| Exercícios Caligráficos x Coordenação Motora | <> |
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Apesar de estarmos no século XXI, ainda hoje, crianças “pré-escolares” de 3, 4, 5, 6 anos realizam exercícios caligráficos do tipo: cobrir pontilhados, seguir caminhos (como por exemplo, levar coelhinho até a cenoura, o cãozinho ao osso) além de preencher figuras com lápis de cor. Sempre que pergunto aos professores por que adotam essa prática, costumo obter uma única resposta: “são exercícios para desenvolver a coordenação motora”. Até hoje não conheci uma criança saudável que atingisse o objetivo pretendido, mas conheci diversas e conheço outras tantas que “odeiam” tais atividades. É bem verdade que, no início do ano, movidas pelo entusiasmo dos primeiros dias, as atividades são aceitas como “divertidas”. No entanto, pouco tempo depois... são “chatas”! É assim que os pequenos alunos respondem: “de novo!?? Ai que coisa chata!” Particularmente não aprovo esses exercícios, que não colaboram para o desenvolvimento motor, psicomotor, social (ou qualquer outro)! São, isso sim, um grande equívoco. Analisemos a questão a partir do significado da expressão “coordenação motora”. Desmembrando a palavra temos: co – que vem do grego e significa “simultâneo”; ordenação – é o mesmo que ordenar, organizar, seqüenciar; e motora que é igual a movimento, ação. Então, podemos concluir que “coordenação motora” é a “ordenação simultânea dos movimentos”. Para nos movimentar, necessitamos de uma ordem cerebral. O cérebro ordena e os nossos músculos respondem. No entanto, não podemos nos esquecer: há os pequenos músculos e os grandes músculos. Os grandes músculos são aqueles dos nossos braços, ante-braços, pernas, coxas, barriga... e os pequenos músculos são os de “periferia”, isto é, dos dedos das mãos, dos pés, dos lábios, dos olhos... Não é possível os músculos de periferia responderem aos estímulos cerebrais sem que a ordem passe pelos grandes músculos! Daí concluir-se que crianças que realizam atividades caligráficas sem exercitar bastante os grandes músculos, não serão beneficiadas em seu desenvolvimento. O que concorre para desenvolver a coordenação motora de nossas crianças são as atividades que elas realizam naturalmente, sobretudo porque atendem às necessidades básicas, tais como: correr, andar, pular, saltar, trepar, rolar, atirar e pegar objetos, subir e descer escadas, pendurar-se em árvores ou brinquedos próprios, pintar, desenhar, recortar, modelar e mil outras. É importante observarmos uma criança, para percebermos o que ela gosta de fazer. O que ela gosta, certamente, está vinculado às suas necessidades. Aí então, a criança se exercita de forma prazerosa, desenvolvendo sua percepção de mundo, testando possibilidades, enfrentando desafios enfim, se conhecendo cada vez mais! Aos educadores, cabe a tarefa de criar oportunidades, de organizar brincadeiras, propiciando não só o desenvolvimento da coordenação motora, mas também do indivíduo como um todo. Aos educadores que ainda duvidam dessa verdade, deixo-lhes a seguinte reflexão: reparem nos desenhos de crianças bem estimuladas. Neles vocês encontrarão os “movimentos caligráficos” nas ondas do mar, na fumaça que sai da chaminé das casinhas, nas nuvens que flutuam ao lado do sol, cheio de raios, nas flores e árvores que adornam os jardins... só que ali, naqueles desenhos, os movimentos são espontâneos, cheios de criatividade – frutos das atividades recreativas e da observação do mundo à sua volta. Esses são os “exercícios” que as crianças gostam de fazer! Além de proporcionar-lhes prazer, possibilitam ao educador uma verdadeira AVALIAÇÃO! Em seus desenhos, as crianças revelam o que lhes vai na alma! Neles estão presentes suas percepções e o nível do seu desenvolvimento gráfico, que varia de acordo com a idade, com os ritmos individuais e com as experiências anteriores. E, então educadores? Que tal tentar outros caminhos? Chega de copiar “modelitos” de exercícios. Aliás, essas cópias, por si só, revelam uma atitude de autoritarismo: o professor copia, transpõe a cópia para folhas de exercícios, dá a ordem para o aluno e ele, coitado, a cumpre, sem nenhum esforço mental. Vamos permitir que as crianças vivenciem o mundo por meio da arte e do corpo. O movimento, a ação, a livre expressão, ajudam na construção do pensamento, na busca da identidade, da independência e da autonomia. Aqui no Cresça, não usamos exercícios caligráficos. E nossas crianças representam o seu mundo com grande riqueza de detalhes. Em geral, são organizadas, possuem letras legíveis e usam o espaço disponível do papel com adequação e criatividade. É ver, para crer! Apreciem os nossos murais! Consuelo Carvalho de Araújo - Pedagoga especialista em educação |
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