uma atrás da outra, não aceita mais aquela aula em que o professor fala e ele escuta.
Esse professor, que hoje está na sala de aula, foi formado numa escola bancária que não permitiu questionar, criar, fazer, transformar. Ele é resultado de um processo educativo que ensinou o aluno a adaptar-se e acomodar-se, os conceitos lhe foram apresentados como verdades prontas, únicas e imutáveis, sua função era memorizar, imitar, plagiar. Não teve oportunidades de ter novas ideias, de fazer diferente, para entrar na sala de aula teve que se despir de suas experiências vividas, pois não foram concebidas como um saber significativo. Sempre atuou como espectador recebendo e aceitando conhecimento, sem jamais participar da sua construção, sem poder questionar ou argumentar. Sua visão foi fragmentada, sua leitura crítica abafada, sua individualidade negada, sua imaginação e criatividade tolhidas, seu conhecimento padronizado e estático.
Esse profissional, que é produto de uma educação dominadora, muitas vezes acredita que está pronto, acabado, que domina muito bem os conteúdos necessários para dar suas aulas com sucesso, sem perceber que o foco não é o conteúdo, mas o aluno. Não tem plena consciência que dá aos alunos respostas prontas, sem problematizar o conteúdo, sem criar situações que promovam a reflexão, sem permitir uma troca entre os colegas e o próprio professor. Não permite ao aluno interagir, colaborar, dirigir suas ações e sair da posição de espectador assumindo o papel de protagonista do seu processo de construção do conhecimento.
Paulo Freire faz uma crítica a essa educação dominadora que é contrária ao diálogo afirmando que nela:
O educador é o que educa; os educandos, os que são educados; o educador é o que sabe; os educandos, os que não sabem; o educador é o que pensa; os educandos, os pensados; o educador é o que diz a palavra; os educandos, os que a escutam docilmente; o educador é o que disciplina; os educandos, os disciplinados; o educador é o que opta e prescreve sua opção; os educandos os que seguem a prescrição; o educador é o que atua; os educandos, os que têm a ilusão de que atuam; o educador escolhe o conteúdo programático; os educandos se acomodam a ele; o educador identifica a autoridade do saber com sua autoridade funcional, que opõe antagonicamente à liberdade dos educandos; estes devem adaptar-se às determinações daquele; o educador, finalmente, é o sujeito do processo; os educandos, meros objetos. (Freire, 1983, p.68).
Vemos então que a escola e a educação são burladas nesse contexto de dominação, pois a escola visa à formação cidadã do sujeito fazendo o capaz de criticar, reivindicar, comprometer-se, participar e a educação é um processo contínuo que envolve o desenvolvimento integral do ser humano. O que se observa é que o professor é o profissional constituído nesse sistema repressor e autoritário e muitas vezes é usado para garantir os interesses e objetivos desse mesmo sistema, causando-lhe a sensação de impotência diante da confusão gerada para garantir a ideologia dominante. Em meio a toda essa turbulência ainda tem que enfrentar o desinteresse e indisciplina dos alunos em sala de aula. Apesar de conhecer a importância da ludicidade como recurso metodológico insiste em ignorá-la como ferramenta pedagógica, mas é comprovado que o lúdico deve ser usado como forma de transformação e libertação, sugerindo aqui sua inclusão na formação de professores.
O lúdico promove um estado de inteireza, de plenitude naquilo que se faz com prazer e pode estar presente em diferentes situações da vida. Segundo Feijó (1992 p. 61) “O lúdico é uma necessidade básica da personalidade, do corpo e da mente, faz parte das atividades essenciais da dinâmica humana”. Para aperfeiçoar sua prática o professor precisa descobrir e trabalhar o lúdico na sua história, resgatando os momentos lúdicos vividos em sua trajetória de vida. É muito difícil trabalhar com o lúdico especialmente para os que foram formados por uma escola que não comportou esse modelo. Por isso se ouve falar e se reconhece a importância do lúdico em sala de aula, mas pouco se faz, exatamente porque não é simples romper com experiências vividas ao longo de toda uma trajetória de vida e acadêmica. Viver a ludicidade em sala de aula, para esse professor, é conviver com o incerto, com o improvável, é deixar de ser protagonista para atuar com o grupo. Para quem não foi estimulado a viver momentos de inteireza e encontro consigo mesmo, a trabalhar a espontaneidade, a criatividade, a imaginação e a emoção se sente inseguro e sem direção.
A ludicidade precisa ser vista como algo imprescindível à necessidade do ser humano que facilita os processos de socialização, comunicação, expressão e construção do conhecimento. Apesar do lúdico ainda não fazer parte do currículo dos cursos de formação de professores tem se afirmado ser a ludicidade a alavanca da educação para o terceiro milênio. A formação lúdica deverá proporcionar aos futuros professores vivências lúdicas despertando a valorização da criatividade, sensibilidade, afetividade tornando a prática pedagógica prazerosa e dinamizadora. Se o professor na sua formação não foi sensibilizado a aprender com prazer, sua curiosidade não foi despertada pelo conhecimento, não lhe foi apresentado atividades dinâmicas e desafiadoras como poderá fazê-lo em sua prática pedagógica aquilo que não experimentou? A este respeito diz Santin (1994 p. 27) “O homem da ciência e da técnica perdeu a felicidade e a alegria de viver, perdeu a capacidade de brincar, perdeu a fertilidade da fantasia e da imaginação guiadas pelo impulso lúdico”.
Com uma formação lúdica o professor terá oportunidade de se conhecer, de saber quais são suas potencialidades, limitações, desenvolverá seu senso crítico, terá atitude de pesquisador. Por isso a necessidade de formar professores capazes de compreender os benefícios da ludicidade na sua formação pessoal e profissional considerando que não é uma atividade complementar as outras, mas sim uma atividade que auxilia na construção da identidade e da personalidade. Com a ludicidade se aprende a lidar e equilibrar as emoções, a criar um ambiente prazeroso estimulando a aprendizagem. Segundo Santo Agostinho (apud NEVES 2007) “O lúdico é eminentemente educativo no sentido em que constitui a força impulsora de nossa curiosidade a respeito do mundo e da vida, o principio de toda descoberta e toda criação”.
O professor deve se permitir viver o lúdico e buscar conhecimento teórico para através de experiências lúdicas obter informações sobre o brincar espontâneo e orientado.
BRINCAR, BRINQUEDO, JOGO
O lúdico tem sua origem na palavra latina “ludus” que quer dizer “jogo”, mas se ficasse limitado a sua origem referir-se-ia apenas ao jogar, brincar, movimentar, mas com a evolução semântica [1] da palavra hoje é definida como uma necessidade básica do ser humano. De maneira geral o lúdico refere-se à brincadeira e a questão simbólica envolvida nesse processo, faz parte das atividades essenciais da dinâmica humana, transcende o visível.
Através da atividade lúdica experimentam-se sensações de plenitude, que não se consegue exprimir por palavras, mas que se sente seu gozo pela fantasia, pelo faz de conta, pela imaginação, pelos sonhos. Sendo essa uma vivência subjetiva não será encontrada no que está pronto, pois este não permite a singularidade do sujeito em questão. O que importa na atividade lúdica, para a criança, é o momento vivido, pois este lhe proporciona momentos de encontro consigo mesmo e com o outro, momentos de fantasia e de realidade, momentos de significação, ressignificação e aprendizagem. É neste momento que a criança vive sua inteireza e sua autonomia num tempo e espaço só seu tomando maior consciência de si mesmo.
A ludicidade está presente em todas as fases do ser humano, dando sabor a sua existência e o lúdico é o ingrediente indispensável nas relações provocando a imaginação e a criatividade. Brincando a criança torna-se operativa, é desafiada a buscar soluções para situações imaginadas e vivenciadas estimulando sua inteligência e criatividade.
A criança está exposta ao meio em que vive e enfrenta uma realidade que muitas vezes está além dos seus recursos interiores. Neste mundo que frequentemente parece confuso para ela é preciso ter a possibilidade de se encontrar e aprender a lidar com as situações que se depara no cotidiano. Precisa de ajuda para organizar seus sentimentos, de meios para aliviar seu interior, para ressignificar suas experiências, para sentir conforto. Neste caso é necessário conhecer as fases de evolução da criança para possibilitar um desenvolvimento infantil adequado e prazeroso.
Por mais que se pesquise para compreender o ser humano e seu desenvolvimento sempre haverá possibilidade de incoerência, pois o homem é único e sua singularidade o faz, às vezes, estar fora de padrões pré-estabelecidos. O processo de desenvolvimento humano é gradual e contínuo e deve ser respeitado, pois cada um tem seu tempo próprio para avançar, progredir e mudar [2] . Todos os seres humanos passam pelas mesmas etapas do desenvolvimento infantil, no entanto, cada um em seu tempo próprio.
Dentro desse processo é que se deve conceber o brincar para a criança. Brincando ela se expressa, integra-se ao ambiente que a cerca, assimila valores, adquire comportamentos, desenvolve vários conhecimentos, exercita-se fisicamente e aprimora habilidades motoras. Na brincadeira a criança encontra equilíbrio entre o mundo real e o imaginário nutrindo seu interior, ressignificando o seu mundo.
No brincar o brinquedo é o objeto que representa aspectos da realidade que permite a criança reproduções do seu cotidiano, por isso deve ser significativo para ela e é importante que tenha pontos de contato com a sua realidade.
Aqui vale ressaltar que o brinquedo tradicional além de na maioria das vezes ser criado e confeccionado pela criança dentro de sua concepção infantil reproduz o aprendizado adquirido das gerações que a precederam, ou seja, sua cultura. Enquanto que o brinquedo industrializado é projetado para a criança pelo adulto de acordo com sua concepção e interesses tolhendo a liberdade criadora da infância.
O brinquedo é importante para a criança, pois media entre a realidade adulta e a infantil diminuindo o choque entre seu mundo e o mundo adulto suavizando seus conflitos. A criança deve ter liberdade para explorar o brinquedo, não deve ser interrompida no seu processo de simbolização. Segundo Vygotsky (1998 apud Azevedo 2008) “As maiores aquisições de uma criança são conseguidas no brinquedo, aquisições que no futuro tornar-se-ão seu nível básico de ação real e moralidade”.
O brinquedo simboliza as oportunidades de expansão da criatividade da criança. Costuma-se definir símbolo como imagem, sinal ou objeto que expressa ou interpreta algo ou alguém. A capacidade simbólica está relacionada com o desenvolvimento da memória, atenção, percepção e pensamento. O simbolismo resulta da necessidade do homem representar a realidade com a qual se depara. No mundo infantil o simbólico é mais uma tentativa de representação da realidade do que de imaginação. Brincar para a criança não é passa tempo é forma de integrar-se e interagir com o mundo adulto. O brinquedo é um convite ao brincar, porque facilita e enriquece a brincadeira, proporcionando desafio e motivação.
Quando as descobertas em relação ao brinquedo se esgotam, logo o interesse por ele também. É necessário adequar o brinquedo ao perfil, à idade e às necessidades da criança, tornando assim, o brinquedo mais atraente e importante para o seu desenvolvimento.
A interação jogo-criança faz com que ela desenvolva sua personalidade. O afetivo e o cognitivo juntos deixam claro que o brinquedo possui um aspecto evolutivo que favorece a adaptação da criança a realidade. Enquanto o brinquedo é livre, espontâneo, prazeroso o jogo exige normas, regras, tempo determinado de atuação.
É importante notar que diferente do brinquedo o jogo é direcionado e nesse sentido deve ser supervisionado por um adulto.
Brincar, jogar tem fundamental importância no desenvolvimento infantil. Acompanha a criança em todas as fases do seu crescimento adquirindo diferentes características em cada uma delas. Mas brincar é mais importante que jogar, pois a brincadeira é uma linguagem natural da criança enquanto que o jogo possui uma estrutura, regras, limites. O jogo não é característica hegemônica na infância, mas sim um fator no desenvolvimento.
INFÂNCIA/ FAMÍLIA
A infância nem sempre foi concebida como é atualmente. Na Idade Média quando não precisava mais de cuidados constantes a criança passava a conviver com os adultos em suas reuniões, festas e executava as mesmas atividades que os mais velhos, era considerada um adulto em miniatura. Nenhum cuidado lhe era atribuído o que tornava sua sobrevivência difícil. Como era pequena e frágil não tinha muita importância, porque podia desaparecer, ou seja, a morte de criança é encarada como algo natural. Naquela época os trabalhos domésticos eram considerados meios para educar e a partir dos sete anos de idade as crianças, independente da classe social, eram enviadas às casas de famílias estranhas para aprenderem afazeres domésticos como forma de educação.
Com o passar do tempo surge no meio familiar a “paparicação”. A criança com sua graça torna-se uma forma de distração para os adultos. Além da família também a igreja passa a considerar a criança e a se conscientizar que ela frágil e inocente, começam a concebê-la como criaturas de Deus e não aceitam mais a ideia de que são brinquedos encantadores.
No século XVIII a família mais consciente das necessidades e fragilidades da criança passa a se preocupar também com sua higiene e saúde física. Com o surgimento do sentimento de infância a criança se tornou o centro das atenções e as escolas foram multiplicadas com a finalidade de manter as crianças próximas do lar. Durante muito tempo as escolas foram destinadas a instrução dos clérigos, jovens e velhos era comum encontrar todos, adultos e anciãos, reunidos numa mesma turma com as crianças. Apesar das indiferenças com a infância nos séculos XVI e XVII a escola começa a se dedicar à educação e a formação, inspirando-se em elementos da psicologia.
A partir do século XVIII a família rompe com antigas formas de educação e cria novos meios para ficarem mais próximas de suas crianças. Mas no mundo atual que passa por grandes transformações há a necessidade de interagir com os avanços e as novidades advindas da globalização. Nesse novo contexto a família está envolvida com a televisão, com os brinquedos eletrônicos, virtuais e as brincadeiras entre pais e filhos foram substituídas pelos encantamentos do mundo moderno. Com a televisão a imaginação é desestimulada, pois tudo está pronto a criança fica condicionada não cria apenas copia. E com a agitação do dia a dia os pais não tem tempo e nem paciência com os filhos bombardeando-os com os mais variados tipos de brinquedos que o mercado oferece. Os brinquedos por não possuírem contato com o mundo real da criança são logo esquecidos, não têm valor para ela.
Os pais não entendem, mas estão negligenciando a infância de seu filho quando o priva do direito de brincar e preenchem seu tempo com muitos compromissos. Não percebem que brincar é indispensável para a saúde física, emocional e intelectual de seu filho, que brincar não é passa tempo, mas sim uma forma de interagir com o mundo adulto proporcionando lhe desafios e motivação.
É necessário ver a criança como um ser em desenvolvimento e não como tabula rasa onde se deposita todo tipo de informação de uma só vez. A criança precisa de interações lúdicas para amadurecer seu emocional e construir sua sociabilidade infantil é nesses momentos mágicos que exercita sua capacidade de observar, de atenção e concentração.
Poucas pessoas têm noção da importância da brincadeira para o desenvolvimento integral da criança, acham que o brincar é um passa tempo sem função que só serve para entreter, divertir. O que é grave, pois não percebem que o ato de brincar, seja só ou em grupo, favorece a aquisição de alguns princípios da vida como: colaboração, partilha, liderança, aceitação de regras e também desenvolve a linguagem e habilidades motoras.
Os pais na maioria das vezes, numa atitude de proteger, oferecem tudo pronto à criança impedindo que ela descubra e perceba por si mesma como é o mundo ao seu redor e teste suas habilidades. É necessário proporcionar à criança situações onde possa extravasar seu potencial, se auto-expressar, libertar seus sentimentos e descontentamentos.
A EDUCAÇÃO BRASILEIRA
A história da educação no Brasil se inicia com a chegada dos padres jesuítas que se dedicaram a pregação da fé católica e a implantação de uma educação baseada no modelo europeu da época, ou seja, rígida e centralizadora. As escolas eram regulamentadas por um documento chamado Ratio Studiorum, restringiam-se a classe dominante e tinham como característica serem enérgicas e contra o pensamento crítico. Ensinavam as primeiras letras e com o passar do tempo surgiram os cursos secundários e o curso superior de teologia para formação de sacerdotes e os que pretendiam seguir outras profissões iam estudar na Europa.
Com a expulsão dos jesuítas pelo Marques de Pombal duzentos e dez anos de um modelo educacional, implantado e consolidado, foi abandonado e os efeitos logo foram sentidos. A situação da educação no Brasil se tornou caótica os professores eram improvisados, mal preparados e mal pagos. Nenhum outro sistema foi organizado satisfatoriamente para dar continuidade ao trabalho educacional dos jesuítas. Esse período de estagnação foi sofrer algumas mudanças com a chegada da família real em 1808.
De lá para cá uma pluralidade de formas e métodos foram surgindo na história da educação de acordo com as necessidades vivenciadas em dado momento histórico. Antes a Igreja Católica detinha o poder, o que reinava era o teocentrismo. Com a modernidade a igreja perde sua hegemonia, outros credos surgem e também novos paradigmas, o teocentrismo sai de cena e a razão é a nova protagonista. Nesse novo contexto surge René Descartes com os quatro preceitos metodológicos: racionalismo, fragmentação da ciência, dualismo entre corpo e razão, mecanicismo na relação com a natureza. Sua visão causou grande desenvolvimento cientifico, mas com relação ao homem deixou uma imagem reducionista.
Assim como Descartes contribui para uma mudança radical de paradigmas no campo cientifico na Europa, no Brasil, no campo da educação, temos Anísio Teixeira que revolucionou a concepção de mundo que aqui reinava: a medieval; apesar das influências que se vivenciava, em nosso contexto, do positivismo. Através das contribuições de Anísio Teixeira foi possível um rompimento com a educação tradicional para uma educação onde o aluno tem oportunidade de participar do processo educativo. Mas será duramente criticado na década de 80 pela Pedagogia Histórico-Crítica porque desconsiderou os determinantes da luta de classes sobre a educação escolar [3] .
Piaget foi um biólogo suíço que se preocupou em analisar a formação e o desenvolvimento dos processos cognitivos usando um método chamado método clínico. Sua teoria explica que pela tendência biológica o ser humano desenvolve mecanismos de adaptação que chamou de assimilação e acomodação, onde na assimilação o sujeito elabora uma leitura do objeto e na acomodação essa elaboração é processada com as anteriores resultando numa releitura.
Vygotsky é psicólogo russo sua teoria é quanto mais o homem aprende mais se desenvolve e para ele a aprendizagem se dá nas relações humanas. Organizou os conceitos zona de desenvolvimento proximal e nível de desenvolvimento potencial. A zona de desenvolvimento proximal é a capacidade, que o sujeito possui, de resolver um problema sem ajuda e o nível potencial é a capacidade que o sujeito tem de aprender, mas precisa ainda da orientação de um adulto ou a ajuda de um companheiro.
Piaget e Vygotsky proporcionaram grandes contribuições no processo ensino aprendizagem, sendo que Piaget dá atenção ao sujeito na interação com o meio e Vygotsky destaca o meio social na medida em que influencia este sujeito.
Nossa reflexão sobre a educação brasileira chega a Paulo Freire pedagogo da atualidade, mundialmente conhecido e respeitado é defensor da educação popular. Nomeia o modelo tradicional de educação de “educação bancária” que em sua visão o professor, detentor do conhecimento, deposita conteúdos na cabeça de seus alunos como se estivesse fazendo depósito em banco. Nessa prática o professor apresenta as verdades como imutáveis, prontas, estáticas. A educação bancária também é denominada, por ele, de educação da dominação, pois é rígida e não promove o pensamento crítico.
Paulo Freire defende uma educação reflexiva, problematizadora, emancipadora, que ajude cada um ser sujeito de sua própria história. Em seus escritos ele usa a expressão “ser mais” para dizer que há a possibilidade do homem deixar de ser coisa para se humanizar. Também afirma que o conhecimento deve partir da realidade concreta do aluno e este deve reconhecer seu caráter histórico e transformador [5] . E defende que o homem deve entender sua vocação ontológica para ter consciência do seu contexto e do seu tempo na relação dialética com a realidade, pois só assim terá criticidade para aprofundar seus conhecimentos e tomar atitudes no enfrentamento da realidade.
Na educação libertadora, de Paulo Freire, se abomina a dominação do educador sobre o educando. Sua ação educativa é horizontal onde há uma troca entre educando e educador propiciando a ambos a oportunidade de aprofundar seus conhecimentos em torno de um mesmo objeto para poder intervir sobre o mesmo. Quanto mais se discute o conhecimento frente à realidade, mais o aluno se sente desafiado a buscar respostas e mais terá uma consciência crítica e transformadora, ou seja, se faz sujeito de seu próprio processo.
Para Paulo Freire o ser humano é um ser curioso por natureza e diz que é a curiosidade que impulsiona o homem a sair de si mesmo, em busca do novo, de aventuras, de descobertas. Para ele a curiosidade é uma característica que transforma o homem em um ser indagador, fazendo o sair da condição de espectador para se tornar protagonista. E não aceita mais só assistir quer participar também do mundo para transformá-lo e se transformar.
Também encontramos o lúdico nas tendências educacionais citadas. Anísio Teixeira e Paulo Freire, cada um com sua leitura de educação, lutaram por uma educação transformadora, onde a inteireza do sujeito fosse respeitada. Contemplaram um fazer pedagógico prazeroso e participativo.
Piaget fala do jogo simbólico e da sua condição para o desenvolvimento infantil, pois através dele a criança pode transformar a realidade. Para ele “...a atividade lúdica é o berço obrigatório das atividades intelectuais da criança, sendo, por isso, indispensável à prática educativa”. (Aguiar, 1977 p. 58) [6] .
Vygotsky fala do faz de conta “...a brincadeira cria para as crianças uma zona de desenvolvimento proximal que não é outra coisa senão a distância entre o nível atual de desenvolvimento, determinado pela capacidade de resolver independentemente um problema, e o nível de desenvolvimento potencial, determinado através da resolução de um problema, sob a orientação de um adulto, ou de um companheiro mais capaz”. Segundo ele “As maiores aquisições de uma criança são conseguidas no brinquedo, aquisições que no futuro tornar-se-ão seu nível básico de ação real e moralidade” [7] . (Vygotsky, 1998)
CONSIDERAÇÕES
Como já observado o lúdico provoca um estado de inteireza no ser humano, a criança necessita da ludicidade para se tornar um adulto pleno. As reflexões realizadas até aqui é para tentar entender: Por que os professores das séries iniciais do ensino fundamental não aceitam o lúdico no processo de ensino aprendizagem? Por que insistem em ignorá-lo não se beneficiando e beneficiando seus alunos com essa ferramenta humanizadora?
Quando tentamos compreender essa dificuldade percebemos que a formação acadêmica do professor gira em torno de questões epistemológicas e metodológicas negligenciando o aspecto ontológico que também deve ser priorizado, pois os sentimentos e a leitura de mundo desse profissional vão estar intrinsecamente na sua prática pedagógica. É sabido que o lúdico faz parte da dinâmica humana, portanto é importante que o professor descubra e trabalhe sua dimensão lúdica para dar vida a sua prática pedagógica, ou seja, ter uma prática que torne o ato de aprender um prazer.
O que se percebe é que no espaço acadêmico a ludicidade ainda não foi compreendida como uma dimensão importante que deve fazer parte do currículo. Não tendo embasamento teórico que permita ao professor compreender a ludicidade como fator essencial ao desenvolvimento humano as atividades artísticas e recreativas só são usadas em sala de aula quando nada foi planejado ou como prêmio.
Diante da constatação da negação lúdica na formação dos professores vale também questionar: Por que incluir a dimensão lúdica nos currículos de Pedagogia? Como negar a ludicidade na formação do professor se ela está ligada ao lado humano e ontológico do mesmo?
A má formação do professor, se assim podemos dizer, está relacionada às tendências pedagógicas vivenciadas até o momento atual. Por exemplo, na tendência tradicional o aluno é preparado para assumir papéis na sociedade, o conhecimento garante ascensão social, usa-se como método a exposição verbal, memorização, tem uma posição autoritária, o professor é detentor do saber. Na tendência escola nova defende-se a ideia de educação para todas as camadas da sociedade, o professor é visto como um facilitador do ensino e sua autoridade é disfarçada, o aluno deve aprender fazendo e experimentando, a posição da escola é democrática. Na tendência tecnicista a escola assume o modelo empresarial, há a fragmentação do conhecimento em áreas especificas, o método utilizado é a instrução programada, o professor é visto como técnico da educação, vivemos uma sociedade sem escola. E a tendência crítica é a que predomina hoje e que concebe os conteúdos como indissociáveis da realidade, são culturais e universais, que devem ser ressignificados pelo aluno, assimilados e não decorados, nesse novo contexto o papel do professor é de mediador.
Apesar da tendência crítica em nossa sociedade escolar ainda vivencia-se uma educação em que o aluno recebe passivamente o conhecimento como se fosse um depositário. Essa postura afeta a credibilidade do aluno em sua potencialidade, acomoda o conhecimento sem a opção de transformá-lo.
É dentro de uma busca pela mudança na finalidade da educação que se questiona a formação do professor, pois esse como ator social não deve se adaptar a realidade social, mas sim transformá-la. Com sua prática deve provocar em seus alunos o ato criador e recriador, crítico, aguçar a sensibilidade, a curiosidade, a vontade de aprender e a alegria de viver.
O ato de educar não deve se basear ao repassamento de informações, se o professor traz o conceito pronto, acabado não dá ao aluno a possibilidade de perceber e fazer diferente. Pois conceituar é dizer o que é, logo são fechadas todas as possibilidades do aluno questionar e buscar caminhos diferentes, porque o conceito foi entregue pronto, acabado e não lhe foi permitido criar, transformar, fazer de outra maneira.
É necessário pensar a importância do conhecimento lúdico no processo de formação do professor, pois ele facilita à aprendizagem, o desenvolvimento pessoal e social, a construção e assimilação do conhecimento, a comunicação, a expressão, a criatividade. O lúdico é uma necessidade humana e não deve se encarada como uma diversão qualquer.
Alguns professores têm consciência da importância de se trabalhar com o lúdico, mas sentem que lhes falta base teórica sobre o assunto. E apesar de ser comprovado e reconhecido o valor das atividades lúdicas no processo educativo verifica-se, de maneira geral, que é insignificante a ênfase dada pelas universidades do nosso país a esse assunto. Ainda não há nas universidades brasileiras uma disciplina que trate especificamente do lúdico. Isso significa uma falha, pois se a ludicidade é despertada no adulto, uma vez conhecendo e experimentando tal ação será mais fácil usá-la em sua prática com seus alunos.
Reafirma-se que é urgente priorizar ao aspecto ontológico na formação acadêmica dos professores, pois senão teremos que olhá-los e dizer:
“Ninguém te sacudiu pelos ombros quando ainda era tempo. Agora a argila de que és feito já secou e endureceu e nada mais poderá despertar em ti o místico adormecido ou o poeta, ou o astrônomo que talvez te habitassem...” (SAINT-EXUPÉRY 1992, p. 95)
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Fiquei feliz em ver nosso trabalho citado em seu Blog.
ResponderExcluirParabéns!
Izabel C. Moura Sampaio