O CASO DA
GALINHA
BUJICA
peça teatral infantil de ANDRÉ FAXAS 1989
Registrada no EDA da BN-RJ sob o nº 60.147 livro 63 Folha 383, na SBAT sob o nº 2801 . registro do autor André Faxas na SBAT: 31533
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e-mail: andrefaxas@bol.com.br
telefones: (21) 2799.5319 /86121798
PERSONAGENS:
SIMÃO CAPELA- Matuto, dono da Galinha Bujica
TADEUZINHO- Mendigo faminto
MARIA MILHO- Mulher autoritária e violenta
SEU CANDINHO- Marido de Maria Milho, submisso e pacato
SABUGÃO- Irmão de Simão, malandro e ladrão
JÚLIA MARTINICA- Fazendeira rica e arrogante
Ps. O espetáculo requer a participação de um ator, para o papel do Monstro
CENÁRIO ÚNICO: Terreiro de um casebre da roça
MÚSICA INSTRUMENTAL CAIPIRA
(ENTRA SIMÃO CAPELA, COM BUJICA NAS MÃOS)
SIMÃO CAPELA- Bujica, Bujica... Você não põe um ovinho sequer, mas eu gosto de você. É o meu maior tesouro, menina. Mas, não é porque você é mágica, não. É porque eu te tenho como uma filha minha. Mas, me diga aí, menina ? Como foi o seu dia hoje, hein ? Comeu muito milho ? Xiiiii, esqueci que você não come milho, só maçã... Mas você é mágica ! e galinha mágica não come milho, só maçã...
(ENTRA TADEUZINHO, ARRASTANDO-SE PELO CHÃO)
TADEUZINHO- Oi, Simão Capela...
SIMÃO CAPELA- Oi Tadeuzinho, tudo em paz ?
TADEUZINHO- Que nada, Simão. Dona Júlia Martinica não me deixou comer espigas hoje. Minha pobre barriguinha está a zero. Às vezes, eu procuro uns mosquitinhos para me fazerem coceirinha no estômago...
SIMÃO CAPELA- Que pena, Tadeu. Bujica já comeu todas as maçãs dela hoje, não sobrou nenhuma pra contar história.
TADEUZINHO- Maçã ? Acho que se visse uma, não saberia mais o que era.
SIMÃO CAPELA- Aliás, Tadeuzinho, por que você não trabalha, ganha dinheiro e come todo dia ?
TADEUZINHO- Porque eu até já me esqueci como é que se trabalha.
SIMÃO CAPELA- Então, vamos fazer o seguinte: você me quebra um galho, tomando conta da Bujica. Enquanto isso, vou lá no mato fazer xixi. Quando eu voltar, te dou um trocado.
(SIMÃO PÕE BUJICA NO COLO DE TADEUZINHO)
SIMÃO CAPELA- Espera um pouquinho só, Bujica. Papai já volta.
(SIMÃO SAI DE CENA) ( TADEUZINHO OLHA PRA BUJICA, FAMINTO)
TADEUZINHO- Oi, Bujica... Você é tão gordinha, bonitinha, cheirosinha, tão cheia de maçãzinha... Pôxa, que canja você iria dar, boneca. Acho que nem precisa cozinhar, vai cruazinha mesmo... Na saliva e na dentada ! (TADEUZINHO PEGA UM FACÃO) Acho que vou começar pelas coxinhas...
(SIMÃO VOLTA E, ASSUSTADO, TIRA BUJICA DO COLO DE TADEUZINHO)
SIMÃO CAPELA- Bujica !!!!!!! Tadeuzinho, você ia matar um bichinho tão inofensivo como esse ?
TADEUZINHO (FALSO) – Não... Iria apenas cortar umas peninhas em excesso...
SIMÃO CAPELA- Ah, é ????? BUJICATAGANOZIPÊ!!!!!!!
(ENTRA EM CENA O MONSTRO, COM GARFO E FACA NAS MÃOS, CORRENDO ATRÁS DE TADEUZINHO)(SAEM DE CENA) (SIMÃO RI)
SIMÃO CAPELA- Vai mesmo embora, seu morto de fome ! Você não tem condições de comer minha Bujica ! Vá catar seus mosquitinhos e faça um banquete !
(ENTRAM MARIA MILHO E CANDINHO)
SIMÃO CAPELA- Boa tarde, Dona Maria Milho. Boa tarde, seu Candinho. O que vocês mandam ?
MARIA MILHO- O que acontece seu Simão Capela, é que aquelas galinhas estão muito magras e velhas. Eu quero uma grande canja para o almoço e preciso de uma galinha bem gordinha. Candinho, sua lesma ! Diga a Simão Capela o que a gente quer.
CANDINHO- Bem, seu Simão... Maria quer a Bujica para a canja...
SIMÃO CAPELA- Bujica??? Nunca !!!! A minha amiga nunca vai fazer parte de uma canja, Dona Maria. Se quiser fazer uma canja, compre uma bem gordinha lá no aviário.
MARIA MILHO- Acontece, seu Simão Capela, que eu quero a Bujica !
SIMÃO CAPELA- Mas a Bujica, não !
MARIA MILHO (GRITANDO) – Eu quero a Bujica ! Candinho, seu asno! Tome uma providência, pega ela !
CANDINHO- Por favor, seu Simão Capela, me dê a Bujica ?
SIMÃO CAPELA- Desculpe, seu Candinho. Mas a Bujica não sai daqui.
MARIA MILHO- Essa galinha metida. Come maçã, dorme na cama, não bota ovo e ainda dizem que ela nasceu de um ovo azul. O quê essa galinha tem, que as outras não tem ?
SIMÃO CAPELA- Ela é mágica.
MARIA MILHO (RINDO) – Mágica, ah, ah, ah... Mágica, ah,ah,ah
CANDINHO (TAMBÉM RINDO) – Mágica, ah,ah,ah... Mágica, ah,ah,ah
MARIA MILHO- Cala a boca, homem ! Só sabe rir. Deixa que eu resolvo a mágica dessa galinha. Vamos ver se ela é mesmo mágica. Pega o porrete!
(CANDINHO, COM GRANDE DIFICULDADE, PEGA UM ENORME PORRETE)
SIMÃO CAPELA- É melhor a senhora não aborrecer Bujica...
CANDINHO- Esse porrete é um pouco pesado.
MARIA MILHO- Êta Homem mole ! Não serve pra nada ! (PEGA O PORRETE E AMEAÇA SIMÃO) Vai me dar ela ou não ?
SIMÃO CAPELA- Tudo bem. Mas me deixe antes falar umas palavrinhas: BUJICATAGANOZIPÊ!
(MARIA FICA PARALISADA)(ENTRA EM CENA O MONSTRO, QUE TIRA SEU LENÇO DA CABEÇA E JOGA-LHE UM SACO DE MILHO)(PEGA TAMBÉM UM BALDE D’ÁGUA E ENTORNA SOBRE A CABEÇA DE CANDINHO QUE, ALTERANDO O TOM DE VOZ, BRIGA COM MARIA)
CANDINHO- Maria Milho, sua demente ! Cara de balde amassado ! Você é a coisa mais feia do planeta! (CANDINHO PEGA UM SACO DE FARINHA E JOGA SOBRE ELA) Agora, passe já pra casa, antes que eu deforme essa tua cara de cabrito com diarréia !
(SAEM DE CENA) (SIMÃO RI)
SIMÃO CAPELA- Que canja vocês vão ter ! Canja de milho com farinha molhada ! (RINDO) Viu, Bujica ? Você é poderosa. Tudo que eu quiser, você faz. Mas eu só vou usar seus poderes, quando estiver correndo perigo. Está com fome ? Espera aí, vou buscar uma maçãzinha pra você.
(SIMÃO DEIXA BUJICA NO CHÃO E SAI DE CENA)(ENTRA EM CENA SABUGÃO, QUE PEGA BUJICA NO COLO)
SABUGÃO- Oi, Bujica ... O quê você está fazendo paradinha aí, seu bauzinho de grana ? Se eu contar, ninguém acredita. Eu posso ficar rico, às custas de uma mísera galinha. Faz tudo o que o dono quer: se ele quiser dólar, ela dá dólar. Se ele quiser ouro, ela dá ouro. Ah, garotinha, o bolso do papai vai ficar cheinho, depois que eu enganar meu irmão e te levar para os States...
(VOLTA SIMÃO, COM UMA MAÇÃ)
SIMÃO CAPELA- Oi, Sabugão, você já chegou ? (PEGA BUJICA E LHE DÁ A MAÇÃ)
SABUGÃO (DISFARÇANDO) – Oi, maninho, tudo bem ? A Bujica está tão bonita, não ?
SIMÃO CAPELA- Também, comendo um quilo de maçã por dia, até eu ficaria bonito. Está até com olho grande, pediu maçã e não quer comer.
SABUGÃO- Simão, você nunca pensou em levar a Bujica para o circo ? Afinal, ela é mágica...
SIMÃO CAPELA- Eu não quero deixar a Bujica famosa. Quero que ela continue sendo minha amiga, só isso.
SABUGÃO- Mas, mano, você ficaria rico. Tudo que ela precisaria fazer, seria demonstrar seus poderes e só. Depois voltaria pra casa com você.
SIMÃO CAPELA- É que Bujica não gosta de circo. Já a levei uma vez ao circo e ela teve medo do palhaço.
SABUGÃO (IRRITADO)- Mas ela é muito fresca !
SIMÃO CAPELA- Pode ser, mas eu gosto muito dela. Né, Bujica ?
SABUGÃO- Então me venda ?
SIMÃO CAPELA- Bujica não está à venda.
SABUGÃO- Mas, Simão... Pense bem... Ela aqui não vai te render nada. Não bota ovo, não vai para a panela, você gasta uma fortuna com maçãs... Ela aqui não vale nada, nada. Eu só quero a Bujica por uns dias, depois a trago de volta, com muita grana para nós dois.
SIMÃO CAPELA- Mas eu não vou vender não.
SABUGÃO- Você está fazendo uma burrice !
SIMÃO CAPELA- Pode ser. Mas eu não fico sem ela, né filha ?
SABUGÃO- Eu lamento muito, mas você vai ficar sem ela, maninho !
(SABUGÃO PUXA UM REVÓLVER E AMEAÇA SIMÃO)
SIMÃO CAPELA- Sabugão, largue isso rapaz !
SABUGÃO- Me desculpe, mas não vou perder uma chance dessas de ficar milionário. Vamos ! Rápido, me dê essa galinha aí !
SIMÃO CAPELA- É, meu irmão... Desculpe, mas eu não posso fazer nada.
SABUGÃO (GRITANDO)- Me dê essa galinha aí, me dê essa galinha aí !
SIMÃO CAPELA- BUJICATAGANOZIPÊ !
(SABUGÃO FICA PARALISADO)(ENTRA O MONSTRO, QUE PASSA BATOM ,VESTE UMA SAIA, UM SUTIÃ E PÕE UMA FLOR EM SUA ORELHA)(SABUGÃO, DE BRAÇOS DADOS COM O MONSTRO, SAI DESMUNHECANDO)
SABUGÃO (CANTANDO)- Hey, você aí... Me dá essa galinha aí, me dá essa galinha aí...
SIMÃO CAPELA (RINDO) – Esse aí é o machão do Sabugão ? Está mais é pra Sabugay... (GARGALHA)
(ENTRA EM CENA JÚLIA MARTINICA)
SIMÃO CAPELA- Dona Júlia Martinica, boa tarde. A que devo a honra dessa visita ?
JÚLIA MARTINICA- Senhor Simão Capela, como eu não quero perder tempo aqui nessa joça, eu vou, como sempre fiz em minha brilhante vida, perguntá-lo e indagá-lo sobre alguns assuntos polêmicos e desagradabilíssimos, que vozes sábias e inteligentes e documentos fiéis me comprovam e...
SIMÃO CAPELA (INTERROMPENDO) – Dona Júlia Martinica, dava para a senhora ser um pouquinho mais clara ?
JÚLIA MARTINICA- Pois não, seu Simão Capela. O que há, é que o senhor vem descumprindo o contrato que tem a nossa granja, produzindo pouquíssimos ovos e raríssimas galinhas gordas. Além de cuidar muito mal do sítio que alugamos ao senhor, sendo inclusive palco de brigas e confusões.
SIMÃO CAPELA- Mas, Dona Júlia, acontece que sua granja não manda milho e ração para eu dar às galinhas e assim elas ficam fracas e não botam ovos.
JÚLIA MARTINICA- Isso não interessa à nossa empresa. O senhor tem a responsabilidade de produzir bem, pois vive em nosso terreno.
SIMÃO CAPELA- Mas eu trabalho dia e noite !
JÚLIA MARTINICA- Ou dorme ? Aliás, por que essa galinha é tão gordinha e as outras não ?
SIMÃO CAPELA- Ela é de estimação.
JÚLIA MARTINICA- Então, o senhor extravia nossas melhores galinhas para consumo próprio ?
SIMÃO CAPELA- Não, Dona Júlia Martinica. A Bujica não nasceu nesse galinheiro. É filha de Dandira, uma galinha que vivia no terreiro do seu Joaquim.
JÚLIA MARTINICA- Mas toda galinha residente nesse sitio, ao adquirir dois quilos, deverá ser abatida, sendo ela nascida aqui ou não.
SIMÃO CAPELA- Só que Bujica, além de não ter dois quilos, não é uma qualquer.
JÚLIA MARTINICA- Vamos conferir seu peso.
(JÚLIA MARTINICA PEGA UMA BALANÇA, TIRA BUJICA DE SIMÃO E COLOCA-LHE NO PRATO DA BALANÇA. )
JÚLIA MARTINICA- Dois quilos, seu Simão Capela ! Essa galinha deve ser abatida imediatamente. Pegue o facão !
SIMÃO CAPELA- Por favor, dona Júlia Martinica ! Eu amo essa galinha. Além disso, ela nasceu de um ovo azul e isso só acontece de cem em cem anos !
JÚLIA MARTINICA- E o nosso lucro já está baixo há cem anos. Seu Simão Capela, o senhor tem um minuto para matar essa galinha. Senão, será expulso do sítio e preso por roubar e traficar galinhas.
SIMÃO CAPELA- Infelizmente, vou ter que dizer umas palavrinhas: BUJICATAGANOZIPÊ !
(ENTRA O MONSTRO )(VESTE JÚLIA COM UM VESTIDO CAIPIRA E SAEM DE CEN,A DANÇANDO QUADRILHA)
SIMÃO CAPELA- Essa Júlia Martinica, com toda sua pose, fica uma gracinha de caipira ! (RINDO)
(SIMÃO CAPELA SAI DE CENA COM BUJICA) (VOLTA TADEUZINHO, QUE SENTA NO CHÃO) (ENTRA TAMBÉM CANDINHO)
CANDINHO- Tarde, Tadeuzinho... O quê você está fazendo aí parado, tão tristinho ?
TADEUZINHO- É a fome, seu Candinho. Estou até vendo fantasma, de tanta fome.
CANDINHO- Fantasma, Tadeuzinho ?
TADEUZINHO- Fantasma sim, seu Candinho. Este sítio está mal-assombrado. É só o Simão Capela falar umas palavras, que aparece um fantasma querendo me almoçar. Ele é macumbeiro.
CANDINHO- Se eu te contar, você não vai acreditar. Apareceu também fantasma pra mim e pra Maria. O Simão disse uma palavra e ele apareceu.
(ENTRA MARIA MILHO COM UMA VELA NA MÃO)
MARIA MILHO- A gente tem que expulsar os fantasmas desse sítio.
CANDINHO- Maria, Tadeuzinho também viu.
TADEUZINHO- Vi sim, Dona Maria Milho.
MARIA MILHO- Primeiro, a gente tem que expulsar Simão Capela e Bujica da cidade. Eles são bruxos. Depois, botamos fogo no sítio, pra mandar esses malditos fantasmas para onde eles vieram.
(ENTRA SABUGÃO, ASSUSTADO, COM O REVÓLVER EM PUNHO E BATOM NA BOCA)
TADEUZINHO- Seu Sabugão...
MARIA MILHO- Eu sempre soube que esse bandido era meio alegre...
SABUGÃO (FURIOSO) – O que vocês estão olhando ? Eu meto bala em que vier com batom e saia para perto de mim !
CANDINHO- Não, seu Sabugão. É que o senhor está com batom na boca.
(SABUGÃO PÕE AS MÃOS NOS LÁBIOS E CONSTATA O BATOM)
SABUGÃO- É mesmo. Eu não tirei o batom que aquele infeliz monstro me colocou.
MARIA MILHO- Monstro, seu Sabugão ?
SABUGÃO- Monstro ou fantasma, sei lá. O que eu sei, é que o culpado disso é o Simão Capela e aquela Galinha Bujica.
MARIA MILHO- Com a gente aconteceu a mesma coisa.
SABUGÃO- Vestiram o seu Candinho e o Tadeuzinho de mulher ?
MARIA MILHO- Não. Quiseram almoçar o Tadeuzinho e fizeram o lerdo do Candinho virar macho.
(ENTRA EM CENA JÚLIA MARTINIC,A COM UM PAPEL NA MÃO)
JÚLIA MARTINICA- Onde está aquele feiticeiro, estelionatário, favelado e ladrão de galinha do Simão Capela ?
CANDINHO- O que aconteceu, Dona Júlia Martinica ?
JÚLIA MARTINICA- O Simão Capela está expulso do sítio e aquela galinha nojenta está com seus dias contados. Está aqui nesse decreto assinado por mim.
MARIA MILHO- A senhora viu fantasma também ?
JÚLIA MARTINICA- Não só vi, como fui avacalhada por aquele matuto. Me transformaram numa caipira qualquer.
TADEUZINHO- Essa cidade está pegando fogo. Falando em fogo, estou com uma fome.
SABUGÃO- Calma gente. Acho que eu posso explicar essa história melhor. Simão Capela, há algum tempo atrás, encontrou um ovo azul, posto pela galinha Dandira. Ela chocou o ovo e nasceu Bujica. A lenda diz, que toda galinha vinda de um ovo azul será mágica, fazendo todos os desejos do seu dono.
CANDINHO- Então esse conto é verdadeiro ?
SABUGÃO- A lenda diz que essa galinha não põe um ovo sequer. Ela é também imprópria para se comer, pois seu interior é formado por circuitos eletrônicos, feitos por pequeninos duendes, também habitantes do seu corpo.
JÚLIA MARTINICA- Então essa galinha vale uma fortuna ?
SABUGÃO- Sim, Dona Júlia Martinica. Ela vale uma fortuna.
MARIA MILHO- Então, se eu colocasse ela na canja, no outro dia a gente teria uma grande diarréia.
SABUGÃO- Bujica é movida à maçã. O seu líquido vai para lubrificar os circuitos e o bagaço, para alimentar os duendes.
TADEUZINHO- Até que um duende bem temperadinho ia cair bem.
SABUGÃO- O mais importante agora, é tirarmos a Bujica do Simão Capela. Roubamos a galinha e dividimos o lucro em quatro partes iguais.
TADEUZINHO- Quatro ? E eu, como é que fico ?
SABUGÃO- Com parte das maçãs.
TADEUZINHO- Oba ! Ainda bem que a melhor parte ficou pra mim !
SABUGÃO- O plano é o seguinte: cada um de nós irá conversar com o Simão Capela sobre qualquer assunto. Quando ele se distrair, a gente pega a Bujica e sai correndo em direção ao pé de cajá do seu Antônio. Entenderam ?
(SAEM DE CENA, EUFÓRICOS) (SIMÃO OUVIA TUDO)
SIMÃO CAPELA- Eles querem a Bujica, não é ? Pois vão ter várias Bujicas...
(SAI DE CENA)(ALGUM TEMPO DEPOIS, SIMÃO CAPELA VOLTA)(TRAZ UMA BACIA, ONDE ESTÃO 4 OVOS PINTADOS DE AZUL)(ELE MOSTRA AO PÚBLICO OS OVOS E A TINTA)(A BACIA DEVERÁ TER UM QUINTO OVO AZUL, MAS ESTE NÃO PODERÁ SER MOSTRADO AO PÚBLICO.) (ENTRA TADEUZINHO ) ( SIMÃO FINGE QUE CHORA )
SIMÃO CAPELA- Oi, Tadeuzinho. Já matou a fome ?
TADEUZINHO- Ah, sim. Comi uma espiga.
SIMÃO CAPELA (CHORANDO)- Eu estou triste. Bujica está muito doente.
TADEUZINHO- Comeu maçã demais ?
SIMÃO CAPELA- Não. Só sei que ela está morrendo e eu estou muito triste.
(TADEUZINHO TENTA DISTRAIR SIMÃO PARA PEGAR A GALINHA)
TADEUZINHO- Mas será que ela sara ?
SIMÃO CAPELA- O veterinário disse que não.
TADEUZINHO- Que droga.
SIMÃO CAPELA- Por quê ? Você gosta tanto dela ?
TADEUZINHO- Eu amo essa galinha. Amo ela, amo a moela dela.
(PROPOSITALMENTE, SIMÃO TIRA BUJICA DO NINHO, SURGINDO UM OVO AZUL)(TADEUZINHO OLHA ESPANTADO E PEGA O OVO)(DESPEDE-SE APRESSADO DE SIMÃO)
TADEUZINHO- Tchau, Simão. Já vou indo.
SIMÃO CAPELA- Já, Tadeuzinho ? Fique para o enterro de Bujica.
TADEUZINHO- Deixa pra outro dia.
(TADEUZINHO SAI DE CENA)(SIMÃO PÕE OUTRO OVO AZUL NO NINHO E BUJICA SOBRE ELE)(ENTRAM MARIA MILHO E SEU CANDINHO)
SIMÃO CAPELA- Tarde, seu Candinho. Tarde, Dona Maria Milho.
MARIA MILHO- Tarde, seu Simão Capela. Candinho quer pedir desculpas.
CANDINHO- Mas, o que eu fiz Maria ?
MARIA MILHO (BATENDO EM CANDINHO) – Idiota ! Peça desculpas a seu Simão Capela sobre agora a pouco !
SIMÃO CAPELA- Tudo bem, seu Candinho. Não foi nada.
MARIA MILHO- Por acaso, o senhor precisa de milho aí no sítio ?
SIMÃO CAPELA- Não, obrigado, Dona Maria Milho. A única coisa que eu preciso agora, é que Bujica sare. E isso, acho que nem Deus pode dar.
CANDINHO- Ela está mal mesmo, seu Simão ?
SIMÃO CAPELA- Sim. Ela está a um ano da vida e a um segundo da morte.
MARIA MILHO- Então ela não serve mais para nada ? Nem para mágicas ?
(SIMÃO PEGA BUJICA E SURGE OUTRO OVO AZUL DO NINHO)(MARIA PEGA O OVO)
SIMÃO CAPELA- A única mágica que eu queria que ela fizesse, era a de viver...
MARIA MILHO- Então, seu Simão Capela: que ela morra e o senhor também ! Vamos embora desse chiqueiro, Candinho.
(SAEM DE CENA)(SIMÃO PÕE OUTRO OVO AZUL NO NINHO) (ENTRA SABUGÃO)
SIMÃO CAPELA- Como vai, meu irmão ?
SABUGÃO- Como sempre, admirando o meu irmãozinho querido e único.
SIMÃO CAPELA- Eu também te admiro muito, Sabugão. Apesar de você ser um ladrão de galinha.
SABUGÃO- Isso não vem ao caso, Simão. Passado é passado. Agora só penso no bem-estar da nossa família : eu, você e Bujica.
SIMÃO CAPELA- Acho que a nossa família só terá duas pessoas : eu e você.
SABUGÃO- Por quê ? Você quer vendê-la ?
SIMÃO CAPELA- Não, Sabugão. A nossa Bujica está nas últimas horas de vida. Ela vai morrer, Sabugão !
SABUGÃO- O quê ? Morrer ? Logo agora ?
SIMÃO CAPELA- Por que “logo agora”, Sabugão ?
SABUGÃO- Logo agora, que eu estava gostando dela de verdade...
(SURGE OUTRO OVO AZUL NO NINHO)(SABUGÃO PEGA O OVO)
SABUGÃO (PENSANDO ALTO) – Um ovo azul !!!!
SIMÃO CAPELA- O quê, Sabugão ?
O RESTANTE, SÓ COM PEDIDO DE AUTORIZAÇÃO (21 2799.519)
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