Chupeta: grande vilã?
Uma clínica inglesa acaba de lançar um tratamento para crianças que não param de chupar o dedo e, com isso, abre um debate: se é melhor ou não dar a chupeta
Thais Lazzeri
Poucos assuntos no universo de quem tem filhos causam tanta polêmica quanto o uso da chupeta. Na Europa, esse tema ganhou um novo capítulo. Uma clínica inglesa lançou um tratamento exclusivo para crianças que têm o vício de chupar o dedo. O atendimento é feito por uma equipe multidisciplinar, que inclui de psicólogo a fonoaudiólogo. O fundador, Neil Counihan, decidiu abrir o serviço depois de anos tratando crianças com problemas dentários sérios, como mau posicionamento dos dentes e formação do maxilar, causados pelo hábito. Muitas vezes, o dedo é substituto imediato da chupeta, e é aí que a polêmica começa. Os especialistas dizem que nem o dedo nem a chupeta devem ser estimulados. Mas, o que fazer quando você já tentou tudo e o bebê continua chorando? Não há consenso. Alguns dizem que é melhor deixar chupar o dedo porque, à medida que cresce, a criança abandona o vício porque precisa das mãos para explorar. Os que contra-argumentam afirmam que, na hora de dormir, o dedo volta para a boca, e a chupeta pode ser retirada ou a própria criança cospe. No Brasil, os especialistas afirmam que há mais crianças usando a chupeta – certamente mais da metade usa em algum momento nos dois primeiros anos de vida.
Nos Estados Unidos, ela é recomendada – uma das razões é prevenir contra a morte súbita. A Sociedade Brasileira de Pediatria é contra. “Não indicamos, mas se você não consegue fazer com que os pais não deem, tem de dizer como usar e quando parar”, diz Adalberto Stape, pediatra do Hospital Albert Einstein (SP). É como a letra da música “Tchau Chupeta”, do grupo Pequeno Cidadão, que diz: “Todo mundo uma hora tem que se libertar” (a imagem ao lado é do clipe dessa música). Se você optou por dar, veja as respostas para as principais dúvidas que surgem nesse momento.
Tudo sobre chupeta
Qual o modelo indicado? O ortodôntico (a informação está na embalagem); que seja indicado para a idade do seu filho; que tenha bico de silicone, e não de látex; com formato anatômico e furinhos nas laterais.
Como cuidar? Depois de comprar, lave a chupeta com água e sabão neutro. Esterilize em água quente por cinco minutos, seja no fogo ou no micro-ondas. Faça isso uma vez por dia. Quando a chupeta cair no chão, lave imediatamente com água corrente e sabão neutro. Se notar que o bico rachou, está pegajoso ou com qualquer outra alteração, é hora de trocar.
Quando meu filho pode usar? Alguns médicos liberam o uso quando a criança passa por algum momento de ansiedade, como a entrada na escola e até mesmo quando não consegue dormir. “Serve como uma possibilidade de acalmar a mãe e o bebê e auxilia no desenvolvimento emocional. Mas ficar com ela por muito tempo não vai fazer bem”, afirma Eloisa Tavares de Lacerda, psicanalista e fonoaudióloga da PUC-SP. O uso indiscriminado pode causar vários malefícios, que vão desde um maior risco de infecções por bactérias até a elevação do céu da boca. Mas a chupeta, por si só, não é uma vilã. O problema é o uso que se faz dela. Por isso é tão importante prestar atenção no tempo que o seu filho fica com ela na boca – quanto menos, melhor – e fazer a transição para que ele pare de usá-la (leia ao lado). Veja o que fazer em casos específicos:
• Primeiros dias do bebê: os especialistas dizem para os pais insistirem em não dar a chupeta. Mas o que fazer se a criança usa o peito como chupeta? Aí... tudo bem dar, eles dizem.
• Hora de dormir: a maioria das crianças cospe a chupeta naturalmente durante o sono. Se ele não fizer isso – e você ainda estiver acordado – pode tirar.
• Pendurada na fralda ou na roupa: não deixe, de jeito nenhum. Isso só estimula o uso. Também não é legal deixar chupeta espalhada pela casa.
Chupeta: grande vilã?
Uma clínica inglesa acaba de lançar um tratamento para crianças que não param de chupar o dedo e, com isso, abre um debate: se é melhor ou não dar a chupeta
Thais Lazzeri
Atrapalha a amamentação? Não existe consenso. Pesquisa argentina feita no ano passado mostrou que não. Eles acompanharam mil mães de recém-nascidos com vontade de amamentar – era um pré-requisito. Metade recebeu uma chupeta com a recomendação de oferecer a partir do 15º dia, quando a amamentação estivesse estabelecida. Mais de 80% das mães de ambos os grupos amamentaram exclusivamente por três meses.
Vai entortar os dentes? Depende da intensidade do uso, da genética (se um dos pais tem os dentes mais salientes, por exemplo), e de como a criança respira (a respiração bucal pode alterar a arcada). Se ela deixar de usá-la no tempo certo e não tiver essas questões associadas, as chances de os dentes voltarem ao lugar é maior.
Hora de tirar
Quando deve ser? A partir de dois anos. Nos primeiros dias, quando ele pedir, tente distraí-lo com um brinquedo, por exemplo. Acostume-o a usar à noite, apenas. Quando isso estiver bem estabelecido, aos poucos vá tirando o hábito. E, durante todo o processo de transição, explique para o seu filho que ele está crescendo e que não precisa mais dela.
Qual erro não posso cometer? Dizer que vai tirar e devolver quando ele pedir. Combine um dia para dar tchau, mesmo, para a chupeta. Não vai ser fácil: ele provavelmente vai chorar, pedir (muitas vezes). Resista. Se você der a chupeta depois do combinado, ele entende que, diante de uma crise, você vai ceder.
Não tirei no tempo ideal. E agora? Os especialistas dizem que nunca é tarde para começar. Mas, quanto antes acontecer, menores os malefícios que o uso pode acarretar.
Ele chupa o dedo
A partir de 2 ou 3 anos você pode desestimular o hábito se ele não desaparecer naturalmente. Observe em quais momentos seu filho leva o dedo à boca. Se for quando está ansioso, ajude-o a lidar emocionalmente com a situação. Se for quando sente sono, tente distraí-lo com um livro. Mas não use pimenta ou curativos (a criança pode puxar com a boca e engasgar), eles podem causar um trauma ainda maior. Na hora de dormir, posicione os braços da criança ao longo do corpo. Se você tirar a chupeta e ele começar a chupar o dedo, faça esse mesmo processo.
Fontes: Dóris ruiz, odontopediatra; Luciano Borges, do departamento de aleitamento materno da Sociedade Brasileira de Pediatria; Lucilia Santana, pediatra do Hospital Sírio-Libanês (SP); Silvia Chedid, odontopediatra da Associação Brasileira de Odontologia; Sônia de Lourdes, pediatra do Hospital Edmundo Vasconcelos (SP)
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