Quando entrar setembro
E a boa nova entrar nos campos,
Quero ver brotar o perdão
Onde a gente plantou.
Juntos outra vez,
Já sonhamos juntos
Semeando as canções no vento,
Quero ver crescer nossa voz
No que falta sonhar.
Já choramos muito,
Muitos se perderam no caminho,
Mesmo assim não custa inventar
Uma nova canção.
Já choramos muito,
Muitos se perderam no caminho,
Mesmo assim não custa inventar
Uma nova canção...
Que venha nos trazer
Sol de primavera,
Abre as janelas do meu peito,
A lição sabemos de cor,
Só nos resta aprender.
Beto Guedes
E a boa nova entrar nos campos,
Quero ver brotar o perdão
Onde a gente plantou.
Juntos outra vez,
Já sonhamos juntos
Semeando as canções no vento,
Quero ver crescer nossa voz
No que falta sonhar.
Já choramos muito,
Muitos se perderam no caminho,
Mesmo assim não custa inventar
Uma nova canção.
Já choramos muito,
Muitos se perderam no caminho,
Mesmo assim não custa inventar
Uma nova canção...
Que venha nos trazer
Sol de primavera,
Abre as janelas do meu peito,
A lição sabemos de cor,
Só nos resta aprender.
Beto Guedes
PRIMAVERA (Cecília Meireles)
Finos clarins que não ouvimos devem soar por dentro da terra, nesse mundo confidencial das raízes, — e arautos sutis acordarão as cores e os perfumes e a alegria de nascer, no espírito das flores.
Há bosques de rododendros que eram verdes e já estão todos cor-de-rosa, como os palácios de Jeipur. Vozes novas de passarinhos começam a ensaiar as árias tradicionais de sua nação. Pequenas borboletas brancas e amarelas apressam-se pelos ares, — e certamente conversam: mas tão baixinho que não se entende.
Oh! Primaveras distantes, depois do branco e deserto inverno, quando as amendoeiras inauguram suas flores, alegremente, e todos os olhos procuram pelo céu o primeiro raio de sol.
Esta é uma primavera diferente, com as matas intactas, as árvores cobertas de folhas, — e só os poetas, entre os humanos, sabem que uma Deusa chega, coroada de flores, com vestidos bordados de flores, com os braços carregados de flores, e vem dançar neste mundo cálido, de incessante luz.
Mas é certo que a primavera chega. É certo que a vida não se esquece, e a terra maternalmente se enfeita para as festas da sua perpetuação.
Algum dia, talvez, nada mais vai ser assim. Algum dia, talvez, os homens terão a primavera que desejarem, no momento que quiserem, independentes deste ritmo, desta ordem, deste movimento do céu. E os pássaros serão outros, com outros cantos e outros hábitos, — e os ouvidos que por acaso os ouvirem não terão nada mais com tudo aquilo que, outrora se entendeu e amou.
Enquanto há primavera, esta primavera natural, prestemos atenção ao sussurro dos passarinhos novos, que dão beijinhos para o ar azul. Escutemos estas vozes que andam nas árvores, caminhemos por estas estradas que ainda conservam seus sentimentos antigos: lentamente estão sendo tecidos os manacás roxos e brancos; e a eufórbia se vai tornando pulquérrima, em cada coroa vermelha que desdobra. Os casulos brancos das gardênias ainda estão sendo enrolados em redor do perfume. E flores agrestes acordam com suas roupas de chita multicor.
Tudo isto para brilhar um instante, apenas, para ser lançado ao vento, — por fidelidade à obscura semente, ao que vem, na rotação da eternidade. Saudemos a primavera, dona da vida — e efêmera.
Texto extraído do livro "Cecília Meireles - Obra em Prosa - Volume 1", Editora Nova Fronteira - Rio de Janeiro, 1998, pág. 366.
Com trabalhos para nossos alunos:
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