L Herrero
- Tais Luso
Dias atrás assisti na televisão uma matéria sobre os obesos. É penoso de se ver o sofrimento destas pessoas que, contudo, não ignoram as consequências desta doença, da obesidade. A vergonha, a culpa, a descriminação que os gordos sofrem é uma dor enorme, dor na alma. Carregam e enfrentam, portando, dois problemas.
A discriminação já começa quando o chamamos de gordinhos e não de gordos. Há um certo constrangimento. Mas não existe gordinho, existe gordo e obesidade mórbida. A discriminação está no tom, na ironia.
Além da discriminação que sofrem e da autoestima que já foi pro brejo, os gordos enfrentam, ainda, as inúmeras doenças consequentes do sobrepeso. O que é o mais preocupante. Ninguém é gordo porque quer, é gordo por disfunções físicas ou de ordem psíquica.
As campanhas estão nas ruas. Dois gigantes se engalfinhando: um, tentando nos proteger e nos conscientizar; o outro, tentando nos vender o que não presta: gorduras saturadas, trans, toneladas de carboidratos, guloseimas sem fim e uma montanha de açucar. E salve-se quem puder.
Mas que discriminação é essa, se a mesma mão que afaga é a mesma que cobra e que derruba? A mesma sociedade que despeja toneladas de alimentos calóricos e gordurosos é a mesma que lá na frente exige magreza nos desfiles de moda. Que dita a moda, que exige meninas anoréxicas desfilando com ossos à mostra.
É brincadeira.
Apesar de todo o apelo da medicina, que trabalha em prol de uma sociedade mais saudável, cresce o número de pessoas com obesidade mórbida. Comer muito já faz parte da nossa rotina e não adianta malharmos feito uns loucos se o veneno entra pela boca e não sai pelos poros. Fica andando pelas artérias e se instala em vários órgãos.
O sonho de todo o gordo é ser magro. Magro saudável, magro comendo. Todos nós temos alguém conhecido vivendo numa gangorra infernal do engorda-emagrece, algo que desanima, que faz com que os gordos duvidem das próprias forças, pois são muitas as ofertas, e as tentações.
Por outro lado é difícil ajudar um gordo: não sei por que, mas nós temos uma mania horrorosa de lhes oferecer a última bolacha, a última fatia da torta... Nada pode voltar à despensa com um gordo à mesa; não combina.
E todos ajudam a fazer um gordo mais feliz nas refeições...
- Mais um pouquinho, mais um docinho, ah vá!! Não faça beicinho... você adora comer!
E lá vai o pobre gordo comer tudo, sorrindo e louco de faceiro, acreditando que a última bolacha é inofensiva.
É difícil.
É difícil.
Mas, também tive a oportunidade de ver alguns vencedores. Vi o quanto valeu uma luta! Hoje, não são mais vistos como os diferentes; não são nem magros, nem gordos, se tornaram simplesmente uns felizes anônimos misturados à multidão, como sempre desejaram.
Emagrecer para um gordo não é batalha, é guerra, é superação. Mas alguns vencem, apesar das marés. Só que para estes, a guerra continua...
A recaída é o grande inimigo.
A recaída é o grande inimigo.
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