“O
gaúcho não é um tipo étnico racial, fruto do cruzamento eventual de
portugueses e espanhóis com os índios do Cone Sul da América. Houve
gaúchos autênticos que foram portugueses. Outros, espanhóis, outros,
índios puros, guaranis ou m’baias. Alguns foram negros. No Rio Grande do
Sul são conhecidos, ao longo da História, gaúchos de sangue alemão, de
sangue italiano e até mesmo gaúchos judeus e gaúchos descendentes de
árabes.” (Antonio Augusto Fagundes).
O gaúcho se caracteriza por sua atividade, seu modo de viver, pelos usos, costumes, crenças, valores, sua cultura, enfim.
No princípio os donos desta terra sul-rio-grandense eram os índios
(Tapes, Charruas, Patos, Minuanos, entre outros) dos quais o gaúcho
herdou o uso das boleadeiras, do laço, o governo do cavalo, o chimarrão,
o pala, o chiripá, lendas e mitos.
Vieram os espanhóis. Primeiro os padres jesuítas que trouxeram o
gado, depois os prisioneiros, desertores ou aventureiros que cruzaram o
Rio Uruguai produzindo a primeira mestiçagem com os índios. Até 1750 o
“Continente”, como os portugueses denominavam o Rio Grande, pertencia à
Coroa Espanhola.
Não tardaram os Bandeirantes, paulistas e curitibanos, brasileiros
mestiços, organizados em bandeiras para explorar o território, apresar
índios reduzidos e formar vilas, hoje cidades, como Passo Fundo, Cruz
Alta e Vacaria. Chamados birivas, foram grandes tropeiros. O tropeirismo
teve papel fundamental no desenvolvimento e na integração do Estado e
do Brasil.
Com o tratado de Madrid (causa principal da Guerra Guaranítica que
dizimou e dispersou os indígenas) chegaram os açorianos (portugueses
Ilhéus). Expansivos e muito dados ao recreio, nos legaram as danças como
a “chimarrita”, o “tatu”, o “anu” e a “tirana”. Podemos dizer que os
“casais açorianos” foram responsáveis primeiros pelo fortalecimento do
conceito de “família” como o temos nos dias atuais. A festa do Divino
Espírito Santo, a pesca artesanal do mar. Trovas, canções e provérbios
são devidos aos açorianos que nos deram, também, o “tu”.
Os negros trazidos como escravos pelos portugueses ou por brasileiros
descendentes de portugueses e índios (mestiços), chegaram a partir de
1725. Inicialmente trabalharam nas fazendas, que se formavam a partir da
distribuição das sesmarias, e depois constituíram a mão de obra
preferencial das charqueadas. Os negros foram peões de estância,
carreteiros, domadores, e valorosos soldados. Escravos negros que fugiam
da escravidão, chamados “caiambolas”, formaram vários quilombos.
Legaram ao gaúcho a feijoada, o mocotó e o quibebe. São deles várias
palavras do linguajar gauchesco (cacimba, sanga, xerenga, etc).
A alegria, a coragem, a generosidade o gosto pela liberdade e o amor
intransigente ao “pago”, são características marcantes do gaúcho. Estas
virtudes podem ser atribuídas ao somatório das crenças, valores e ideais
das diversas etnias até aqui citadas. Porém, devemos acrescentar a esta
primeira formatação do gaúcho, outras etnias, especialmente as duas
mais significativas, seja pela abrangência, seja pela significação
numérica de imigrantes: os alemães e os italianos.
Os imigrantes (colonos) europeus deram importante contribuição na
formação do gaúcho, como o temos hoje. A ética do trabalho, o cultivo da
terra, o gosto pela cantoria, a religiosidade, vários pratos da nossa
culinária, algumas danças e, do alemão, até o serigote (tipo de encilha
para os animais cavalares).
Além dessas origens étnicas, em algumas regiões do Estado vamos
encontrar poloneses, judeus, árabes, suecos e muitas outras etnias. Cada
uma delas contribuiu para que hoje tivéssemos o gaúcho como resultado
de uma mescla de raças.
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