A IMPORTÂNCIA DA LEITURA NA EDUCAÇÃO INFANTIL E SÉRIES INICIAIS COMO INSTRUMENTO DE INFORMAÇÃO,
APRENDIZAGEM E LAZER.
1 INTRODUÇÃO
As exigências educativas da sociedade contemporânea são crescentes e estão relacionadas às diferente dimensões da vida das pessoas: ao trabalho, à participação social e política, à vida familiar e comunitária, às oportunidades de lazer e desenvolvimento cultural.
O mundo passa atualmente por uma revolução tecnológica que está alterando profundamente as formas de trabalho e de interação, onde, numa economia cada vez mais globalizada, a competitividade desponta como necessária à susbsistência humana. No afã de auto-superar o homem moderno terminou o século XX em desarmonia consigo mesmo, sem reflexão crítica sobre as suas reais necessidades, as quais deveriam permear o próximo milênio.
Sobre este prisma, torna-se oportuna a discussão sobre as formas de lidar com os novos tempos e, portanto, emergir o discurso sobre a qualidade de ensino nas escola, atentando para a ascensão no nível de educação de toda população e detectando os fatores que possam atender às novas exigências educativas que a própria vida cotidiana impõe de maneira crescente no meio social.
Neste sentido, um dos instrumentos imprescindíveis para uma formação geral e que possibilite cidadãos críticos, autônomos e atuantes, nesta sociedade em constante mutação, seria a prática de leituras variadas que promovam, de maneira direta ou indireta, uma reflexão sobre o contexto social em que estão inseridas, uma vez que o movimento dialético da leitura deve inserir o leitor na história deste milênio e o constituir como agente produtor de seu próprio futuro.
O exercício da leitura, tal qual se encontra atualmente legitimado nas escolas, não vai além de mera decodificação de signos gráficos, os quais são permeados de fragmentos de livros didáticos, para não fugir à regra imposta coativamente ao longos dos tempos da história do ensino em nosso país, servindo como fonte de disseminação de uma ideologia, a ideologia que vai ao encontro dos interesse dos detentores do poder: a massificação e formatação do conhecimento humano.
Tal postura transforma o ato de ler enfadonho, acrítico, mecânico e, dessa forma, distante de uma categoria que una o ato de ler ao prazer, que permita a leitura como fonte de lazer.
As fracas experiências com a leitura afasta o leitor do contexto social e cultural, faz com que desconheça o que de mais profundo o homem pensou e escreveu sobre si, alienando-se das informações e, conseqüententemente obsta sua participação ativa e efetiva na sociedade em que está inserido.
Por esta perspectiva, obvia-se a necessidade da formação de leitores, pois percebe-se que sua participação no contexto social depende de sua visão de mundo, de seus valores, de seus conhecimentos, de sua reflexão e visão crítica, enfim, da leitura como instrumento do conhecimento.
Diante dos impasses tecnológicos e culturais do final do milênio, a Escola se revela como uma das instituições mais ameaçadas pelos novos rumos da sociedade. Espaço privilegiado do saber, a Escola mantém a escrita da palavra como texto básico no ensino, embora o mundo das imagens virtuais já faça parte da realidade de muitos alunos.
A velocidade das novas linguagens invadiram o cotidiano, atropelando o ritmo harmônico do aprendizado, e ao pretender uma atualização, a Escola assimila o novo sem a devida reflexão. Ou seja, persiste num ritmo de leitura pouco apropriado à formação do pensamento crítico, com as informações e novidades sendo incorporadas de maneira aleatória, sem uma visão científica necessária para a construção do conhecimento.
Na pressa de estar em sintonia com as inovações, a Escola desconsidera o processo formador de aprendizagem, limitando-se a investir na circulação de imagens e deixando de observar a qualidade dos textos que oferece a seus alunos como fonte de leitura, promovido no seu espaço. Priorizando a substituição do conhecimentos por informação, a Escola se descompassa e, sem formar leitores críticos ou incutir o hábito da leitura, prepara mal o cidadão que escreverá o “texto futuro”, que escreverá e perpetuará a nossa história.
Nesta perspectiva, o exercício da leitura transcende, em muito, a utilização de materiais, muitas vezes empregados como modismos em sala de aula. A formação do leitor impõe-se como prioridade a ser seguida, pressupondo a figura do professor como interlocutor ativo no diálogo da leitura, a fim de instigar e promover leitores que estejam à procura de respostas às suas próprias indagações e a desconfiar dos sentidos das letras impostas por textos insignificantes para, desta forma, encontrar nos livros, a fonte de sua sabedoria e inspiração, resgatando a história do conhecimento, tão necessária nos novos tempos, em que as mudanças são rápidas e atropelam o próprio “saber humano”.
O desafio se encontra na necessidade da busca e implementação de mecanismos que propiciem a atração pela leitura na mais tenra idade, na fase da infância, em que a criança está descobrindo seu microcosmo, seu mundo, está despertando para a realidade subjacente e tentando participar desta realidade com suas novas fantasias e descobertas.
Oportuno citar o que, já no século XVII, afirmava o filósofo John Locke:
“(...) deve ser dado à criança algum livro fácil e agradável, adequado à sua capacidade, a fim de que o entretenimento que ela busca a motive e recompense.”
A Escola insere-se neste contexto como instrumento hábil a implementar a leitura na Educação Infantil e Séries Iniciais, motivando os jovens leitores através de uma mudança de concepção, ou seja, transformando a leitura como algo agradável, fonte não apenas de informação, mas principalmente de lazer.
É o que se pretende ao longo deste trabalho monográfico de pesquisa bibliográfica, através da escrita demonstrar aos leitores a relevância do educador na formação de novos leitores, numa concepção de que, sem rupturas no processo ensino-aprendizagem, a leitura pode ser empregada como mecanismo de lazer, cultura e formação.
2 A LEITURA
“A leitura é sempre apropriação, invenção, produção de significados. (...) Apreendido pela leitura, o texto não tem de modo algum – ou ao menos totalmente - o sentido que lhe atribui seu autor, seu editor ou seus comentadores. Toda história da leitura supõe, em seu princípio, esta liberdade do leitor que desloca e subverte aquilo que o livro lhe pretende impor.”
2.1 Origem e Importância da Leitura
Desde os primórdios da civilização o homem busca habilidades que lhe tornem mais útil a vida em sociedade e que lhe possam tornar mais feliz. A criação de mecanismos que possibilitassem a disseminação de seu conhecimento tornava-se um imperativo de saber/poder, que ensejava respeito e admiração pelos companheiros de tribo.
Daí o surgimento das inscrições rupestres, simbologia, posteriormente e num estágio mais avançado das civilizações, os hieróglifos e as esculturas que denotavam sua própria e mais nobre conquista: a conquista de ser.
Nesse contexto surge a escrita e a leitura como imanentes à própria história da civilização.
A criação dessa disponibilidade, que chamamos escrita e leitura, cria outras disponibilidades, pois ela é a básica, dela provém as demais. Através da leitura e da escrita o homem conseguiu estreitar os laços de afetividade com seus semelhantes, harmonizar os interesses, resolver os seus conflitos e se organizar num estágio atual da civilização, com a abstração a que nominamos “Estado”. O homem se organizou politicamente.
Mas voltando-nos ao campo do conhecimento humano, que é o que por ora nos interessa, o mito poético que sempre embalou o homem, a fantasia dos deuses, descortinaram as portas do saber, originando a busca da informação, do saber humano, do seu prazer.
Com o desenvolvimento da linguagem, a força das mensagens humanas aperfeiçoou-se a tal ponto ser imprescindível à sua própria existência. A busca do conhecimento tornou-se imperativa para novas conquistas e para o estabelecimento do homem como ser social, como centro de convergência de todos os outros interesses.
Na busca desse conhecimento, que se perpetua ao longo da história da civilização, percebe-se que quanto mais cedo o homem iniciar, mais cedo germinará bons f resultados. Ou seja, a infância como uma fase especial de evolução e formação do ser, deve despertar-lhe para este mundo, o mundo da simbologia, o mundo da leitura.
No dizer de Bárbara Vasconcelos de Carvalho:
“O conto infantil é uma chave mágica que abre as portas da inteligência e da sensibilidade da criança, para sua formação integral. O que fez andersen o grande escritor universal e imortal foram as estórias ouvidas quando criança.”
Por outras palavras, a imaginação humana é imperiosa para a construção do conhecimento, e conhecimento também é arte, daí a importância da Educação Infantil para enriquecer essa imaginação da criança, oferecendo-lhe condições de liberação saudável, ensinando-lhe a libertar-se no plano metafísico, pelo espírito, levando-a a usar o raciocínio e a cultivar a liberdade e o hábito da leitura.
Nessa caminhada na construção do conhecimento humano, não é de se olvidar a relatividade da importância dos livros didáticos, muitas vezes o único acesso disponível para a maioria do público infantil, sobre o que passaremos a discorrer nas próximas linhas.
2.2 Escola e Leitura
No que se refere à Escola e aos objetivos da leitura ou ao “Para que ler na escola?”, pode-se afirmar que ainda não existe nos currículos conhecidos e analisados, uma concretização de um pressuposto geral básico, qual seja, o da articulação entre a função social da leitura e o papel da escola na formação do leitor. Se dimensionarmos essa função social como sendo a necessidade do conhecimento e a apropriação de bens culturais, a leitura funciona, em certa medida, um meio e não um fim em si mesma. Daí a importância do papel da escola em relação à leitura, que é o de oferecer aos alunos mecanismos e situações em que eles “aprendam a ler e, lendo, aprendam algo”.
Oportuna a citação:
“ A escola precisa ser um espaço mais amplamente aberto a todos os aspectos culturais do povo, e ir além do ensinar a ler e a fazer as quatro operações. Precisa investir em bons livros, considerando que a cultura de um povo se fortalece muito pelo prazer da leitura; e a escola representa a única oportunidade de ler que muitas crianças têm. É necessário propiciar nas salas de aula e na biblioteca a dinamização da cultura viva, diversificada e criativa, que representa o conjunto de formas de pensar, agir e sentir do povo brasileiro.” (BRAGA,1985,P.7)
O conceito básico de leitura, nesse contexto, passa ser então a “produção de sentido”. Essa produção de sentido, por consegüinte, é determinada pelas condições socioculturais do leitor, com os seus objetivos, seus conhecimentos de mundo e de língua, que lhe possibilitarão a leitura.
Nesse sentido, a construção do conhecimento, segundo entendimento de alguns autores como elemento principal, se efetivará pelo hábito da leitura, uma vez inserida e enfatizada no contexto escolar. Afinal, é principalmente através da leitura que os alunos poderão encontrar respostas aos seus questionamentos, dúvidas e indagações, mormente no que concerne aos caminhos por onde permeiam na construção do seu conhecimento, e não apenas vinculados e adstritos a uma metodologia tradicional.
“Com as palavras não aprendemos senão palavras; antes, o som e o ruído das palavras, porque, se o que não é sinal não pode ser palavra, não sei também como possa ser palavra, aquilo que ouvi pronunciado como palavra enquanto não lhe conhecer o significado. Só depois de conhecer as coisas se consegue, portanto, o conhecimento completo das palavras.”
(Sto. Agostinho: De Magistro)
Como já salientado em outras linhas, as exigências educativas da sociedade contemporânea são crescentes e estão relacionadas às diferentes dimensões da vida das pessoas: ao trabalho, à participação social e política, à vida familiar e comunitária, às oportunidades de lazer e desenvolvimento cultural, dentre outros aspectos.
O mundo, atual passa por uma revolução tecnológica que está alterando profundamente as formas de trabalho e de interação entre as pessoas e as entidades, num contexto cada vez mais globalizado.
Em sua constante e ansiosa busca de auto superação, o homem moderno fecha o século XX em desarmonia com o tempo de reflexão e da crítica que, numa nova concepção humanista, deveriam permear o momento contemporâneo em que vivemos, considerado por muitos como conditio sine qua nom para o desenvolvimento.
Sob esse prisma, torna-se salutar discutir as diferentes formas de lidar com esses “novos tempos” e, dentro deste contexto, encontra-se inserido de maneira inarredável, a necessidade de se fazer emergir a discussão sobre a qualidade de ensino nas escolas, atentando para a ascenção no nível de educação de toda a população, em especial da Educação Infantil e Séries Iniciais em razão de sua importância na formação inicial do futuro cidadão, o qual, cônscio de seus direitos e obrigações, participará de maneira efetiva do “pacto social”, ou seja, do momento político-social e cultural em que se encontrar, não será um “excluído”. Indiscutivelmente, esta é, senão a única, provavelmente uma das mais relevantes maneiras com que se possa atender às novas exigências educativas que o cotidiano impõe de maneira sistemática e crescente nas relações sociais: A discussão crítica e aberta da educação.
Trilhando por essa linha de pensamento, a instituição escolar deve se constituir num espaço que produza conhecimento; todo e qualquer processo de construção deve estar engajado numa prática democrática, onde educador e educando sejam vistos como agentes e sujeitos simultâneos nas relações de ensino e aprendizagem, delineando papéis desprendidos da mitificação unilateral ou seja, valorando a iniciativa à pesquisa, e a superação dos limites em prol de uma atuação positiva, acompanhando a evolução da sociedade em constante mutação.
Dessa forma, apenas para exemplificar, referindo-se especificamente as aulas de língua portuguesa, constata-se, na atual prática pedagógica, a legitimação das diferenças entre os grupos sociais, ocasionados, principalmente, pela dicotomia formada pela língua padrão que é utilizada na instituição escolar, e aquela normalmente utilizada pelos alunos de classes populares, historicamente estigmatizadas como sendo inadequadas.
Por este viés , o ensino tradicional de língua portuguesa pode ser caracterizado por seu feitio predominantemente normativo e conceitual, privilegiando-se um modelo ancorado na visão da língua como um código fechado e estático. Neste, o ápice do processo ensino aprendizagem resulta na memorização de regras e conceitos dissociados das práticas cotidianas da língua falada dos alunos, submetendo-os à rígida formalidade gramatical
Tais elucubracões nos induzem a repensar quais as maneiras mais adequadas para abordar a língua portuguesa na Educação Infantil e Séries Iniciais.
A transformação das condições de reprodução desse processo, que vem se perpetuando ao longo das gerações, passa necessariamente por uma revisão na concepção de linguagem que encaminha o ensino da língua portuguesa de forma holística, percebendo-a como uma forma de interação entre sujeitos, de maneira a concebê-los como produtores do discurso em contextos sócio histórico determinados, sendo imprescindível tal postura na formação inicial do futuro leitor.
Nesse sentido, a leitura e a escrita são componentes dinâmicos, vinculados a um contexto social que não pode ser reduzido a um aprendizado técnico lingüístico e entendido como um fato neutro e linear, que resulta apenas em palavras e frases desconexas e sem sentido aparente para o leitor.
Muito além disso, ler e produzir textos nas escolas deve estar associado a ação simbólica sobre o mundo, onde o aluno consiga constituir-se como um sujeito que pensa, sente e dialoga pois segundo LAJOLO apud GERALDI,(1985, p.91):
“Ler não é decifrar, como num jogo de adivinhações, o sentido de um texto. É , a partir do texto, ser capaz de atribuir-lhe significado, conseguir relacioná-lo a todos os outros textos significativos para cada um, reconhecer nele o tipo de leitura que seu autor pretendia e dono da própria vontade, de entregar-se a essa leitura, ou rebelar-se contra ela, propondo outra não prevista.”
Assim, ler é produzir sentido, é estar contextualizado no texto, interpretando-o e atribuindo-lhe algum significado. Portanto, torna-se importante a criação de situações para que o exercício da leitura e escrita produzam reações, interação, e construção de subjetividade e conhecimento, não servindo apenas como uma atividade meramente de cópia ou de decodificação dos sinais gráficos, alienando os alunos do contexto em estão inseridos.
Aliado à essa interação com o meio, as relações no processo de construção da linguagem devem seguir algumas técnicas que tornarão o ensino mais agradável e produtivo, dentre as quais citamos algumas como: trabalho com imagens, produção de textos, caminhada de leitura, atividades com rótulos, texto coletivo, notícias de jornal, jogo de rimas, música, etc., .
Sob este prisma, leitura e escrita como processo discursivo e de produção de sentido, se percebe que devem englobar todas as disciplinas e todos os níveis de ensino, onde através da apropriação do conhecimento historicamente constituído, o aluno esteja inserido nessa construção e produção do conhecimento como elemento nuclear.
Dessa forma, não convém obrigar o público infantil a reproduzir exercícios de fixação, mas sim, proporcionar práticas de leitura e escrita em contextos significativos que estabeleçam uma estreita familiarização com todo um suporte de materiais escritos disponíveis: livros, jornais, revistas, publicidades, dentre outros recursos, de maneira a facilitar e permitir que o aluno observe, explore, questione, analise, critique, com base nos vários meios da escrita e leitura existentes na realidade circundante.
É na leitura, escrita e reescrita de textos significativos, que ocorre a apreensão dos alunos das normas convencionais, sem que ocorra necessidade de memorização de uma infinidade de regras e exceções, próprias de nossa língua portuguesa.
Através de materiais e contextos significativos, o paradigma de que o aluno precisa escrever para que o professor corrija precisa ser transformado na instituição de uma escrita que sirva de mecanismo de prática e interação, interlocução e inferências, tendo como base suas vivências e expectativas, libertando-o de axiomas preconcebidos, enfim, fazendo com que o aluno “dê asas à sua imaginação” sem os exageros dos pruridos da lógica formal de nossa língua.
Com essa concepção, a leitura, por exemplo, não pode estar associada somente ao livro de literatura, e muito menos ao livro didático, que tradicionalmente transmite um conhecimento fragmentado, alienado e alheio à realidade dos alunos, mas também a textos cotidianos, como os conhecidos “gibis”, que estabelecem uma estreita ligação com o leitor através do repertório comum e de uma linguagem coloquial. Outros textos, como crônicas, músicas, poesias, charges, transformam-se numa leitura prazerosa e natural, além de levá-los a refletir sobre as intenções subjacentes de cada palavra.
Este aspecto, o de despertar a atenção e o interesse do aluno pela leitura, é a essência da questão. Nas palavras de Roger Chartier (pg. 103-104, 2000):
“(...) Aqueles que são considerados não leitores lêem, mas lêem coisa diferente daquilo que o cânone escolar define como uma leitura legítima. O problema não é tanto o de considerar como não-leitura estas leituras selvagens que se ligam a objetos escritos de fraca legitimidade cultural, mas é o de tentar apoiar-se sobre estas práticas incontroladas e disseminadas para conduzir esses leitores, pela escola, mas também sem dúvida por múltiplas outras vias, e encontrar outraas leituras. É preciso utilizar aquilo que a norma escolar rejeita como um suporte para dar acesso à leitura na sua plenitude, isto é, ao encontro de textos densos e mais capazes de transformar a visão do mundo, as maneiras de sentir e de pensar.”
A concretização positiva na escola está no desafio dos professores em olhar para as produções dos alunos com uma visão não somente crítica e que busque os seus erros, ou ainda que atente apenas para a linearidade da escrita, mas sim almejando o significado das suas formas de construção, estimulando o aluno a empenhar-se na realização consciente e divertida de um trabalho lingüístico que lhe faça muito mais sentido. Pois se ler é produzir sentido, tal só ocorrerá se houver interesse, do latim “ inter esse”, que significa “estar entre” , ou seja, estar engajado, envolvido, empenhado.
Assim, com olhar ativo e crítico, através da multiplicidade de linguagem, será possível auxiliar o aluno na construção do conhecimento, que o faça entender-se não apenas como produto, mas, acima de tudo, como partícipe da construção da história da coletividade, e também como agente de transformação de uma realidade que não é estática, mas dinâmica e suscetível `a constantes mudanças.
Na criação e formação de sua própria identidade, o público da educação infantil e séries iniciais precisa ser estimulado. Criando-se fantasias, despertando o seu potencial imaginativo, aflorando seu pensamento infantil e sua capacidade intuitiva para a realidade circundante. Neste diapasão, convém que recorramos às palavras de Denise Fernandes Tavares:
“O sorriso, a alegria duma criança que lê, que ouve estórias, que brinca, compensa a luta que possamos ter, para que aquele sorriso e aquela alegria existam. E compensa, ainda, a sua certeza íntima que estamos abrindo novos horizontes e possibilidades para centenas de crianças, através da leitura. Estaremos ensinando quanto vale o livro; dando-lhes o hábito da leitura, fazendo-as amar o livro estaremos assimilando responsabilidades e cumprindo o nosso dever com as gerações que formarão os homens de amanhã.”
Nessa caminhada na construção do conhecimento humano, não é de se olvidar a relatividade da importância dos livros didáticos, muitas vezes o único acesso disponível para a maioria do público infantil, sobre o que passaremos a discorrer nas próximas linhas.
4 ANÁLISE DO LIVRO DIDÁTICO E SUA RELEVÂNCIA NA FORMAÇÃO DO LEITOR
"(...) A ideologia contida no livro didático serve para consolidar a hegemonia da classe dominante e, com ela, as relações de produção.(...)"
FREITAG.
O livro didático vêm despertando a atenção dos mais variados segmentos da pedagogia moderna.
Atenção investigativa e descritiva, pesquisas sobre conteúdos programáticos, aspectos psicopedagógicos e metodológicos, conteúdos ideológicos, são fatores com os quais talvez se possa entender as polêmicas em curso no nosso sistema educacional: Manter ou rejeitar o livro didático? Defendê-lo ou condená-lo? O que é, afinal, um livro de qualidade?
Apesar das grandes mudanças que a escola tem experimentado ao longo dos tempos, dos diferentes modelos pelos quais tem pautado sucessivamente suas concepções e práticas pedagógicas, uma característica é mantida, característica esta que parece constituir sua própria essência: “a Escola é uma instituição burocrática, portanto, fundamentalmente ortodoxa: nela se ordenam e se hierarquizam ações e tarefas, se organizam e se distribuem em categorias alunos e professores, divide-se e controla-se o tempo, regula-se e avalia-se o trabalho; sobretudo, seleciona-se no campo da cultura, dos conhecimentos, das ciências, das práticas sociais, os saberes e as competências a serem ensinados, aprendidos e avaliados.
Assim, na Escola, a transmissão do saber, o ensino, a aprendizagem, a avaliação, sofrem um processo de fragmentação e seleção, pois organizam de maneira sistemática com seqüências progressivas e antipedagógicas o ensino torna-se em síntese didatizado e meramente escolarizado, com pouca ou nenhuma inovação.
Nesse sentido, o livro didático institui-se, historicamente, bem antes que o estabelecido em Programas e Currículos, como instrumento para assegurar a aquisição dos saberes escolares, isto é, daqueles saberes e competências julgados indispensáveis à inserção das novas gerações na sociedade, induzindo à crença de que a ninguém é permitido ignorar o conhecimento, no entanto persiste o ensino, parcelado, estanque e controlado ou manipulado.
Assim, o propósito inicial do livro didático é subsidiar a prática educativa de forma que se assegurem informações suficientes para modelar o conhecimento a ser adquirido pela grande maioria da população, ou seja, disseminar uma ideologia: a ideologia daqueles que detêm os Fatores de Poder.
Em contraposição à essa realidade, o livro didático pode ser, na prática pedagógica, um meio de enriquecer as aulas, e não um fim em si mesmo, quando funciona como um veiculo único de informações com suas verdades absolutas e incontestáveis. Daí a responsabilidade, principalmente do professor, de fazer a escolha certa dos livros a serem usados e discernir sobre quais as informações relevantes e que estará transmitindo em sala de aula.
Tendo a consciência de que o livro didático é, muitas vezes, o único instrumento de leitura que a grande camada da população escolar têm à sua disposição, o professor acaba sendo um referencial, muitas vezes também único, para a disseminação de idéias que, mal empregadas, poderão se transformar em uma ferramenta de dominação.
Respaldando a argumentação, fizemos a constatação de que os livros didáticos são os mais lidos em todo país, conforme pode ser observado na pesquisa constante no ANEXO I, extraída da revista VEJA de nº ......... 7 de fevereiro de 2001.
Atualmente, a escolha do livro didático evoluiu no que concerne às práticas pedagógicas, eis que com o surgimento do guia do Livro Didático, elaborado pela Secretaria do Ensino fundamental do Ministério da Educação (MEC), que tem como objetivo analisar e selecionar os principais livros que merecem integrar o catálogo de compras do governo, destacou os erros conceituais, idéias desatualizadas, dentre outros aspectos, fazendo com que os autores e editores negligentes sejam mais cuidadosos nas revisões de seus exemplares, atentando principalmente para a qualidade dos conteúdos.
Tais iniciativas são de grande ousadia e relevância, pois vasculham em interesses de grandes editores que, movidos, em sua grande maioria, por motivos econômicos, não atentam para a imprescindível qualidade que deve existir nos livros didáticos.
As críticas aos livros didáticos e a intervenção do governo na sua revisão, nos dão indicativos de melhoria nas práticas que se direcionam na busca de uma melhor qualidade na educação, no entanto, não se pretende mascarar a precariedade educacional com um discurso dogmático que releve apenas as publicações didáticas de má qualidade, pois outros aspectos subjacentes devem ser considerados nessa avaliação.
Cumpre ressaltar que o grande responsável pelo bom uso do livro continuará sendo o professor que, conhecendo a realidade de seus alunos, através da investigação de suas necessidades e interesses, respaldará sua escolha nos livros que pretenda utilizar. Pouco adiantaria mudar o conteúdo se o professor continuasse adotando uma prática tradicional de ensino, fazendo com que seus alunos se limitassem a copiar e a memorizar textos, sem discussões e reflexões a respeito. Tal metodologia comprometeria sobremaneira o desenvolvimento intelectual das futuras gerações.
Destarte, o professor como sendo grande responsável pelo processo ensino aprendizagem dos alunos e pela adoção da leitura que estes fazem em sala de aula, deve atentar também para a qualidade de suas aulas, através de práticas criativas e dinâmicas, em que se torne interessante incentivar e implementar a pesquisa dos alunos de mais de um livro didático. Tal ação fará com que estes se tornem construtores de seu próprio espaço- conhecimento. Por esta mesma linha de pensamento, a articulação dos conteúdos dos livros didáticos, de maneira a que ocorra uma interação com situações de seu cotidiano, estimulará os alunos a refletirem sobre a realidade circundante de modo a que percebam, com uma leitura critica, os significados subjacentes de cada texto ou situação.
Numerosos estudos nos fazem supor que os livros preparados para a infância remontam ao final do século XVII. Antes disso, as crianças, vistas como adultos em miniatura, participavam desde a mais tenra idade , da vida adulta.
Naqueles tempos não havia histórias dirigidas especificamente ao público infantil, pois a infância, enquanto período de desenvolvimento humano, com particularidades que deveriam ser respeitadas, inexistia.
As profundas transformações ocorridas no âmbito social e econômico, principalmente com o advento do Capitalismo e da Supremacia burguesa, fizeram com que surgisse uma nova organização familiar e educacional, na qual a criança passou a ocupar um espaço privilegiado. Com intuito de capacitar cidadãos a fim de enfrentar um mercado de trabalho tão competitivo já naquela época, tornava-se imperioso o preparo eficiente das crianças para o trabalho e, consequentemente, para um desenvolvimento social sustentável.
Nesse sentido, reorganiza-se a Escola para que a atenda às novas exigências, repensando-se todos os produtos culturais destinados a infância e, dentre eles, especialmente o livro.
A Escola há que estar atenta para a formação do leitor, conforme Eriche Fromm “o elemento básico da cultura, a linguagem, é a precondição de qualquer realização humana”. Nesse desiderato a Escola deve estar atenta à esta concepção da leitura como fonte do conhecimento e de sua responsabilidade na formação do leitor.
Bamberger nos dá alguns indicativos que podem ser aplicados pela Escola para induzir o hábito da leitura aos seus alunos. Senão , vejamos:
“O desenvolvimento de interesses e hábitos permanentes de leitura é um processo constante, que principia no lar, aperfeiçoa-se sistematicamente na escola e continua pela vida afora através das influências da atmosfera cultural geral e dos esforços conscientes da educação e bibliotecas públicas.”
Surge assim a Literatura Infantil, criada com uma concepção ideológica compro metida com um destinatário específico: a criança, embora persistissem resquícios ideológicos amalgamados à transmissão de valores da sociedade então vigente.
Com o passar dos tempos e com o surgimento de novos autores, os livro infantis vão gradativamente sofrendo transformações e promovendo, através da disseminação de uma leitura prazerosa e ao mesmo tempo vinculada à construção do conhecimento, um alargamento vivencial para as crianças.
Nesta direção, a Escola, como espaço socializador do conhecimento, fica com a tarefa primordial de assegurar aos seus alunos o aprendizado da leitura, devendo fazer circular em seu meio uma diversidade de materiais, com conteúdos ricos e variados, que promovam a formação de leitores livres. Concebe-se assim, a prática da leitura, não como habilidades lingüísticas, mas como um processo de descoberta e de atribuição de sentidos que venha possibilitar a interação leitor-mundo. Conforme FREIRE (1996): “(...) O ato de ler não se esgota na decodificação pura da palavra escrita (...) A leitura do mundo precede a leitura da palavra.”
Sob este prisma, o professor precisa estar capacitado e preparado para provocar em sala de aula, a partir de leituras diversificadas, discussões que conduzam os alunos ao estabelecimento de elos com outras realidades, permitindo assim, a efetivação do real sentido do que está sendo lido, em consonância com o discurso de STÜBIE (1997): “A leitura na escola, tem a função de desacomodar o aluno, despertar-lhe o senso crítico, romper com a alienação(...) já que ler não é apenas decodificar signos gráficos.”
Por esta perspectiva, é oportuno reforçar a assertiva de que o professor deve selecionar diferentes tipos de textos, literários ou não, que projetem a vida contemporânea do local onde os alunos estão inseridos, bem como de outros lugares e tempos, os diversos pontos de vistas, estimulando discussões, reflexões e confrontos entre os alunos.
De se considerar:
“Se educar é preparar para a vida, despertar a consciência, compreender e transformar a realidade, então a leitura só pode ser compreendida numa perspectiva crítica.Ler criticamente é admitir pluralidade de intrpretação, desvelar significados ocultos, resgatar a consciência do mundo, estasbelecendo, por meio dela, uma relação dialética com o texto..” ( INDURSKY e ZINN. 1985, p 23 )
Com a virada do milênio a escola, visando incentivar o hábito da leitura, busca construir mecanismos eficientes a fim de competir com o advento dos recursos visuais, auditivos e multimídia, a que alguns poucos alunos já têm acesso.
O desenvolvimento intelectual da população representa um fator político-social básico para o alcance do progresso e aspiração de toda a sociedade. Por exemplo, aqueles que irão representar os interesses nacionais no plano internacional hão de estar plenamente capacitados para esse mister, o que promoverá a consolidação da sustentação de um país que intitula-se como um Estado Democrático de Direito e que tem como um dos seus fundamentos constitucionais básicos a educação como “direito de todos e dever do Estado e da família (...)”. A amplitude que enseja a formação desses agentes se inicia na Educação Infantil e Séries Iniciais, e esta não pode estar à margem da modernidade.
Numa visão holística e, por que não dizer metafísica da importância da leitura e do saber humano, façamos uma reflexão sobre as palavras de Rabindranath Tagore-Gitanjali:
“Onde o espírito vive sem medo e a fronte se mantém erguida;
Onde o saber é livre;
Onde o mundo não foi dividido em pedaços por estreitas paredes domésticas;
Onde as palavras brotam do fundo da verdade;
Onde o esforço incansável estende os braços para a perfeição;
Onde a clara fonte da razão não perdeu o veio no triste deserto de areia do hábito rotineiro;
Onde o espírito é levado à Tua Presença, em pensamento e ação sempre crescentes;
Dentro desse céu de liberdade, ó meu Pai, deixa que se erga minha pátria.
(...) Para que possam crescer felizes as crianças.”
Nesta ótica, não há como negar os avanços tecnológicos, no entanto, a Escola deve estar atenta ao uso que se faz dos recursos eletrônicos e definir com clareza quais objetivos a serem atingidos com o seu uso. A utilização inadequada desses meios induzem seus “leitores” a uma mera assimilação de fatos, ao invés de serem sujeitos de sua própria leitura e criação, tornando-os seres passivos e distantes de sua realidade fática circunstancial.
A utilização inadequada dos meios eletrônicos como mecanismo básico do ensino e leitura induzem a formatação do conhecimento, ao contrário do que ocorre na leitura do livro, quando o tempo da reflexão assegura um diálogo em que as experiências de vida são compartilhadas.
“(...) O livro desempenha um papel importante na vida e na formação do ser humano, pois através dele nos tornamos mais sensíveis ao mundo e capazes de entender nossas próprias reações. O livro incrementa a missão de educar, pois fornece as crianças informações, lazer, cultura, propiciando ao leitor elaborar seu próprio conhecimento, enriquecer seu vocabulário, facilitar a escrita, agilizar o raciocínio e aguçar a imaginação. Assim, ao incentivarmos a leitura, estamos deflagrando um movimento para desenvolver pessoas críticas, participativas, criativas e preparadas para construir a nação do futuro.”
A Escola, incumbida então da função de promover a formação do leitor, terá que rever as condições, muitas vezes restrita, a que impõe a leitura aos seus alunos.
Partindo então do pressuposto que o incentivo à leitura ainda consiste numa das maiores dificuldades para os professores e para as escolas, cabe salientar alguns fatores relevantes na tentativa de solucionar essas dificuldades:
1- Fator pessoal: representado pelo professores, pois sua postura frente ao livro é fundamental para a formação do hábito de ler na criança. O entusiasmo contagia, mas quem não sabe apreciar o livro pode desestimular o aluno, mesmo de forma inconsciente;
2- Ambiente físico: o espaço da leitura deve ser agradável, acolhedor e informal, seja na sala de aula, seja na biblioteca, o que importa é a criança sentir-se a vontade para ali permanecer para entregar-se à leitura com prazer e familiarizar-se com o livro;
3- Livro acesso aos livros: ao livros devem estar dispostos de forma a permitir à criança fácil manuseio. Às vezes a organização formal das prateleiras constitui barreira para o aluno, que se sente inibido e receoso de tocar nas obras;
4- Acervo da biblioteca: é importante a atualização da biblioteca, tendo em vista o atendimento dos interesses e a fase do desenvolvimento dos usuários.
Dessa forma reportando-nos exclusivamente às Educação Infantil e às séries iniciais, pode-se constatar que na maioria da escolas não existem critérios para o incentivo à leitura, e que os livros considerados didáticos, são muitas vezes o único material de leitura que os alunos dispõe para ler, resultando na absorção de um conhecimento parcial e limitado, o que pouco contribui para a formação de leitores que estão a procura de respostas às suas infinitas indagações. Tal fato faz com que as aulas de leitura culminem em apenas mais uma das atividade da rotina em sala de aula, permeadas unicamente por textos fragmentados e insignificantes.
Em contraposição a essas condições, faz-se necessário nas escolas o redimensionamento de todo o trabalho, partindo da seleção de materiais, garantia de espaço para discussões, mudança de postura de alguns profissionais e, principalmente, admissão de resultados convergentes em relação a confrontos existentes durante o processo da leitura.
Com as inovações propostas a prática da leitura se fará constante, buscando-se o auxílio pelo emprego de livros, jornais, revistas, quadrinhos, rótulos, listas, tabelas, placas, publicidade, etc., que forneçam subsídios aos professores nas tarefas de tornarem seus alunos , verdadeiros leitores.
Por esta direção citamos STÜBE (1997, p 32) :
“Tudo o que faz parte do contexto em que o homem vive é possível de leitura; o processo de atribuição de sentidos mostra-se mais amplo que a mera decodificação(...)”
Assim, ao professor incumbe não ficar adstrito ao espaço fechado da sala de aula, mas sim encarar o trabalho de leitura com seriedade, munindo-se de embasamento teórico sobre a ciência da leitura, o que lhe dará auxílio no direcionamento de sua prática, pois segundo BRAGA (1985): “Só ensinamos bem o que conhecemos e acreditamos”.
O professor deverá ser capaz de escolher livros de acordo com os interesses do leitor, disponibilizar vários tipos de leitura, conhecer o interesse e o nível de desenvolvimento e contexto social da criança com a qual trabalha; citando BRAGA : “A falta de adequação entre a obra e o interesse do aluno, poderá acabar com a motivação do pequeno leitor”.
Por derradeiro, o professor poderá utilizar vários recursos metodológicos para despertar o prazer de ler em seus alunos:
“ A literatura é um grande desafio ao educador da atualidade. A escola se organizou muito centradamente no aspecto cognitivo e se esqueceu, quase que completamente, da arte (em suas diversas manifestações) do prazer, do lúdico, do agradável...da literatura.Fato lamentável numa época de poluição, de famílias desestruturadas, de massacre do homem em função da máquina e do progresso.”
(BRAGA, 1995,p.36)
No atual contexto social faz-se mister que os professores estejam comprometidos com a literatura, que também tenham ou adotem o salutar hábito da leitura pois, no dizer de Fombeure: “É lendo que nos tornamos leitores”. Então, que leiam por prazer e acompanhem o desenvolvimento dos seus alunos, incentivem o pensamento reflexivo e crítico, capacitando-os a reconhecer os valores subjacentes nas relações sociais, culturais, políticas e econômicas da sociedade, descritas, muito provavelmente, nas entrelinhas da maioria dos bons livros.
Necessário também é a existência de consenso entre professores e alunos no sentido de que a literatura é objeto de lazer e compreensão do mundo que, respeitados os interesses e crenças do leitor, propicia prazer, emociona, alegra, engaja o ser por inteiro na leitura e se transforma em atividade lúdica e cognitiva. Portanto, não é de se pensar em literatura como instrumento de transmissão de normas lingüisticas ou comportamentais. Ela poderá oferecer um vasto horizonte à criatividade e fantasia, levar o leitor ao âmago de suas emoções, mas não deverá ser usada como simples recurso para a aprendizagem de conteúdos educativos.
Tornar o livro um objeto “amigo” do aluno, oportunizando o contato com o belo, com o imaginário e com a arte da palavra, são condições que reforçarão o estabelecimento do hábito de ler por prazer e entretenimento. Alcançados tais objetivos, os demais propósitos referentes a relevância da leitura, virão como conseqüência.
6 LEITURA COMO FONTE DE INFORMAÇÃO E PRAZER
A escola, espaço que convencionamos como sendo específico e privilegiado do saber, no que concerne à leitura , precisa rever suas práticas, mormente diante de leituras impostas em salas de aulas onde faz imperar um dualismo: de um lado algumas escolas que, ao pretenderem uma rápida atualização com o presente, assimilam o novo sem a devida reflexão utilizando inadequadamente instrumentos modernos de ensino e tornando seus leitores passivos diante de imagens efêmeras. Em contraposição, outras escolas utilizam textos fragmentados de manuais didáticos como único meio auxiliar para a leitura, objetivando o trabalho de unidades curriculares como mera fixação e memorização de conteúdos, quase sempre aleatórias à realidade dos alunos.
Esta antinomia existente em tais práticas de leitura estão longe de resgatar a história do conhecimento humano, de estimular o pensamento ou induzir o aluno ao prazer em ler.
Neste sentido, esta ambigüidade da prática educativa tornam os alunos alheios a realidade que os circundam, tornando-os vulneráveis a dominação de uma minoria que pensa e se mantêm bem informados. Parte-se então do pressuposto que a prática da leitura significa a possibilidade de domínio através de um instrumento de poder, chamado linguagem formal, pois é desta forma que estão escritas as leis que regem nosso país, e assim perceber os direitos que se tem, o direito das elites que, com um discurso ideológico em prol da liberdade e da justiça, os mantêm na condição de detentores do Poder
Manter grande parte da população escolar perto do alcance desta linguagem formal, este é o grande desafio, a fim de que, com uma visão crítica e reflexiva e através do discernimento, não se permita a perpetuação de sua condição de dominados.
Neste sentido torna-se oportuno citar FOUCAMBERT (1994,p. 121):
“(...) a leitura aparece também como um instrumento de conquista de poder por outros atores, antes de ser meio de lazer ou evasão. O “acesso a leitura” de novas camadas sociais implica que leitura e produção de texto se tornem ferramentas de pensamento de uma expreriência social renovada; ela supõe a busca de novos pontos de vista sobre uma realidade mais ampla, que a escrita ajuda a conceber e a mudar, a invenção simultânea e recíproca de novas relações, novos escritos e novos leitores. Nesse sentido torna-se leitor pela transformação da situação que faz que não se o seja.”
Assim, a leitura como prática social faz a diferença para aqueles que dominam, tornando-os distintos cultural e socialmente.
Faz-se mister que as escolas revejam as condições restritas impostas ao ensino da leitura. Entretanto mudar as condições de produção da leitura na escola não significa apenas alterar os instrumentos de sua codificação e decodificação, vai muito mais além:
Conforme Paulo Freire (1997, p. 11):
“(...) o ato de ler não se esgota da decodificação pura da palavra escrita ou da linguagem escrita, mas que se antecipa e se alonga na inteligência do mundo. A leitura do mundo precede a leitura da palavra(...) linguagem e realidade se prendem dinamicamente.”
Exige-se da escola, principalmente, o redimensionamento de todo o trabalho educativo que engloba: ousadia, seleção de materiais variados, espaço para socialização, respeito a opiniões divergentes, enfim novas propostas de trabalhos pedagógicos com leituras críticas e variadas.
Reafirmamos que o exercício e prática da leitura transcende ao uso de materiais como meios auxiliares de ensino, empregados como modismos em sala de aula ou como atividade ligada a lição e a intenção didática instrucional.
Além da leitura como informação e, conseqüentemente, como fonte de acesso ao conhecimento e ao poder , o mais importante é a capacidade de se aliar isso ao prazer e entretenimento, pois é de se deduzir, por essa linha de pensamento que, a contrário sensu, o prazer na prática da leitura levará automaticamente o leitor ao conhecimento.
Assim, a leitura singular dos livros didáticos devem ceder espaço aos livros de literatura infantil, jornais, revistas, gibis, bulas de remédios, receitas caseiras, etc., que fazem parte dos objetos de uso cotidiano, articulado a uma leitura significativa e, portanto, compreensiva e mais agradável como processo pedagógico.
Leitura é conhecimento, e o conhecimento é um processo de construção em que o protagonista é o aluno, e respaldando tal assertiva é oportuno citar Paulo Freire:
“Uma educação que procura desenvolver a tomada de consciências e a atitude crítica, graças à qual o homem escolhe e decide, liberta-o em lugar de submetê-lo, de domesticá-lo, de adaptá-lo, como faz com muita freqüência a educação em vigor num grande número de países do mundo, educação que tende a ajustar o indivíduo à sociedade em lugar de promovê-lo em sua própria linha.”
Com essa ideologia na prática pedagógica, poderá se propor nas escolas alternativas de promoção de leitura, objetivando despertar o interesse e a vontade de ler por parte dos alunos através, por exemplo, das seguintes ações:
a) Substituição dos livros didáticos por livros de literatura;
b) Dramatizações com a participação dos alunos;
c) Atividades com ORIGAMI, arte japonesa que constitui na dobradura artística de papéis, criando personagens das histórias;
d) Manipulação de argila e construção de maquetes, fundamentados na releitura das histórias;
e) Realização de atividades com bulas de remédios. Com a troca de informações, experiências e conselhos;
f) Criação de caixinhas de remédios e elaboração de bulas com base em algum medicamento natural conhecido;
g) Exploração de receitas culinárias;
h) Trabalho com jornais;
i) Leitura de histórias em quadrinhos:
As histórias em quadrinhos têm um efeito surpreendente como mecanismo de incentivo à leitura. Tais histórias atraem os alunos pela identificação que estes fazem com alguns personagens, semelhante ao mundo fático. A fantasia transforma a leitura em modalidade de ensino e de prazer.
j) Feira de leitura: conforme poderá ser verificado nas fotos consignadas no ANEXO 2.
A realização destas propostas pedagógicas, como alternativas e complementares, poderá estimular nos alunos a vontade e o prazer da leitura.
Há muito a se discutir, refletir e pesquisar para que se consiga concretizar de maneira efetiva, nas salas de aula, esta audaciosa proposta. Para isso, se faz mister uma mudança na postura dos educadores e também da consciência de que, como enfatizamos nos capítulos iniciais, exigirá a quebra de alguns paradigmas no processo educativo.
Trata-se de um primeiro passo e de um grande desafio: romper barreiras para melhor ensinar, visando, sobretudo, uma educação que permita ao aluno o exercício pleno de sua cidadania e o seu desenvolvimento como pessoa humana através do hábito de ler, não apenas como fonte de conhecimento, mas também como informação e prazer!
7 LITERATURA INFANTIL
Algumas publicações nos dão conta de que os primeiros livros para crianças tenha sido o trabalho de Comenius : Orbis Sensualium Pictus (1658), criado com o intuito de ensinar latim através de gravuras constituindo, pois, um antepassado , talvez dos atuais livros didáticos ilustrados para crianças. Antes dessa época não havia nada que pudesse ser tratado como literatura infantil, pois é o que se deduz da falta de registros a respeito.
Posteriormente, surge a literatura infantil, com moldes ideológicos comprometidos com um destinatário específico, a criança, contudo eivado de valores que objetivavam a transmissão de valores da sociedade então vigente.
Somente com o passar dos tempos e com a verificação da realidade mutante, que os textos infantis vêm a sofrer adaptações, promovendo o alargamento vivencial do leitor infantil, incitando-o a participar de problemas e buscar soluções refletidas.
Nessa linha de desdobramento evolutivo, a literatura infantil passa a abranger um público específico, passando a ser entendida como agente emancipatório e capaz de projetar a criança para além do seu universo cotidiano, recriando a vida como ela ainda poderia ser vivida, ainda que houvesse uma fantasia subjacente, despertando o seu raciocínio.
Sob esta ótica, os livros ofereciam às crianças, de maneira sistemática, lúdica e prazerosa um "modelo" capaz de ampliar e produzir seus próprios conhecimentos, haja visto a diversidade de opções a que se deparava. Essa é a atual conjuntura da literatura infantil no mundo contemporâneo, sobre a qual passaremos também a discorrer frente à realidade nacional.
Até o início do século XIX, a escola não existia , ao menos da forma tal qual a conhecebemos hoje, institucionalizada e seriada. Não haviam professores formados e com capacitação adequadas, sendo que muito menos cogitava-se o livro em sala de aula.
Foi a partir da chegada da família Real ao Brasil com D João VI, que a educação até então oferecida pelos Jesuítas com intenção religiosa, tomava novos rumos, redimensionando o ensino. Uma das importantes emancipações foi a formação de professores e o nascimento do livro-texto, emergindo a possibilidade de se pensar num livro recreativo e consequentemente na literatura infantil.
A partir de 1808 criaram-se colégios por todo o país, de Minas Gerais ao Rio de Janeiro, Bahia etc. A partir desse momento a educação, garantida posteriormente na Constituição de 1824, declara “gratuito a todos a instrução primária” . Com isso garantia-se a instrução popular, em paralelo à excelência da educação dos colégios particulares. Deflagra-se a criação de instituições de imprensa que fazem circular vários jornais infanto-juvenis, permitindo-nos admitir como a primeira fase da literatura específica para crianças no Brasil, pois o valor dos jornais que circulavam na época, principalmente os folhetins infantis, despertavam nas crianças o interesse pela informação e cultura.
A literatura infantil no Brasil, portanto, ao esboçar-se no final do século XIX, denota uma preocupação educacional, tornando o ensino menos teórico e fatigante. Alguns nomes emergem como merecedores de destaque desta “nova pedagogia”: Rui Barbosa, Teodoro Morais e, em nossos dias, podemos ressaltar, dentre vários outros, Anísio Teixeira e Lourenço Filho , precursores da Escola Nova no Brasil.
Por razões evidentes, não poderíamos deixar de também fazer alusão a um dos maiores nomes da literatura infantil: Monteiro Lobato.
Monteiro Lobato tornou-se o maior clássico da literatura brasileira.; Não escreveu apenas livros para crianças, mas sim criou um novo universo para elas. Foi original em seus escritos, embora utilizasse o rico acervo da literatura clássica infantil de todo o mundo. Sua maior fonte de inspiração foi a própria criança: os ingredientes de sua vivência, suas fantasias, suas aventuras, seus jogos e brinquedos, e tudo que povoasse sua imaginação.
Bárbara Vasconcelos, em sua obra “A literatura Infantil”, retrata bem a importância da obra de Monteiro Lobato:
“É importante que a criança viva em seu mundo, sem ser perturbada, para que ela seja criança enquanto for criança. Lobato realizou uma obra onde a criança, desinibida e autêntica, é livre para ser criança. E é isso que é importante. Ele não mente à criança, mas não lhe impõe os problemas. A criança merece beleza e respeito, sem precocidade vulgares, sem permissividades, porque o nosso objetivo é dar-lhes condições de crescer. É isso que faz a obra de Lobato.”
A criação literária de Monteiro Lobato contribuiu sobremaneira para a educação, inspirando as novas gerações para o hábito da leitura, num mundo cheio de fantasia e beleza, fazendo com que sua presença fique viva nos lares, nas escolas e, principalmente, nos corações das crianças.
Sua obra infantil tem servido de inspiração para educadores e homens de teatro no Brasil e no exterior, motivo de orgulho nacional.
“Um livro infantil, para o quarto de uma criança, é um objeto tão importante e mais indispensável do que o berço”
Friedrich Bertuch
Uma das formas de recreação mais importante para a criança, principalmente no que se refere ao seu desenvolvimento e crescimento intelectual, psicológico, afetivo e espiritual é a leitura.
A literatura infantil, como meio de comunicação e modalidade da leitura, também é um dos mais eficientes mecanismos de recreação e lazer, servindo como um método prático de terapia educacional.
Os condicionamentos impingidos pela vida moderna, tais como a massificação da informação pela televisão, os programas televisivos inadequados, a comunicação via ciberespaço, os filmes infantis instigando à violência, dentre outros aspectos, despejam sobre a criança informações que cerceam a sua capacidade imaginativa, culminando num alheamento de perspectiva crítica.
A literatura desempenha papel fundamental na vida da criança, não apenas pelo seu conteúdo recreativo que desempenha, mas também pela riqueza de motivações, sugestões e de recursos que oferece ao seu desenvolvimento.
Em seu descobrimento da vida, a criança está ávida por descobrir e entender a realidade circundante, deslumbrando os mistérios que a aproximam do mundo exterior através dos símbolos, da leitura infantil. Nessa curiosidade e deslumbramento deverá encontrar estímulos sadios e enriquecedores que serão a tônica de sua motivação e crescimento como pessoa humana.
Portanto, deve-se estimular e propiciar ao alcance das crianças os livros infantis, dos Contos de Fadas, poesias, os mitos, folclore, fábulas, teatro, permitindo-lhe penetrar em seu universo mágico dos sonhos. É o caminho não apenas de sua descoberta, mas também um dos mais completos meios de enriquecimento e desenvolvimento de sua personalidade.
Com a leitura e os livros a criança e o jovem encontrarão caminhos, crescerão e se desenvolverão na busca de soluções para as suas inquietações e problemas de ordem intelectual, social, afetiva, ética e moral.
Diz Erich Fromm: “ o elemento mais básico da cultura, a linguagem, é a precondição de qualquer realização humana.”
A leitura infantil é um dos fatores básicos para a criança buscar a sua realização como pessoa humana, incumbindo às novas gerações uma grande responsabilidade quanto à mudança de concepção ideológica, de maneira a que o hábito da leitura seja propugnado desde a mais tenra idade, contribuindo em sua formação sob todos os aspectos.
9 CONCLUSÃO
Ao longo dessas linhas buscou-se inspiração, sobretudo, na crença e firme convição como educadora, de que o futuro está na educação, principalmente na Educação Infantil e Séries Iniciais.
O desfio do novo educador, daquele adequado ao mundo contemporâneo, está justamente em fazer frente às ideologias dominantes que insistem em práticas educativas tradicionais e descomprometidas com o objetivo máximo da educação, centro para onde deveriam convergir todos os interesses: o aluno.
Nesse desiderato, comprometidos com o amanhã e com o futuro de nossos filhos, de nossa história, e porque não dizer de nossa própria existência, incumbe-nos, através de um discurso pragmático e não meramente dogmático, persuadir o público que tem compromisso com a educação, na realidade da família ao professor, da Escola ao próprio Estado, a implementar ações voltadas para a formação do futuro cidadão, sendo a incultação do hábito da leitura o mais ideal dos instrumentos para essa conquista.
Que as vicissitudes do cotidiano nos permita avançar através da leitura, rumo a uma Sociedade Livre, Justa e Igualitária, valores supremos de qualquer nação!
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