As crianças aprendem observando
Você já se ouviu dizendo para seus filhos algo que seus pais lhe disseram na infância? Já percebeu que toma as mesmas atitudes e muitas vezes tem as mesmas opiniões e hábitos de seus pais quando você era criança, embora tenha jurado que se tornaria diferente deles?
Agora que você é pai ou mãe, as coisas se inverteram. Seus filhos estão aprendendo com as suas expressões, suas opiniões e seus hábitos da mesma forma que você aprendeu com seus pais. E na maioria das vezes, nem você nem seus filhos percebem que estão fazendo isso. Pode ter certeza: você está no palco o tempo todo e seus filhos estão ali na plateia, bem na primeira fila.
As crianças chegam ao mundo prontas para copiar o comportamento de seus pais. Não há nada que os pais possam fazer para impedir isso. A capacidade que elas possuem de imitar os pais é tão incrível que os cientistas agora acham que isso faz parte do nosso desenvolvimento histórico como seres humanos. Se você, leitor, pegar um bebê de apenas poucos dias, segurá-lo de forma que ele possa focalizar o seu rosto e, a seguir, puser a sua língua para fora, ele moverá a própria língua. Talvez ele ainda não tenha o controle muscular para mover a língua da mesma maneira, mas se prestar bastante atenção você verá que ele está tentando imitar o seu movimento. Imitar adultos, em especial os pais, é parte integrante do que somos. Na verdade, muito antes de demonstrarem capacidade para aprender o que os outros estão tentando lhes ensinar, as crianças já são capazes de aprender apenas observando.
No entanto, observar os pais não significa apenas imitá-los. Uma das maneiras pelas quais as crianças aprendem sobre o mundo é percebendo o comportamento dos adultos que as cercam. Mesmo antes de poderem falar, os bebês monitoram seus pais em busca de sinais que indiquem se eles estão seguros ou em perigo. Quando um estranho chega perto do bebê – por exemplo, a mãe e ele estão na rua e alguém se aproxima para dizer que ele é uma gracinha -, em geral o bebê olhará para a mãe antes de “decidir” se vai se preocupar ou se inquietar. Se a mãe parecer ansiosa ou nervosa, ele provavelmente chorará, o que não irá acontecer se a mãe parecer feliz e satisfeita. Da mesma forma, quando está engatinhando pela casa, um bebê de oito meses frequentemente para e olha para trás aguardando um sinal da mãe para continuar seu passeio. Ele não está apenas se assegurando da presença da mãe; está tentando “ler” sua fisionomia para saber se pode prosseguir com segurança.
Que tipo de sinais você envia quando seus filhos estão explorando o próprio mundo? Nem sempre os pais percebem as mensagens sutis que transmitem a seus filhos através de seus atos e de suas emoções. Se um menino de cinco anos está subindo numa árvore, uma expressão de medo no rosto do pai não lhe diz apenas que o pai está com medo, mas que ele deveria estar com medo. Se o pai ficasse debaixo da árvore com um sorriso no rosto, seu filho deduziria algo completamente diferente, O pai o estaria protegendo e incentivando. Esta é uma das razões pelas quais pais ansiosos muitas vezes geram crianças ansiosas. A ansiedade não é herdada apenas (ela é, em parte), mas também é contagiosa. As crianças são muito suscetíveis às emoções que seus pais transmitem.
Ao ficarem mais velhos, em várias situações, os filhos observam seus pais em busca de orientação, e não apenas para distinguir entre o que é seguro e o que não é. Se, por exemplo, os filhos muitas vezes veem seus pais resolvendo desavenças com gritos e urros, ou mesmo com brigas corporais, eles passarão a achar que a agressão física é a melhor maneira para resolver disputas com outra pessoa. No entanto, se os pais raramente levantam a voz um para o outro, os filhos provavelmente não recorrerão a este tipo de comportamento na convivência com outras pessoas. Os pais que dizem para seus filhos não baterem uns nos outros, mas que são fisicamente agressivos, podem ficar surpresos ao descobrir que seus filhos imitam essa característica em seus relacionamentos com amigos, conhecidos e membros da família. Este é dos motivos que fazem com que crianças que tenham sofrido abusos físicos mais facilmente se tornem violentas em seus casamentos e agridam seus próprios filhos.
Como possuem um desejo forte, quase inato, de se tornarem iguais aos pais, os filhos tendem a copiar o comportamento deles. Você pode constatar a força desta tendência ao espreitar crianças imitando os pais enquanto brincam. Muitas vezes, elas repetem literalmente o que ouvem deles. Quando essas palavras são espirituosas ou sábias, você sorri e sente orgulho, mas se são agressivas e entremeadas de palavrões, sua reação será diferente. Observe e reconheça seus comportamentos nos comportamentos dos seus filhos.
A maioria dos pais subestima o quanto seus filhos observam o que eles fazem e dizem. Muito comumente esquecemos do quanto eles estão nos ouvindo, mesmo quando preferíamos que não estivessem. Mas as crianças possuem um talento extraordinário para parecerem absortas em seus próprios pensamentos quando, na realidade, estão ligadas a tudo o que se passa ao redor. Você pode achar que seu filho está absorvido de tal forma em seu livro que não ouve vocês discutirem a precária situação financeira da família. Não tenha dúvida: ele está prestando atenção ao que vocês dizem e ao tom de voz, mesmo que não consiga entender o significado de tudo. Se houver um sinal de ansiedade ou de tensão na conversa, ele o captará.
E não pense que os filhos só observam os pais quando estão em casa. Fora de casa, eles os espreitam e aprendem também com seu comportamento. Seus filhos observam você na fila do supermercado, quando você fala com o porteiro do prédio, quando faz alguma reclamação e quando conversa com os pais dos amiguinhos deles no playground. Se você trata os outros com delicadeza, gentileza e cordialidade, eles provavelmente farão o mesmo. Se você ê rude, desagradável e arrogante, eles aprenderão que esta é a maneira correta de tratar os outros. É observando os pais que eles aprendem a se relacionar com as outras pessoas.
Esse aprendizado por observação continua durante toda a infância e a adolescência. Ao ficarem mais velhos, os filhos tendem a imitar seus pais de maneira menos explícita e o fazem de formas mais sutis. Mesmo que ele pareça não estar pensando em você, seu pré-adolescente ou adolescente sabe perfeitamente como você gasta o seu tempo livre, como se diverte e como lida com o estresse. Os adolescentes adoram verificar a diferença entre o que os pais dizem e o que, na verdade, fazem. Se os filhos veem o pai beber demais para enfrentar problemas, os sermões sobre os perigos da bebida causarão pouco ou nenhum impacto no comportamento deles.
Isso não quer dizer que os filhos sempre se tornam cópias fiéis de seus pais. Embora para eles os pais sejam os mais importantes modelos de comportamento, não são os únicos. As crianças aprendem com outros membros da família, com seus coleguinhas e com o que veem na televisão. Mas pode ter certeza: elas prestam muito mais atenção nos pais do que em qualquer outra pessoa, sobretudo antes da adolescência.
Você pode achar que não tem problema resolver as questões aos gritos, salpicar palavrões em sua fala, fazer comentários preconceituosos, gabar-se de fraudar seus impostos e, de vez em quando, beber além da conta. Mas, por favor, não faça essas coisas na frente de seus filhos.
Você pode viver seus medos e ansiedades irracionais, mas não existe motivo para transmiti-los a seus filhos.
Repito: as crianças aprendem muito mais observando os pais do que ouvindo seus sermões. Por isso, tenha muito cuidado com o que diz e o que faz quando seus filhos estiverem por perto porque, queira ou não, é observando os pais que eles aprendem.
Fonte: Livro 10 princípios básicos para educar seus filhos - LAURENCE STEINBERG
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