Fato Consumado: Sinal dos tempos
Marcel da COHAB
Colunista do blog
Procurei criar uma historinha fictícia para simbolizar uma realidade. Ei-la:
Dois personagens, João e Maria, amigos de infância, cresceram na mesma rua, estudaram na mesma escola e, quando adolescentes separaram-se, morando um em cada lado da cidade. Amigos confidentes, amizade que talvez nem exista mais. O norte da história será o dia do aniversário da Maria, em épocas distintas.
ANOS 80 – No dia do aniversário da Maria, num ano qualquer da década de 80, João levanta mais cedo, corre no café da manhã, atravessa a cidade e chega até a casa de sua grande amiga, com um presente em seus braços e um cartão feito a punho: “Maria feliz aniversário, minha amiga, minha irmã... Quero que tu sejas feliz, com tua família, te realizes profissionalmente na tua área onde tu sempre sonhou estar, torço por ti, eis um presente e um cartão para ti.” – diz João. Maria vai às lágrimas, ambos se abraçam. “João, meu maninho, obrigado, queira entrar, vamos comer um bolo, conversar, ainda tenho tempo antes de sair para o trabalho” – responde Maria.
ANOS 90 – No dia do aniversário da Maria, num ano qualquer da década de 90, João chega dez minutos mais cedo ao trabalho e com um cartão telefônico em punho liga para Maria: “Oláááá, parabéns, minha amiga, tá ficando velhinha...feliz aniversário, sucesso na sua nova etapa, você sonhou chegar onde está, você merece...” eles falam, falam, choram, se combinam visitas aos fins de semana, ela convida ele pra festa e o cartão acaba.
TEMPOS ATUAIS – No dia do aniversário da Maria, num ano qualquer dos anos 2000, João chega apressado ao trabalho, após ficar preso no trânsito e fazer “n” ligações de negócios, ele precisa enviar um relatório por email, nem tomou café da manhã, tampouco se despediu da esposa e filhos, liga seu computador, abre a página da internet (cujo link inicial é o orkut onde vê que Maria está de aniversário – “Não lembro quem seria essa Maria! Nem como adicionei” ele pensa, tampouco pára para ver quem é), envia o email e, ao sair apressado, diz pra secretária: “No profile do meu orkut tem umas pessoas de aniversário, procure uma mensagem no Google e manda pra eles, pode ser a mesma para todos”.
Maria, ao final do dia, recebe 180 mensagens no seu scrapbook, antigamente eram 20 abraços... Mas 180 mensagens vagas, formais, artificiais, nenhuma delas substitui o número de beijos, abraços, telefonemas e o calor humano de outrora... Sinal dos tempos.
*Qualquer semelhança de datas, fatos e nomes, terá sido mera coincidência.
Não estou em absoluto dizendo que a internet seja ruim, ao contrário. Compartilhamos dos mesmos sentimentos em relação ao mundo virtual. Nada realmente substitui o contato físico, o calor humano. O contato, o calor humano era maior, hoje as pessoas até se comunicam. CADA COISA TEM O SEU VALOR, MAS NADA SUBSTITUI O TOQUE, O OLHO NO OLHO. Mas, o contato pessoal não pode e nem deve substituir o contato humano, o calor humano.
Só não dá pra entender o porquê de nos mandarem tantas coisas lindas de morrer via e-mail, etc. e quando nos encontram ao vivo e a cores, se portam como se nunca tivessem nos visto ou conhecido, o que é no mínimo estranho.
Antigamente não se dispunha de tantos recursos e, no entanto as relações de amizade eram bem mais duradouras.
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