Por Sérgio de Paula Santos
Nessa virada do natal passado, encantou-me um poema de um autor desconhecido, postado lá no Nassif, segundo o Agnelo – No Nordeste é diferente, é assim que a gente fala (http://www.cabrestosemno.com.br/blog/?p=4972) – ao que respondi com o Como é Bom Ser Brasileiro (http://www.cabrestosemno.com.br/blog/?p=4976).
Nessa virada do natal passado, encantou-me um poema de um autor desconhecido, postado lá no Nassif, segundo o Agnelo – No Nordeste é diferente, é assim que a gente fala (http://www.cabrestosemno.com.br/blog/?p=4972) – ao que respondi com o Como é Bom Ser Brasileiro (http://www.cabrestosemno.com.br/blog/?p=4976).
Venho notando algo muito interessante na nossa brasilidade que teria a ver com isso, pois talvez estaríamos envolvidos numa mistura das “culturas do mundo” pós-renascentistas, mas isso é lá nas minhas viagens filosóficas, como me pecha o Nonato, lá do seu Ceará. Tal idéia é até mais ampla, na verdade, e alcançaria dizer o porquê do brasileiro ter tamanho controle das suas emoções no trato das coisas discriminatórias puras. A hipótese seria de que teríamos limites mais amplos de tolerância para esses temas, por força da nossa formação histórica. Amenizemos, por aqui, entretanto, senão o Nonato vai querer desforra em cordel…
Na história das Américas – seguindo pelo constado em que o Rio Grande do Sul, Santa Catarina e Paraná margeiam o Uruguai, a Argentina e o Paraguai – tivemos um encontro com os índios bastante diferente por aqui, ao menos diante do que sabemos sobre o confronto com os índios na expansão americana para o leste. Bem, contra os filmes de heroísmo de lá, temos o “A Missão” por aqui, para contar esse encontro ao mundo, sua saga, mas, uma pena, o mocinho morre e nem é na última cena…
Assim, temos histórias pra contar daqui e dali, muitas que invejariam ao mundo, mas o que nos faz ser tão diferentes e tão iguais, a mim parece que começa pela mesma história já contada desde a infância, trazendo um histórico sensível de um heroísmo tupiniquim comum entre todos, desde o Oiapoque ao Chuí, da minha querida Claudinha Shwab… Temos o Tiradentes que louvamos todos, em nome da independência e todos os demais nossos heróis nas histórias, segundo a lógica positivista da história dos heróis em seus paradoxos quixotescos e suas insanidades (psiu… restrito, entre os que os conheceram, todos diziam que esses nossos heróis cagavam e andavam igual a todo mundo e, quer saber, não duvido!).
Uma mesma história entre nós, mas olha que engraçado, entretanto: sou do norte do Paraná e, por lá, mandioca é mandica mesmo, se bem que, em Curitiba, mandioca é aipim, mas, macacheira, a mim parece que é mandioca só mesmo pro brasileiro do nordeste… Mas talvez também seja só o meu mundo de lugares brasileiros pisados que careça mesmo de incrementos…
Fato é que, no Brasil, temos um conjunto semântico diferenciado de região pra região e a mim parece que há uma história para nos dizer o porquê disso. No Paraná, por exemplo, acercando todo o Sudoeste e do Rio Piquiri pra baixo, a cultura que forma a base da população teria sido a do povo gaúcho que subiu, com seus linguajares, os seus trejeitos e com o seu espírito de aventura, como em dirrção à Rondônia e o Pará – mas não sei se alguns dispostos até a grilagens, talvez, diante de algumas histórias tristes –, ao passo que o Norte do Estado teria sido povoado por colonizadoras que, nem sei se boas ou ruins, ao menos lá nos colonizaram sem os históricos de chacinas do Sudoeste.
Vejo isso hoje, no entanto, tomando chimarrão abaixo do Piquiri. Estranho… Chimarrão era algo que desconhecia o sabor enquanto adorava só o café, mesmo detestando o cheiro de torrefação da Cacique, lá em Londrina… (Galera, na saída para Cambé, desde criança me diziam que aquele fedor era o cheiro do progresso… Veio o progresso e estavam certos: aquele cheiro continua o mesmo fedor de sempre…)
Ainda temos a região de Curitiba, do Trevisan – tanto a do escritor, quanto a do nosso “autor” do Regulamento Aduaneiro –, e temos ali uma outra linguagem entre paranaenses. Em Londrina a gente compra uma data… Data, é verdade: produto de compra e venda, barganha e licitação. Basta perguntar a qualquer “pé vermeio” onde tem data pra vender e, povo meu, tem uns que vão até te levar no local… Data é um lote vazio, um terreno sem construção… Já em Curitiba, data é data, lote é lote, mas salsicha é vina… Meio sem graça, não dá pra parodiar o “salsichon” nas piadas pra alemãozada brasileira. Salsicha é vina, dá pra entender? Sim, dá pra entender pela história da colonização de cada uma dessas regiões e pela experiência que veio a formar a cultura de cada um desses lugares.
Na nossa gramática, semântica é o estudo do significado de cada termo. Ora, o que é o estudo semântica então, senão a busca pelo conceito dentro de cada termo empregado numa comunicação?
Os estudos de linguística tem também sua própria história, mas que eu, particularmente, conheço muito pouco. Na verdade, até hoje tive apenas que sondar o Ferdinand Saussure, no Curso de Linguística Geral, mas tomando o livro como uma referência cientifica sobre o estruturalismo e, ao final, confesso que deixei de lado a própria linguística. No mesmo pé despretensioso, estive há pouco sondando o Gilberto Freire pra minha esposa e, à primeira vista, a Pedagogia do Oprimido faria relação com a dialégica negativa e, ao mesmo tempo, também me sugere um mundo mais sensível ao brasileiro sobre o tema… todavia, também resguardemos isso aos esprectos do Nonato…
Aliás, outra questão de diversidade que ainda aflora a partir do poema estaria no próprio mecanismo de espressão de cultura que, ali, é o próprio poema, obviamente… Textos, novelas, filmes, e tudo o mais, permitem nos levar a esses lugares, mas, infelizmente, sempre a nossa interpretação pode extrair ou incluir informações que não existem nesses lugares, pois que um lugar descrito também será uma significação. Escrever em soneto, em cordel, sob rima, assim como falar da própria construção desse meio através dele mesmo, tudo isso aponta para um momento e um lugar nesse mundo…
Pois bem… Vi o Oswaldo Montenegro falando de uma amálgama cultural cuja sintese seria em Brasília, pra Leda Nagle, mas não me perguntem o programa. Tal amálgama seria uma idéia do Jorge Mautner, segundo ele, e, pelo que entendi, isso seria junção de diferentes culturas, tomando a junção classica de duas substâncias numa só, e que foram se enraizando em diferentes lugares desse nosso país. O Montenegro lembrou, sobre como tratamos certas questões de preconceitos, que há situações em que desdenhamos certas idéias, utilizando o próprio gracejo.
De Londrina, lembrei do Joaquim, o “Maizena”: azul de tanto que era gente boa… Mas só sabia a piada do negão que queria ser branco e, ou gente escutava essa de novo, ou escutava o quanto esse negão sacaneava os outros no seu dia dia… Tudo na malícia… Lembrei também do poema em prosa, da Ana Maria Machado, Menina Bonita do Laço de Fita ( em http://www.cantinhodoprofessor.org/consciencia_negra/projeto_menina_bonita.htm) …
Tratamos sim, questões de preconceitos de uma maneira bastante diferenciada que muitos povos. Na resposta ao poema, exponho que o brasileiro é gostado em muitos lugares desse planeta. Desta forma questiono: Não seria isso um fruto dessa amálgama de culturas?
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