Texto compilado e enviado por J.M. Dias:
O PENSAMENTO do século XXl reencontra os problemas tradicionais da filosofia não mais dispostos no rigor da ordem clássica, ou mesmo na hierarquia rígida do ideário positivista. A incorporação da experiência histórica fortaleceu o sentido concreto da presença dos fatos e enfraqueceu a pretensão às verdades eternas. Com isso, a filosofia tornou-se menos ciosa das prerrogativas do pensamento puro e mais atenta à complexidade do mundo, atravessando pela contingência e pela liberdade. É nesse contexto que nascem as filosofias da existência.
Para caracterizá-las, é preciso lembrar que não podemos falar delas no singular, afirmando, por exemplo, que existe um existencialismo. O que caracteriza as filosofias da existência é a multiplicidade de direções, a diversidade de influências que recebem e as maneiras como se situam frente à tradição. Apesar disso, é possível verificar alguns traços comuns, não no sentido metódico ou doutrinal, mas na maneira como todas elas formulam o problema geral do homem frente à adversidade, o que faz dessas filosofias testemunhos da conturbação histórica do nosso século.
As filosofias da existência surgiram no século XX, mas é possível encontrar ao longo da história do pensamento filósofos que se preocuparam com problemas que sem dúvida podem ser chamados de existenciais. Dependendo da amplitude que se dê a essa expressão, podemos buscar atitudes filosóficas existenciais em muitos autores do passado, pois as questões ligadas à existência humana constituem preocupação da filosofia pelo menos desde Sócrates. No entanto, quando falamos em filosofia da existência no sentido em que hoje se usa a expressão, queremos destacar não apenas a preocupação com o homem de forma geral, mas o fato de constituir a existência humana o ponto de partida e o objeto privilegiado de análise.
A HERANÇA DOS PREDECESSORES
Nesse sentido menos abrangente, um nome que não pode deixar de ser lembrado é de Sören Kierkegaard. Apesar de ter vivido na primeira metade do século XlX, o pensador dinamarquês, ao opor-se de forma drástica à filosofia sistemática de Hegel, procurou incorporar na reflexão filosófica a especialidade do indivíduo, principalmente do homem que vive a relação contraditória com a transcendência divina. Ao aceitar as contradições e os aspectos multifacetados que a existência do crente envolve e, sobretudo ao postular que a relação imediata com Deus, por intermédio da fé, gera a angústia derivada do sentimento insuperável da atitude, Kierkegaard abordou, pelo viés da reflexão acerca da experiência religiosa, alguns temas que estarão presentes em todas as filosofias da existência, e que se referem às questões inerentes à elucidação da situação humana.
As filosofias da existência são também fortemente influenciadas pelo pensamento de Nietzsche, sobretudo naquilo em que sua filosofia destaca, com uma nitidez inexistente no pensamento anterior, o equilíbrio tenso que caracteriza a afirmação da existência a partir de valores positivos, ou a sua subordinação, por via da deterioração histórica da vida, a valores negativos consubstanciados numa moral invertida que impede a expansão natural do potencial humano.
De maneira mais difusa pode-se também mencionar como credora filosófica do existencialismo a tendência da filosofia da vida, muito presente no pensamento alemão da segunda metade do século XlX. É preciso contudo não confundir o peso dessas influências com a contribuição metodológica que certas correntes deram para a elaboração de algumas filosofias da existência. É o caso, por exemplo, de Husserl, na medida em que a fenomenologia está presente na obra de Heidegger e de Sartre como diretriz metodológica de análise, sem que por isso se possa fazer alguma vinculação entre a fenomenologia husserliana e o existencialismo, do ponto de vista do conteúdo.
Compilado Por J.M. Dias.
Fonte:
HISTORIA DA FILOSOFIA - EDITORA NOVA CULTURA
Abraços do Benito Pepe
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