Educação: Interagindo com a criança especial – o papel da família |
Por Raquel Luzardo de Souza | |
12 de julho de 2007 | |
A grande maioria das pessoas se imagina despreparada para cuidar de um filho especial, que representa o desconhecido. Os pais sentem-se incompetentes, atemorizados até pela idéia de criar e educar um filho especial. O filho “normal” corresponde ao idealizado, sonhado. Todas as etapas da vida estão imaginadas e previstas, mesmo que inconscientemente. Com a criança especial tudo é diferente. Ela representa o inesperado, o desconhecido. Até que dor, surpresa, rejeição sejam superados um certo tempo decorre. Os pais serão confrontados a todo instante com estes sentimentos e ainda com o da incompetência (imaginada) para cuidar desta criança. Sabe-se, porém, que educar um filho “normal” ou especial exige dos pais a mesma dose de instinto e preparo, de arte e técnica. O filho especial vai necessitar, na maioria dos casos, uma maior dose de dedicação. Criar um filho é tão prazeroso e perigoso como pilotar um avião. Com o filho “normal” a criação pode ser feita em "piloto-automático", ele vai quase sozinho... Já a criança especial exige um vôo manual, é preciso estar sempre observando a altitude, controlando os instrumentos, acelerando os motores, etc. O trabalho e a preocupação são tantos que às vezes o piloto até se esquece de apreciar a viagem e a paisagem... Mas para aqueles que conseguem vencer as mais do que compreensíveis dificuldades iniciais, muitas alegrias estão reservadas. Quem tiver olhos de ver, coração de sentir, será capaz de interagir com muita alegria com seu filho especial. Para que os pais consigam amar seu filho especial é preciso que a rejeição (normal, natural, humana) seja superada. É preciso que seja feito ou refeito o vínculo entre eles. Através dos mecanismos de sensibilidade ainda pouco conhecidos, a criança tem de saber que os pais querem que ela cresça, se desenvolva, viva. Ser capaz de desejar verdadeiramente que seu filho desenvolva ao máximo seu potencial é o primeiro passo. O amor familiar estimula a criança a progredir. E o progresso da criança alimenta o amor da família. Muitos desafios novos surgirão para a família que superou as dificuldades iniciais e vai então empreender esta viagem em vôo manual. O primeiro deles é manter, ao máximo, a rotina normal da casa. Mais do que nunca, manter o equilíbrio entre todos os membros da família é fundamental. Os irmãos têm o direito de serem informados dos acontecimentos, não se deve esconder nada. Eles geralmente sofrem mais por sentir tristeza e angústia nos pais, sem saber o que ocorre, do que quando são corretamente notificados da situação. As crianças e os avós (especialmente a avó materna) geralmente aceitam as dificuldades com mais facilidade e agem com mais naturalidade. Ao interagir com seu filho especial, os pais não devem focalizar as dificuldades, mas sim as possibilidades. As pequenas coisas da rotina diária mostram-se importantes estímulos para o desenvolvimento da criança. Conversar com o bebê, dar-lhe atenção, tocá-lo e acariciá-lo. Vesti-lo com roupas bonitas, fazer festa para comemorar o aniversário dele, reunir a família na mesma mesa para as refeições... Com os terapeutas pode-se aprender as melhores formas de segurar um bebê, de manipulá-lo, alimentá-lo, para potencializar os efeitos das terapias. Tudo com carinho, de forma natural. É muito importante incluí-lo sempre, o máximo possível, na rotina da família de passeios, viagens, idas ao restaurante, etc. Os pais não devem se incomodar com os olhares alheios, que na maioria das vezes são apenas de curiosidade, mas geralmente traduzem também solidariedade. Mesmo nas poucas ocasiões em que os olhares ou atitudes de terceiros traduzirem preconceito ou crítica, a simples presença da família em local público com seu filho especial exerce um efeito pedagógico poderoso na transformação da sociedade preconceituosa e excludente. Quais as expectativas que os pais podem ter sobre o desenvolvimento de seu filho especial? Quais serão os limites desta criança? Ninguém sabe de antemão! Mas é permitido sonhar. Não com curas impossíveis ou milagrosas, mas pelo menos com os pequenos milagres do cotidiano que representam enormes vitórias. Um sorriso, um carinho, uma palavra, vindo daquela criança da qual às vezes nada se esperava, traz ao coração um sentimento único de amor e realização, desconhecido para quem não viveu situação semelhante. Quando os pais partem com seu filho especial para esta viagem pela vida, ninguém sabe sequer se o avião vai mesmo voar ou que altitude e distância ele pode alcançar. Nem tampouco se conhecem as paisagens e as emoções que eles vão experimentar. Tudo vai depender, antes de tudo, deles mesmos. |
Educação: Interagindo com a criança especial – o papel da família
Por Raquel Luzardo de Souza
12 de julho de 2007
A grande maioria das pessoas se imagina despreparada para cuidar de um filho especial, que representa o desconhecido. Os pais sentem-se incompetentes, atemorizados até pela idéia de criar e educar um filho especial.
O filho “normal” corresponde ao idealizado, sonhado. Todas as etapas da vida estão imaginadas e previstas, mesmo que inconscientemente. Com a criança especial tudo é diferente. Ela representa o inesperado, o desconhecido. Até que dor, surpresa, rejeição sejam superados certo tempo decorre. Os pais serão confrontados a todo instante com estes sentimentos e ainda com o da incompetência (imaginada) para cuidar desta criança.
Sabe-se, porém, que educar um filho “normal” ou especial exige dos pais a mesma dose de instinto e preparo, de arte e técnica. O filho especial vai necessitar, na maioria dos casos, uma maior dose de dedicação. Criar um filho é tão prazeroso e perigoso como pilotar um avião. Com o filho “normal” a criação pode ser feita em "piloto-automático", ele vai quase sozinho... Já a criança especial exige um vôo manual, é preciso estar sempre observando a altitude, controlando os instrumentos, acelerando os motores, etc. O trabalho e a preocupação são tantos que às vezes o piloto até se esquece de apreciar a viagem e a paisagem... Mas para aqueles que conseguem vencer o mais do que compreensíveis dificuldades iniciais, muitas alegrias estão reservadas. Quem tiver olhos de ver, coração de sentir, será capaz de interagir com muita alegria com seu filho especial.
Para que os pais consigam amar seu filho especial é preciso que a rejeição (normal, natural, humana) seja superada. É preciso que seja feito ou refeito o vínculo entre eles. Através dos mecanismos de sensibilidade ainda pouco conhecidos, a criança tem de saber que os pais querem que ela cresça se desenvolva, viva. Ser capaz de desejar verdadeiramente que seu filho desenvolva ao máximo seu potencial é o primeiro passo. O amor familiar estimula a criança a progredir. E o progresso da criança alimenta o amor da família.
Muitos desafios novos surgirão para a família que superou as dificuldades iniciais e vai então empreender esta viagem em vôo manual. O primeiro deles é manter, ao máximo, a rotina normal da casa. Mais do que nunca, manter o equilíbrio entre todos os membros da família é fundamental. Os irmãos têm o direito de serem informados dos acontecimentos, não se deve esconder nada. Eles geralmente sofrem mais por sentir tristeza e angústia nos pais, sem saber o que ocorre, do que quando são corretamente notificados da situação. As crianças e os avós (especialmente a avó materna) geralmente aceitam as dificuldades com mais facilidade e agem com mais naturalidade.
Ao interagir com seu filho especial, os pais não devem focalizar as dificuldades, mas sim as possibilidades. As pequenas coisas da rotina diária mostram-se importantes estímulos para o desenvolvimento da criança. Conversar com o bebê, dar-lhe atenção, tocá-lo e acariciá-lo. Vesti-lo com roupas bonitas, fazer festa para comemorar o aniversário dele, reunir a família na mesma mesa para as refeições... Com os terapeutas podem-se aprender as melhores formas de segurar um bebê, de manipulá-lo, alimentá-lo, para potencializar os efeitos das terapias. Tudo com carinho, de forma natural.
É muito importante incluí-lo sempre, o máximo possível, na rotina da família de passeios, viagens, idas ao restaurante, etc. Os pais não devem se incomodar com os olhares alheios, que na maioria das vezes são apenas de curiosidade, mas geralmente traduzem também solidariedade. Mesmo nas poucas ocasiões em que os olhares ou atitudes de terceiros traduzirem preconceito ou crítica, a simples presença da família em local público com seu filho especial exerce um efeito pedagógico poderoso na transformação da sociedade preconceituosa e excludente.
Quais as expectativas que os pais podem ter sobre o desenvolvimento de seu filho especial? Quais serão os limites desta criança? Ninguém sabe de antemão! Mas é permitido sonhar. Não com curas impossíveis ou milagrosas, mas pelo menos com os pequenos milagres do cotidiano que representam enormes vitórias. Um sorriso, um carinho, uma palavra, vindo daquela criança da qual às vezes nada se esperava, traz ao coração um sentimento único de amor e realização, desconhecido para quem não viveu situação semelhante.
Quando os pais partem com seu filho especial para esta viagem pela vida, ninguém sabe sequer se o avião vai mesmo voar ou que altitude e distância ele pode alcançar. Nem tampouco se conhecem as paisagens e as emoções que eles vão experimentar. Tudo vai depender, antes de tudo, deles mesmos.
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