Escrito por Selma de Assis Moura
A educação é uma das ações que definem nossa humanidade: o ser humano transcende seu status animal pois vai além dos instintos: compreende, reelabora, reflete, cria e recria, critica, aprende, ensina. A busca do homem através da história é sempre uma busca de compreender e transformar a realidade.
Já foi dito que uma característica distintiva do ser humano é a necessidade do supérfluo. O que ultrapassa os limites das necessidades básicas essenciais à sobrevivência e coloca-se no campo da atribuição de sentido é o que nos torna humanos. A admiração diante de um por do sol, a necessidade de deixar uma marca que dure além do efêmero tempo de nossa existência, o incômodo diante da desorganização e a valorização de uma certa ordem individual, o espanto diante do inusitado, a apreciação da beleza, a reflexão sobre o que é diferente e nos provoca... todos os seres humanos vivenciam essas situações ao longo de suas vidas, pois são constituídos de dimensões físicas, cognitivas, emocionais, sociais, éticas e estéticas.
Essa característica pluridimensional do ser humano por si só já seria válida para justificar a importância da arte na educação, já que sua ausência não favoreceria um desenvolvimento integral da pessoa, um dos principais objetivos da educação. Mas além desse fator há outros que valem a pena serem lembrados.
A arte é cultura. É fruto de sujeitos que expressam sua visão de mundo, visão esta que está atrelada a concepções, princípios, espaços, tempos, vivências. O contato com a arte de diversos períodos históricos e de outros lugares e regiões amplia a visão de mundo, enriquece o repertório estético, favorece a criação de vínculos com realidades diversas e assim propicia uma cultura de tolerância, de valorização da diversidade, de respeito mútuo, podendo contribuir para uma cultura de paz. O conhecimento da arte produzida em sua própria cultura permite ao sujeito conhecer-se a si mesmo, percebendo-se como ser histórico que mantém conexões com o passado, que é capaz de intervir modificando o futuro, que toma consciência de suas concepções e idéias, podendo escolher criticamente seus princípios, superar preconceitos e agir socialmente para transformar a sociedade da qual faz parte.
Além das já referidas justificativas ontológicas e culturais para a importância da arte na educação, cabe falar da dimensão simbólica da arte, de seu poder expressivo de representar idéias através de linguagens particulares, como a literatura, a dança, a música, o teatro, a arquitetura, a fotografia, o desenho, a pintura, entre outras formas expressivas que a arte assume em nosso dia-a-dia.
Essas formas são linguagens criadas pela humanidade para expressar a realidade percebida, sentida ou imaginada, e como linguagens que são, têm suas próprias estruturas simbólicas que envolvem elementos tais como espaço, forma, luz e sombra em artes visuais, timbre, ritmo, altura e intensidade em música, entre outros elementos inerentes a outras linguagens da arte. Ora, o conhecimento dessas estruturas simbólicas não é evidente aos alunos, nem se constrói espontaneamente através da livre expressão, mas precisam ser ensinados. O ensino das linguagens da arte cabe também à escola, embora não apenas a ela.
Um outro argumento em defesa da arte na educação passa pela sua importância ao desenvolvimento cognitivo dos aprendizes, pois o conhecimento em arte amplia as possibilidades de compreensão do mundo e colabora para um melhor entendimento dos conteúdos relacionados a outras áreas do conhecimento, tais como matemática, línguas, história e geografia. Um exemplo mais evidente é a melhor compreensão da história, de seus determinantes e desdobramentos através do conhecimento da história da arte e das idéias sobre as quais os movimentos artísticos se desenvolveram. Não existe dicotomia entre arte e ciência, entre pensar e sentir, entre criar e sistematizar, e a fragmentação do conhecimento é uma falácia que tem estado presente na educação, devendo ser superada, pois o ser humano é íntegro e total.
Diante de tal importância que a arte assume na educação, pode-se fazer uma revisão crítica do que a escola tem alcançado em termos de ensino da arte.
Temos conseguido valorizar nos alunos sua expressividade e potencial criativo? Temos sabido perceber, compreender e avaliar suas idéias sobre as linguagens artísticas? Temos desenvolvido nosso próprio percurso em artes de tal modo que conheçamos os conteúdos, os objetivos e os métodos para ensinar cada uma das linguagens artísticas? Temos tido suficiente bagagem teórico-conceitual para identificar o momento que cada educando vivencia em sua construção de conhecimento sobre a arte e fazer intervenções que lhe permitam avançar? Temos sabido incentivar a formação cultural de nossos educandos e ajudá-los a perceberem-se como sujeitos de cultura?
Creio que estamos vivenciando um momento histórico de grande importância na educação como um todo e na arte-educação especificamente: o desafio de superar concepções tecnicistas e utilitaristas, mas também de ir além do “deixar fazer” e da livre expressão apenas, para reconhecer que a arte tem características próprias que devem ser melhor conhecidas pelos educadores, que tem objetivos próprios e seus próprios métodos. Será que nós tivemos, em nossa educação, acesso à arte? E que acesso foi esse? Estamos reconstruindo o ensino da arte, não com base no que aprendemos na escola, mas no conhecimento que estamos a construir agora.
Nós, como educadores, precisamos aprender mais para ensinar melhor. Cada um de nós deverá ser um construtor de conhecimentos e um semeador de idéias e práticas que, esperamos, darão frutos no futuro.
Indicações de Leitura:
Derdyk, Edith. Formas de Pensar o Desenho: O desenvolvimento do grafismo infantil. São Paulo, Scipione, 1989.
Iavelberg, Rosa. Para gostar de Aprender Arte: Sala de Aula e Formação de Professores. Porto Alegre, Artmed, 2003.
Iavelberg, Rosa. O desenho Cultivado na Criança: Prática e Formação de Professores. São paulo, Zouk, 2006
Nicolau, Marieta Lúcia Machado e Marina Célia Moraes Dias (orgs). Oficinas de Sonho e Realidade na Formação do Educador da Infância. Campinas, Papirus, 2003.
Selma de Assis Moura é especialista em Linguagens das Artes pelo Centro Universitário Maria Antonia da USP, e mestre em Linguagem e Educação pela Faculdade de Educação da USP. Tem formação em Pedagogia e Magistério, e atua como professora há 15 anos. Atualmente é coordenadora pedagógica em uma escola bilíngue.
A criança e sua Arte
Educação - Arte-educação
Escrito por Simone Tenorio de Carvalho Cordeiro
A idéia central do texto é a necessidade dos educadores se colocarem na situação da criança, ou seja, de olhar o mundo através do seu olhar. Adverte que para um adulto o que ás vezes lhe parece insignificante, no que diz respeito á expressão da criança, na verdade se traduz numa expressão do seu confronto consigo mesma, de olhar para o seu próprio “eu”. Nesta expressão, está muito mais do que um simples desenhar ou garatujar sem objetivo, mas na expressão de suas reflexões, seu raciocínio e suas habilidades para pensar. A riqueza da sensibilidade em avaliar um trabalho de arte na criança está em perceber e poder compreender a sua expressividade, pois a criança só desenha o que conhece e ainda, o que é importante para ela.
É a sensibilidade do professor, que o autor está direcionando o seu discurso, uma arma tão poderosa, que poderá ou não afugentar essa expressão sincera e pura da criança. Se a criança, desde cedo for bem direcionada neste aspecto, á medida que cresce, tanto mais crescerá o seu entendimento sobre a vida e sua riqueza em detalhes interpretados livremente por ela. A pintura é o canal de se compreender a “íntima compreensão das relações que estabeleceu com as coisas que representou” (p.14), tornando a criança extremamente flexível em suas relações com o mundo.
O autor afirma que a criança que desenvolveu a confiança no sentido da interpretação positiva do adulto em relação á sua arte, sendo o seu meio de expressão, terá nela uma ferramenta valiosa de superação de suas dificuldades pessoais e onde acontecerá gradativamente o alívio de sua tensão e ansiedade nas suas relações e trocas. Todas ou quase todas as suas experiências exercem alguma influência sobre ela, e o autor chama á atenção para que: quando esta sensibilidade é trabalhada na criança e no seu interior, ela se reverterá e uma sensibilidade também em relação ás outras crianças ou pessoas, ou seja, serão despertadas na criança, atitudes desprendidas de cooperação (que se inclui aqui uma luta por objetivos melhores e mais altos e descobertas de seus sentimentos sobre si mesmas e do seu ambiente). E o mais importante, o exercício de “experimentar e errar” como algo natural e necessário á sua construção enquanto sujeito social.
O uso constante da arte na vida da criança é de total importância para o desenvolvimento sadio do seu intelecto e de suas emoções, que só poderiam ser expressar desta foram, já que o uso das palavras ainda possa aparecer inadequado, pois é algo que ela ainda não domina. O destaque para o ambiente familiar, nada mais é do que o conhecimento sobre a importância do desenho da criança e a habilidade necessária em conduzi-la sadiamente em suas expressões, o que poderá a meu ver, ser tranquilamente exposto nas reuniões de pais e professores na escola. Este é um papel importante a ser trabalhado pela escola.
Outro ponto destacado pelo autor é o acesso das crianças aos cadernos de colorir, enfatizado por ele, como inibidor, no sentido que “a criança, obrigada a seguir determinado contorno, acha-se impedida, por nós, de resolver, criativamente, suas próprias conexões” (p.23). Vou figurar como: tentar desenhar dentro de uma camisa de força. Pois nestes cadernos, não há espaço para a expressão livre, e principalmente não evidencia a sua particularidade enquanto sujeito único e individual. O grande problema para a criança está para o autor em “depois de condicionada à coloração das figuras, terá dificuldade em desfrutada independência de criar” (p.24). A expressão, portanto, das crianças, torna-se rígida e totalmente dependente de “modelos”, tornando assim, um sujeito com pensamento dirigido, inflexível e o mais agravante: tenso, pois “frustram as suas próprias ambições criativas”, e até limam completamente enquanto ela cresce e se desenvolve.
Neste mesmo fio condutor, se aplica á questão dos recortes e modelos, que enquadram as expressões das crianças numa mesma sala de aula, á um modelo único de expressão. O resultado é a perda de confiança em sua expressão pessoal. Esta imposição acaba por condicionar a expectativa inconsciente da criança e á uma dependência do adulto em relação ao modelo que ela sempre deverá seguir. O mesmo se aplica aos seus pais.
A análise de uma atividade criadora para a criança, muitas vezes está condicionada á idéia de que “devemos pintar as coisas, segundo nos parecem realidade ou de acordo com a importância que têm para nós (adultos). É justamente esta questão que se aplica às proporções utilizadas na atividade criadora da criança” (p. 31, grifo meu). Aqui realmente destaco como de grande importância, pois evidenciamos verbalmente e de forma muito enfática e até exagerada algo que nos traz sentimento de felicidade. A criança faz isso quando desenha. É exatamente a mesma proporcionalidade. Novamente, a sensibilidade aplicada á essas análises do adulto com relação à expressão da criança, é uma prática realmente viva e experimentada entre ambos. O interesse maior, o grande esforço do adulto estará em “preservar a felicidade e a liberdade” da criança. É um processo totalmente desprendido e natural, aonde a criança chegará voluntariamente ao ajuste da suas próprias proporções.
Concluindo esta reflexão, não mais importante do que as acima, os fatores fundamentais de um desenvolvimento livre da criança por conseqüência da expressão da sua arte estão às análises sobre elogios, críticas, pré-conceitos fundados em senso comuns e finalmente, a exposição da arte da criança. A sinceridade em elogiar com real merecimento, não sendo indevido e nem uma inverdade. Neste caso, o comentário positivo será a grande ajuda para que a criança explore todas as suas possibilidades em desenhar algo mais elaborado, com maior riqueza de detalhes. O extremo desta ação, é a busca pelo real na arte infantil, pois o único real é o que sai da mente da criança. A busca e o esforço por parte do professor deverá ser sempre uma valiosa ajuda ao seu desenvolvimento, sem se preocupar com modelos estereotipados.
A criança se expressa pelos seus próprios meios, que são muito peculiares de cada criança. E por fim, quando damos demasiada atenção á exposição da arte da criança, correremos o risco de aguçar precocemente o senso crítico dela em relação aos seus trabalhos artísticos. É evidente que ela ainda não tem este senso formado dentro de si, o que irá acontecer é que esta ação a tornará inflexível, e a pior das manifestações, poderá se tornar repetitiva e incapaz de ajustar-se. O efeito é uma manifestação radical e até definitiva. O autor salienta que: “O incentivo para maior criatividade e maior flexibilidade não nasce do produto de sua arte, porém de sua maior sensibilidade diante de cada tentativa” (p.38).
Análise em uma Sala de Maternal
Esta observação foi feita por mim, no processo de adaptação do meu filho á pré-escola no período de uma semana. Gostaria de destacar que, antes deste um mês de vivência no jardim de infância, era hábito dele desenhar e pintar todos os dias em casa, de forma livre e desprendida, sem nenhuma orientação da minha parte (ANEXO). A classe contava com 11 alunos e havia apenas duas mesinhas de plástico que cabiam quatro crianças em cada uma. A escola adotou a folha de sulfite A3 para imprimir as suas atividades pedagógicas diárias. O tamanho da folha é exatamente o tamanho da mesinha, onde, a professora aplicava as lições de dois em dois alunos por falta de espaço, enquanto os outros brincavam e eventualmente uma ou outra saia correndo da sala, ou pedia para ir ao banheiro ou beber água. O tempo de explicação da atividade para essas duas crianças não ultrapassavam o meio segundo.
A professora disponibilizava um potinho com vários giz-de-cera e quando a atividade tinha a aplicação de cola glitter ou plástica, a professora os auxiliava pegando em suas mãozinhas, o que acabava resultado em traços bem característicos da própria professora. Como sendo ela apenas para aplicar a atividade, observar o aluno que saiu da sala e manter a harmonia dos que brincava, a criança que estava desenvolvendo a atividade a fazia de forma mecânica e como a professora tinha que aplicar a lição aos 11 anos da classe, as atividades eram realizadas de forma rápida, e na maior parte do tempo, as crianças brincavam ou dentro da sala, ou no pátio coberto, ou na mini-quadra, ou na piscina de bolinhas. Neste um mês de adaptação, as crianças desta sala não foram nenhuma vez á brinquedoteca.
O que merece destaque nesta análise crítica é o uso de modelos prontos por parte da coordenação e diretoria do colégio. O oferecimento, por ex, de uma folha A3 em branco, neste período, nunca aconteceu. Demasiada importância se dá ao aprendizado pedagógico, como por exemplo, uma folha com duas figuras lado a lado. A primeira trata-se de uma arca com bichos e o segundo a mesma arca vazia. A professora explica rapidamente a diferença entre cheio e vazio. Quando cheguei em casa, perguntei ao meu filho sobre esta diferença, e ela não soube me responder, o que evidenciou que ele não absorveu o aprendizado desta relação.
O fato que desejo me deter é a expressividade e a criatividade em pintar essas atividades propostas, e em especial a expressividade do Rafael, meu filho, de 3 anos e 10 meses. Ele utilizava basicamente uma ou duas cores e seguia religiosamente os contornos dos desenhos (eram na verdade, folhas soltas de um grande “caderno de colorir”. Seus desenhos não tinham expressividade ou intenção. E quando terminava ele dizia: professora eu já acabei! Em um tom de “mais uma atividade feita”. A aplicação das atividades com pintura á dedo por ex, eram extremamente restritas e um cuidado demasiado da professora em manter a limpeza da sala, já que o banheiro ficava á uns cinco metros de distância da sala. Outro fator que observei, foi à verbalização da professora quando a atividade era entregue pela criança: “Nossa João Vítor, está lindo!” os trabalhos das crianças não são expostos em sala de aula, haja vista que o espaço é pequeno para a exposição das folhas A3. Eles eram imediatamente organizados e guardados dentro do armário da classe e lá ficavam até o dia da reunião de pais.
O Rafael acabou pedindo para sair da escola, e ainda hoje não sei quais foram as razões dele para essa decisão. Mas um fato muito interessante foi que, durante o processo de adaptação, ele chegava em casa cansado e sempre que eu oferecia folhas e lápis, ele recusava e não produziu praticamente nada nestes dias. Uma coisa interessante foi que ele pediu para eu comprar um caderno de colorir e eu comprei para ver se ele reproduzia exatamente a experiência dele na escola, e foi exatamente o que aconteceu. Na seqüência, depois de uma semana mais ou menos sem ir á escola, ele gradativamente foi verbalizando o desejo de pintar na “folha” em branco novamente e suas expressões voltaram a surgir com força total.
LOWENFELD, Vitor. Por que é importante a criança desenvolver uma atividade criadora? In: A criança e sua arte. São Paulo: Ed Mestre Jou, 1977.
Formação inicial e permanente do professor de arte na educação básica
Educação - Arte-educação
Escrito por Maria Emilia Sardelich
RESUMO
Este trabalho expõe uma pesquisa descritiva realizada em 1998 com professores de Educação Artística que atuam na educação básica do município de Feira de Santana, na Bahia. Conhecer esses professores e a sua prática cotidiana foram os objetivos propostos por esta pesquisa. Por meio de formulários com itens abertos e fechados, levantaram-se dados sobre a formação, tanto inicial quanto permanente, suas condições e concepções de trabalho. Evidenciaram-se a falta de formação específica dos profissionais, as precárias condições de carreira e trabalho bem como ambigüidades apresentadas nas concepções de arte analisadas. O trabalho discute também a formação permanente desse professor como ação cultural a fim de se democratizar o acesso à arte.
Para ler o artigo na sua íntegra, clique no linque abaixo:
Linque:http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0100-15742001000300006&lng=pt&nrm=iso
Maria Emilia Sardelich
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