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quinta-feira, 7 de junho de 2012

Lendas do Sul

TEMA: CONTOS E LENDAS DO RS – VALORIZANDO NOSSA CULTURA GAÚCHA.

INTRODUÇÃO:
O projeto ajuda a identificar e reconhecer as tradições de um povo e suas manifestações, valorizando a maneira de agir, pensar, sentir. O folclore brasileiro é muito variado, e as diversas regiões costumam apresentar manifestações específicas, de acordo com a formação cultural de seu povo. Basicamente, o folclore brasileiro apresenta três heranças culturais principais: a dos povos indígenas, a dos colonizadores portugueses e a dos negros africanos trazidos para o País como escravos. São também importantes as contribuições dos imigrantes europeus que começaram a chegar ao Brasil. O folclore brasileiro abrange vários tipos de manifestação, desde as crendices, lendas e superstições até os folguedos e as festas populares, passando por danças e comidas típicas.


JUSTIFICATIVA:
O folclore vem, nos últimos tempos, se enfraquecendo. A influência estrangeira e a difusão da cultura de massa pela mídia podem levar à extinção ou a uma descaracterização do folclore típico brasileiro.


Justifica-se o presente projeto.













OBJETIVOS:
GERAIS:


Valorizar a maneira de agir, pensar, sentir de um povo, através de suas tradições culturais.
Aproximar as crianças das lidas de uma estância e que a gente consiga passar uma história brincando, com a intenção que eles aprendam com isto.
Identificar e reconhecer as tradições de um povo e suas manifestações, valorizando a maneira de agir, pensar, sentir.



ESPECÍFICOS:
Conhecer mais sobre a cultura gaúcha, participando de palestras e apresentações temáticas.
Incentivar a pesquisa;
Identificar o que é folclore;
Resgatar brinquedos e brincadeiras folclóricas;
Estimular a criatividade e a imaginação;
Valorizar a diversidade cultural;
Promover a conscientização das diferenças culturais e a integração entre escola, pais e alunos;
Levar o aluno a ter respeito pela cultura e pelos costumes;
Levá-lo a tomar atitudes e desenvolver hábitos de leitura e conhecimento literário; Organizar idéias, pensamentos e oralidade;
Promover debates para melhor entender as lendas e os mitos.



REFERENCIAL TEÓRICO:
A palavra folclore foi utilizada pela primeira vez pelo professor inglês William John Thoms, em 22 de agosto de 1846, data considerada Dia Internacional do Folclore. Folk, em inglês, significa povo, e lore, conhecimento. Folclore, então, seria um conhecimento emanado do povo.
Para a educadora Lívia Merces, folclore é a expressão cultural de um povo. “Esses tipos de manifestações se dão de maneira informal, são passadas de geração para geração de modos distintos, como, por exemplo, na forma de cantigas, contos, lendas, culinária ou artesanato”, disse. A maneira como esse tipo de cultura é adquirido e absorvido por um povo é espontânea. “Folclore é o que podemos chamar de cultura popular.”
gundo a educadora Lívia, “a matação folclórica é parte principal na identidade de um povo, pois, na maioria das vezes, são conhecimentos que têm sua origem na parcela mais comum da população”. Para o presidente da Comissão Paulista de Folclore, Toninho Macedo, a manifestação leva a marca da identidade das pessoas. “Não há, no folclore, uma mutabilidade rápida como há nos produtos do mercado. Mas as manifestações de folclore têm lastros que se perdem.”
O folclore está tão incluso em nossa vida que, segundo Macedo, é normal não percebermos sua presença. “Quando uma criança convida a outra para brincar na rua, quando vão soltar pipa, jogar bola ou bolinha de gude, estão vivendo o folclore, a cultura popular.”
É importante valorizar o folclore: ele representa o mais alto valor de uma nação, não importa em que setor se encontra ou a forma como pode ser classificado, pois está presente em todos os momentos de nossa vida, na canção de ninar, nas histórias, nos quitutes, nas cantigas de roda e brincadeiras, na maneira de falar.
O projeto ajuda a identificar e reconhecer as tradições de um povo e suas manifestações, valorizando a maneira de agir, pensar, sentir. O folclore brasileiro é muito variado, e as diversas regiões costumam apresentar manifestações específicas, de acordo com a formação cultural de seu povo. Basicamente, o folclore brasileiro apresenta três heranças culturais principais: a dos povos indígenas, a dos colonizadores portugueses e a dos negros africanos trazidos para o País como escravos. Embora em menor escala, são também importantes as contribuições dos imigrantes europeus que começaram a chegar ao Brasil. O folclore brasileiro abrange vários tipos de manifestação, desde as crendices, lendas e superstições até os folguedos e as festas populares, passando por danças e comidas típicas.
A palavra folclore foi utilizada pela primeira vez pelo professor inglês William John Thoms, em 22 de agosto de 1846, data considerada Dia Internacional do Folclore. Folk, em inglês, significa povo, e lore, conhecimento. Folclore, então, seria um conhecimento emanado do povo.
Para a educadora Lívia Merces, folclore é a expressão cultural de um povo. “Esses tipos de manifestações se dão de maneira informal, são passadas de geração para geração de modos distintos, como, por exemplo, na forma de cantigas, contos, lendas, culinária ou artesanato”, disse. A maneira como esse tipo de cultura é adquirido e absorvido por um povo é espontânea. “Folclore é o que podemos chamar de cultura popular.”
Segundo a educadora Lívia, “a manifestação folclórica é parte principal na identidade de um povo, pois, na maioria das vezes, são conhecimentos que têm sua origem na parcela mais comum da população”. Para o presidente da Comissão Paulista de Folclore, Toninho Macedo, a manifestação leva a marca da identidade das pessoas. “Não há, no folclore, uma mutabilidade rápida como há nos produtos do mercado. Mas as manifestações de folclore têm lastros que se perdem.”
O folclore está tão incluso em nossa vida que, segundo Macedo, é normal não percebermos sua presença. “Quando uma criança convida a outra para brincar na rua, quando vão soltar pipa, jogar bola ou bolinha de gude, estão vivendo o folclore, a cultura popular.”
Para alguns, o folclore vem, nos últimos tempos, se enfraquecendo. A influência estrangeira e a difusão da cultura de massa pela mídia podem levar à extinção ou a uma descaracterização do folclore típico brasileiro. Para Lívia Merces, a mídia pode atuar como vilã, mas também como heroína, pois pode sufocar a nossa cultura, importando produções de outros países, propiciando maior falta de informação da realidade e da cultura advinda do povo brasileiro. Mas, por outro lado, a mídia pode ser um veículo de difusão do nosso folclore. “Filmes, novelas, documentários de nossas lendas e histórias podem difundir nossa cultura. Ainda mais se considerarmos o fato de que a televisão chega até os pampas gaúchos.”
Esse trabalho se torna interdisciplinar, e o aluno participa ativamente da construção do conhecimento. Trabalhar com um projeto dessa natureza aguça a criatividade e tira da rotina professores e alunos, contribuindo para um melhor processo ensino–aprendizagem.
As informações contidas no projeto são atividades lúdicas que envolvem todas as áreas de conhecimento. Delas surgiram conteúdos como estudos contextualizados do vocabulário, tradições, lendas, provérbios, crendices populares, músicas, poesias e adivinhações; problemas envolvendo temas como remédio caseiro, massas e volumes da comida caseira, plantas medicinais (medicina alternativa), manifestações folclóricas regionais, cantigas de roda e trabalhos artísticos.
O projeto contribuiu para que os alunos desenvolvessem atividades e vivenciassem, de maneira concreta, as lendas, poesias, cantigas de roda, em um trabalho coletivo.
Muitas ciências, disciplinas e artes estão intensamente ligadas ao folclore, e, assim, a escola da Educação Infantil e do Ensino Fundamental pode e deve servir-se dele como excelente meio de transmissão de conhecimentos e revelador da cultura do povo.
PROCEDIMENTOS /DESENVOLVIMENTO ( TÉCNICAS E RECURSOS)LENDAS DO SUL




O que é lenda? Por que o povo conta lendas?


Estas perguntas não são especiosas, ou gratuitas. Bem ao contrário: Lendas são parte importante do folclore de um povo, estudá-las é  fundamental para o aprofundamento da alma popular. Muitas vezes não conhecemos um grupo social em profundidade sem intimar o seu folclore.
Estudar as lendas, portanto, é fundamental.
As lendas são histórias do País contada pelo seu povo. A lenda é local e se localiza no tempo brigatoriamente.
O povo conta lendas para fazer a sua autobiografia, para relatar as suas memória. Trata-se de uma profunda e urgente necessidade de explicar-se. As lendas são assim um depoimento que o povo faz sobre si mesmo e para si mesmo. É como se estivesse diante do espelho. Trata-se, a rigor, de uma confissão e a Igreja descobriu a importância do confessionário muito antes que a Psicanálise descobrisse o divã do analista.
Depor sobre nós mesmos é catártico e o folclore tem a vantagem sobre a mera confissão de ser sempre coletivo. Dá explicações, diz dos porquês, exorciza fantasmas. Um banco forrado de pelego numa roda de mate será sempre mais eficaz que um terapia de grupo, em matéria de resolver os escaninhos da mente popular, embora o Folclore esteja mais próximo de Jung do que de Freud.

“Valorizar a maneira de agir, pensar, sentir de um povo, através de suas tradições culturais.”
A Escola trabalha com o projeto Folclore na Escola envolvendo todas as áreas de conhecimento:
• A sua maior aplicação será no setor de linguagem oral e escrita, com a amplitude dos contos, os objetivos éticos, morais e estéticos são atingidos. A criança é conduzida a um mundo de fantasias, no qual o espírito repousa e se encanta. O conto é um veículo educativo, usado nas mais antigas civilizações, para realce dos feitos dos seus heróis e das virtudes de seus antepassados. Os provérbios, que representam uma condensação de sabedoria; as adivinhas, que são testes de conhecimentos; as parlendas; os jogos; os brinquedos recreiam, estimulam as relações sociais e reafirmam a unidade grupal.
• Na História do Brasil, na Geografia e nas Ciências, existem as lendas relativas a escravidão, mineração, bandeiras, heróis, tipos brasileiros e seus traços culturais, ambientes em que vivem, serras, lagoas e mares, com seus mitos, animais, vegetais e minerais.
• Em Matemática, há inúmeras fórmulas e outras contribuições em parlendas ou poesias e jogos; em Desenho, trabalhos manuais, artes e artesanatos, a utilização do material local, com revalorização de seus usos e motivos típicos ornamentais; na Música, nossas melodias, nossos ritmos e instrumentos; há ainda a dança e o teatro, com apresentações da beleza que possuímos nesses campos.
O aproveitamento do folclore na escola de Educação Infantil e do Ensino Fundamental é das mais válidas contribuições, pela intenção formativa e pelo caráter de nacionalidade que imprime.
No Ensino Fundamental, o folclore passa ao plano informativo, numa prospecção profunda da cultura, que levará à conclusão consciente de que “toda cultura tem uma dignidade e, pela influência recíproca que exercem uma sobre as outras, todas elas fazem parte do patrimônio comum da humanidade”.
O folclore deve ser estudado como disciplina autônoma, através de suas implicações antropológicas, sociais, psicológicas e estéticas, para o conhecimento, em profundidade, da cultura popular.
No Brasil, é antiga a lição do aproveitamento do folclore no ensino. Já nas primeiras décadas de nossa vida, os jesuítas o aplicaram com extrema sabedoria na catequese, utilizando as danças e os cantos indígenas e encenando seus autos. Anchieta, nosso primeiro mestre, nos legou esse exemplo nos campos de Piratininga.
Para os professores da Escola Nova Geração, a cultura do povo precisa ser estudada, porque é objetivo de todos os governos dar ao povo melhores condições de vida. Ao comentar a revolução dos nossos tempos, um aspecto citado por Gilberto Freyre é “a luta pelo domínio, tanto quanto possível científico, do destino humano”. O autor considera esse domínio de modo algum absoluto, “pois deve conciliar-se com o daqueles valores de sempre, às vezes superiores à própria ciência e guardados pelos clássicos, pelas igrejas e pelo próprio folclore”.
O povo não tem noção de suas origens, perde suas referências, seu sentido de identidade, ficando passível de manipulação, preocupado com os modismos, e passa a consumir o que é determinado, e não o que prefere ou entende como melhor.
O projeto Folclore é desenvolvido com alunos da Educação Infantil e do Ensino Fundamental (jardim, alfabetização e 1ª a 4ª séries), através de pesquisas, elevando o conhecimento deles. É uma atividade interessante e enriquecedora trabalhar com crianças de diferentes níveis de aprendizado, pois nos leva a um desafio maior, o do conhecimento pessoal.
É importante valorizar o folclore: ele representa o mais alto valor de uma nação, não importa em que setor se encontra ou a forma como pode ser classificado, pois está presente em todos os momentos de nossa vida, na canção de ninar, nas histórias, nos quitutes, nas cantigas de roda e brincadeiras, na maneira de falar.
O folclore brasileiro é muito variado, e as diversas regiões costumam apresentar manifestações específicas, de acordo com a formação cultural de seu povo. Basicamente, o folclore brasileiro apresenta três heranças culturais principais: a dos povos indígenas, a dos colonizadores portugueses e a dos negros africanos trazidos para o País como escravos. Embora em menor escala, são também importantes as contribuições dos imigrantes europeus que começaram a chegar ao Brasil. O folclore brasileiro abrange vários tipos de manifestação, desde as crendices, lendas e superstições até os folguedos e as festas populares, passando por danças e comidas típicas.

A palavra folclore foi utilizada pela primeira vez pelo professor inglês William John Thoms, em 22 de agosto de 1846, data considerada Dia Internacional do Folclore. Folk, em inglês, significa povo, e lore, conhecimento. Folclore, então, seria um conhecimento emanado do povo.
Para a educadora Lívia Merces, folclore é a expressão cultural de um povo. “Esses tipos de manifestações se dão de maneira informal, são passadas de geração para geração de modos distintos, como, por exemplo, na forma de cantigas, contos, lendas, culinária ou artesanato”, disse. A maneira como esse tipo de cultura é adquirido e absorvido por um povo é espontânea. “Folclore é o que podemos chamar de cultura popular.”
Segundo a educadora Lívia, “a manifestação folclórica é parte principal na identidade de um povo, pois, na maioria das vezes, são conhecimentos que têm sua origem na parcela mais comum da população”. Para o presidente da Comissão Paulista de Folclore, Toninho Macedo, a manifestação leva a marca da identidade das pessoas. “Não há, no folclore, uma mutabilidade rápida como há nos produtos do mercado. Mas as manifestações de folclore têm lastros que se perdem.”
O folclore está tão incluso em nossa vida que, segundo Macedo, é normal não percebermos sua presença. “Quando uma criança convida a outra para brincar na rua, quando vão soltar pipa, jogar bola ou bolinha de gude, estão vivendo o folclore, a cultura popular.”
Para alguns, o folclore vem, nos últimos tempos, se enfraquecendo. A influência estrangeira e a difusão da cultura de massa pela mídia podem levar à extinção ou a uma descaracterização do folclore típico brasileiro. Para Lívia Merces, a mídia pode atuar como vilã, mas também como heroína, pois pode sufocar a nossa cultura, importando produções de outros países, propiciando maior falta de informação da realidade e da cultura advinda do povo brasileiro. Mas, por outro lado, a mídia pode ser um veículo de difusão do nosso folclore. “Filmes, novelas, documentários de nossas lendas e histórias podem difundir nossa cultura. Ainda mais se considerarmos o fato de que a televisão chega até os pampas gaúchos.”
O projeto Folclore na Escola tem como objetivos incentivar a pesquisa; identificar o que é folclore; resgatar brinquedos e brincadeiras folclóricas; estimular a criatividade e a imaginação; valorizar a diversidade cultural; promover a conscientização das diferenças culturais e a integração entre escola, pais e alunos; levar o aluno a ter respeito pela cultura e pelos costumes; levá-lo a tomar atitudes e desenvolver hábitos de leitura e conhecimento literário; organizar idéias, pensamentos e oralidade; promover debates para melhor entender as lendas e os mitos. Esse trabalho se torna interdisciplinar, e o aluno participa ativamente da construção do conhecimento. Trabalhar com um projeto dessa natureza aguça a criatividade e tira da rotina professores e alunos, contribuindo para um melhor processo ensino–aprendizagem.
As informações contidas no projeto são atividades lúdicas que envolvem todas as áreas de conhecimento. Delas surgiram conteúdos como estudos contextualizados do vocabulário, tradições, lendas, provérbios, crendices populares, músicas, poesias e adivinhações; problemas envolvendo temas como remédio caseiro, massas e volumes da comida caseira, plantas medicinais (medicina alternativa), manifestações folclóricas regionais, cantigas de roda e trabalhos artísticos.
 Orojeto contribuiu para que os alunos desenvolvessem atividades e vivenciassem, de maneira concreta, as lendas, poesias, cantigas de roda, em um trabalho coletivo.
Muitas ciências, disciplinas e artes estão intensamente ligadas ao folclore, e, assim, a escola da Educação Infantil e do Ensino Fundamental pode e deve servir-se dele como excelente meio de transmissão de conhecimentos e revelador da cultura do povo.


 Dia do Folclore
Por definição, folclore é o conjunto das tradições, lendas e crenças de um povo cuja expressão se dá através da cultura, linguagem, artesanato, religiosidade, alimentação e vestuário de uma determinada região ou nação. O Brasil é dono de um dos folclores mais ricos do mundo, construído pelos índios, negros e brancos.
O Dia do Folclore foi instituído em 1965, quando o presidente da República, Castello Branco, assinou o Decreto Federal n° 56.747, denominando o dia 22 de agosto como o Dia do Folclore Brasileiro. Dois anos depois, no Estado de São Paulo, em 27 de junho de 1967, o governador do estado, Abreu Sodré, assinou o decreto nº 48.310, instituindo agosto como o Mês do Folclore.
A criação das datas que comemoram o folclore tinha como objetivo resgatar os personagens da mitologia brasileira. Os resultados foram positivos e a prova disso é o Saci, que há pouco tempo ganhou seu próprio dia, comemorado em 31 de outubro.
Anselmo Vieira











Lendas são histórias anônimas muito antigas que fazem parte da imaginação popular poética, em que a fantasia e o real se misturam, criando assombrações e seres naturais que não existem; elas são transmitidas de geração a geração. Com essa percepção, os alunos desenvolveram, através da dramatização, a histórias.
Em história que mamãe conta, aparece a do bicho-papão. Com a dramatização, os alunos puderam conhecer um pouco mais dessa lenda.
Trabalhamos de forma diferenciada, estudando o texto sobre folclore, pesquisando e analisando a diferença entre lendas e mitos. Levamos para a sala de aula o que foi pesquisado em livro e na Internet. Dependendo do texto escolhido foram feitas a leitura do texto e a adaptação do enredo para que todos pudessem participar.
O enredo foi baseado na lenda. Acrescentamos falas e alguns personagens, procuramos aproximar ao máximo o enredo à lenda original


Negrinho do pastoreio
Naquele tempo os campos ainda eram abertos, não havia entre eles nem divisas nem cercas; somente nas volteadas se apanhava a gadaria xucra e os veados e as avestruzes corriam sem empecilhos...
Era uma vez um estancieiro, que tinha uma ponta de surrões cheios de onças e meias-doblas e mais muita prataria;. porém era muito cauíla e muito mau, muito.
Não dava pousada a ninguém, não emprestava um cavalo a um andante; no invemo o fogo da sua casa não fazia brasas; as geadas e o minuano podiam entanguir gente, que a sua porta não se abria; no verão a sombra dos seu umbus só abrigava os cachorros; e ninguém de fora bebia água das suas cacimbas.
Mas também quando tinha serviço na estância, ninguém vinha de vontade dar-lhe um ajutório; e a campeirada folheira não gostava de conchavar-se com ele, porque o homem só dava para comer um churrasco de tourito magro; farinha grossa e erva-caúna e nem um naco de fumo... e tudo, debaixo de tanta somiticaria e choradeira, que parecia que era o seu próprio couro que ele estava lonqueando...
Só para três viventes ele olhava nos olhos: era para o filho, menino como uma mosca, para um bafo cabos- negros, que era o seu parelheirode confiança, e para um escravo, pequeno ainda, muito bonitinho e preto como carvio e a quem todos chamava somente o - Negrinho
. A este não -deram padrinhos nem nome; por isso o Negrinho se dizia afiIhado da Virgem, Senhora Nossa, que é a madrinha de quem não a tem.
Todas as madrugadas o Negrinho galopeava o parelheiro baio; depois conduzia os avios do chimarrão e à tarde sofria os maus tratos do menino, que o judiava e se ria.
Um dia, depois de muitas negaças, o estancieiro atou carreira com um seu vizinho. Este queria que a parada fosse para os pobres; o outro que não, que não? que a parada devia ser do dono do cavalo que ganhasse. E trataram: o tiro era trinta quadras, a parada, mil onças de ouro.
No dia aprazado, na concha da carreira havia gente como em festa de santo grande.
Entre os dois parelheiros a gauchada não sabia se decidir, tão perfeito era e bem lançado cada um dos animais. Do baio era fama que quando corria, corria tanto, que o vento assobiava-lhe nas crinas; tanto, que só se ouvia o barulho, mas não se Ihe viam as patas baterem no chão... E do mouro era voz que quanto mais cancha, mais aguente, e que desde a largada ele ia ser como um laço que se arrebenta...
As parcerias abriram as guaiacas, e aí no mais já se apostavam aperos contra rebanhos e redomões contra lenços.
- Pelo baiol Luz e doble!...
- Pelo mourol Doble e luz!...
Os corredores fizeram as suas partidas à vontade e depois as obrigadas; e quando foi na última, fizeram ambos a sua senha e se convidaram. E amagando o corpo, de rebenque no ar, largaram, os parelheiros meneando cascos, que parecia uma tormenta...
- Empate! Empate! gritavam os aficionados ao longo da cancha por onde passava a parelha veloz, compassada como uma colhera.
- Valha-me a Virgem madrinha, Nossa Senhora! gemia o Negrinho. Se os sete-léguas perde, o meu senhor me mata! Hip! hip! hip!...
E baixava o rebenque, cobrindo a marca do baio.
- Se o corta-vento ganhar é só para os pobres!... retrucava o outro corredor. Hip! hip!
E cortava as esporas no mouro.
Mas os fletes corriam, compassados como numa colhera. Quando foi na última quadra, o mouro vinha arrematado e o baio vinha aos tirões.., mas sempre juntos, sempre emparelhados.
E as duas braças da raia, quase em cima do laço, o baio assentou de supetão, pós-se em pé e fez uma cara-volta, de modo que deu ao mouro tempo mais que preciso para passa, ganhando de luz aberta! E o Negrinho, de em um ginetaço.
- Foi mau jogo! gritava o estancieiro.
- Mau jogo! secundavam os outros da sua parceria.
A gauchada estava dividida no julgamento da carreira; mais de um torena coçou o punho da adaga, mais de um desapresilhou a pistola, maisn de um virou as esporas para o peito de pé... Mas o juiz, que era um velho do tempo da guerra de Sepé-Tiarajú, era um juiz macanudo, que já tinha visto muito mundo. Abanando a cabeça branca sentenciou, para todos ouvirem:
- Foi na le! A carreira é de parada morta; perdeu o cavalo baio, ganhou o cavalo mouro. Quem perdeu, que pague. Eu perdi cem gateadas; quem as ganhou venha.buscá-las. Foi na lei!
Não havia o que alegar. Despeitado e furioso, o estancieiro pagou a parada, à vista de todos, atirando as mil onças de ouro sobre o poncho do seu contrário, estendido no chão.
E foi um alegrão por aqueles pagos, porque logo o ganhador mandou distribuir tambeiros e leiteiras, côvados de baeta e baguais e deu o resto, de mota, ao pobrerio. Depois as carreiras seguiram com os changueiritos que havia.
O estancieiro retirou-se para a sua casa e veio pensando, pensando, calado, em todo o caminho. A cara dele vinha lisa, mas o coração vinha corcoveando como touro de banhado laçado a meia espalda... O trompaço das mil onças tinha-lhe arrebentado a alma.
E conforme apeou-se, da mesma vereda mandou amarrar o Negrinho pelos pulsos a um palanque e dar-lhe, dar-lhe uma surra de relho.
Na madrugada saiu com ele e quando chegou no alto da coxilha falou assim:
- Trinta quadras. tinha a cancha da carreira que tu perdeste: trinta dias ficará aqui pastoreando a minha tropilha de trinta tordilhos negros... O baio fica de piquete na soga e tu ficas de estaca!
O Negrinho começou a chorar, enquanto os cavalos iam pastando.
Veio o sol, veio o vento, veio a chuva, veio a noite. O Negrinho, varado de fome e já sem força nas mãos, enleou a soga num pulso e deitou-se encostado a um cupim.
Vieram então as corujas e fizeram roda, voando, paradas no ar, e todas olhavam-no com os olhos reluzentes, amarelos na escuridão. E uma piou e todas piaram, como rindo-se dele, paradas no ar, sem barulho nas asas.
O Negrinho tremia, de medo... porém de repente pensou na sua madrinha Nossa Senhora e sossegou e dormiu.
E dormiu. Era já tarde da noite, iam passando as estrelas; o Cruzeiro apareceu, subiu e passou; passaram as Três-Marias; a estrela-d'alva subiu... Então vieram os guaraxains ladrões e farejam o Negrinho e cortaram a guasca da sogra. O bafo sentindo-se solto rufou a galope, e toda a tropilha com ele, escaramuçando no escuro e desguaritando-se nas canhadas.
O tropel acordou o Negrinho; os guaraxains fugiram, dando berros de escárnio.
Os galos estavam cantando, mas nem o céu nem as barras do dia se enxergava: era a cerração que tapava tudo.
E assim o Negrinho perdeu o pastoreio. E chorou.
O menino maleva foi lá e veio dizer ao pai que os cavalos não estavam. O estancieiro mandou outra vez amarrar o Negrinho pelos pulsos a um palanque e dar-lhe, dar-lhe uma surra de relho.
E quando era já noite fechada ordenou-lhe que fosse campear o perdido. Rengueando, chorando e gemendo, o Negrinho pensou na sua,madrinha Nossa Senhora e foi ao oratório da casa, tomou o coto de vela aceso em frente da imagem e saiu para o campo.
Por coxilhas e canhadas, na beira dos lagoões, nos paradeiros e nas restingas, por onde o Negrinho ia passando, a vela benta -ia pingando cera no chão: e de cada pingo nascia uma nova luz, e já eram tantas que clareavarn tudo. O gado ficou deitado, os touros não escarvaram a terra e as manadas xucras não dispararam... Quando os galos estavam cantando, como na véspera, os cavalos relincharam todos juntos. O Negrinho montou no baio e tocou por diante a tropilha, até a coxilha que o seu senhor Ihe marcara.
E assim o Negrinho achou o pastoreio. E se riu...
Gemendo, gemendo; o Negrinho deitou-se encostado ao cupim e no mesmo instante apagamm-se as luzes todas; e sonhando com a Virgem, sua madrinha, o Negrinho dormiu. E não apareceram nem as corujas agoureiras nem os guaraxúns ladrões; porém pior do que os bichos maus, ao clarear o dia veio o menino, fiIho do estancieiro e enxotou os cavalos, que se dispersaram, disparando campo afora, retouçando e desguaritando-se nas canhadas.
O tropel acordou o Negrinho e o menino maleva foi dizer ao seu pai que os cavalos não estavam lá...
E assim o Negrinho perdeu o pastoreio. E chorou...
O estancieiro mandou outra vez amarrar o Negrinho pelos pulsos, a um palanque e dar-lhe, dar-Ihe uma surra de relho... dar-lhe até ele não mais chorar nem bulir, com as carnes recortadas, o sangue vivo escorrendo do corpo... O Negrinho chamou pela Virgem sua madrinha e Senhora Nossa, deu um suspiro triste, que chorou no ar como uma música, e pareceu que morreu...
 E como já era de noite e para não gastar a enxada em fazer uma cova, o estancieiro mandou atar o corpo do Negrinho na panela de um formigueiro, que era para as formigas devorarem-Ihe a carne e o sangue e os ossos... E assanhou bem as formigas; e quando elas, raivosas, cobriram todo o corpo do Negrinho e começaram a trincá-lo, é que então ele se foi embora, sem olhar para trás.
Nessa noite o estancieiro sonhou que ele era ele mesmo, mil vezes e que tinha mil filhos e mil negrinhos, mil cavalos baios e mil vezes mil onças de ouro.., e que tudo isto cabia folgado dentro dem um formigueiro pequeno...
Caiu a serenada silenciosa e molhou os pastos, as asas dos pássaros e a casca das frutas.
Passou a noite de Deus e veio a manhã e o sol encoberto. E três dias houve cerração forte, e três noites o estancieiro teve o mesmo sonho.
A peonada bateu o campo, porém, ninguém achou a tropilha e nem rastro.
Então o senhor foi ao formigueiro, para ver o que restava do corpo do escravo.
Qual não foi o seu grande espanto, quando chegado perto, viu na boca do formigueiro o Negrinho de pé, com a pele lisa, perfeita, sacudindo de si as formigas que o cobriam ainda!...
O Negrinho, de pé, e ali ao lado, o cavalo baio e ali junto, a tropilha dos trinta tordilhos.., e fazendo-lhe frente, de guarda ao mesquinho, o estancieiro viu a madrinha dos que não a têm, viu a Virgem, Nossa Senhora, tão serena, pousada na terra, mas mostrando que estava no céu...
Quando tal viu, o senhor caiu de joelhos diante do escravo.
E o Negrinho, sarado e risonho, pulando de em pêlo e sem rédeas, no baio, chupou o beiço e tocou a tropilha a galope.
E assim o Negrinho pela última vez achou o pastoreio. E não chorou, e nem se riu.
Correu no vizindário a nova dó fadário e da triste morte do Negrinho, devorado na panela do formigueiro.
Porém logo, de perto e de longe, de todos os rumos do vento, começaram a vir notícias de um caso que parecia um milagre novo...
E era, que os posteiros e os andantes, os que dormiam sob as palhas dos ranchos e os que dormiam na cama das macegas, os chasques que cortavam por atalhos e os tropeiros que vinham pelas estradas, mascates e carreteiros, todos davam notícia - da mesma hora - de ter visto passa, como levada em pastoreio, uma tropilhade tordilhos, tocada por um Negrinho, gineteando de em pêlo, em um cavalo baio!...
Então, muitos acenderam velas e rezaram o Padre-nosso pela alma do judiado. Daí por diante, quando qualquer cristão perdia uma cousa, o que fosse, pela noite velha o Negrinho campeava e achava, mas só entregava a quem acendesse uma vela, cuja luz ele levava para pagar a do altar da sua madrinha, a Virgem, Nossa Senhora, que o remiu e salvou e deu-lhe uma tropilha, que ele conduz e pastoreia, sem ninguém ver.
Todos os anos, durante três dias, o Negrinho desaparece: está metido em algum formigueiro grande, fazendo visita às formigas, suas amigas; a sua tropilha esparrama-se; e um aqui, outro por lá, os seus cavalos retouçam nas manadas das estâncias. Mas ao nascer do so do terceiro dia, o baio relincha perto do seu ginete; o Negrinho monta-o e vai fazer a sua recolhida; é quando nas estâncias acontece a disparada das cavalhadas e a gente olha, olha, e não vê ninguém, nem na ponta, nem na culatra.
Desde então e ainda hoje, conduzindo o seu pastoreio, o Negrinho, sarado e risonho, cruza os campos, corta os macegais, bandeia as restingas, desponta os banhados, vara os arroios, sobe as coxilhas e desce às canhadas. O Negrinho anda sempre à procura dos objetos perdidos, pondo-os de jeito a serem achados,. pelos seus donos, quando estes acendem um coto de vela, cuja luzele leva para o altar da Virgem Senhora Nossa, madrinha dos que não a têm.
Quem perder suas prendas no campo, guarde esperança: junto de algum moirão ou sob os ramos das árvores, acenda uma vela para o Negrinho do pastoreio e vá lhe dizendo - Foi por aí que eu perdi...
Foi por aí que eu perdi... Foi por aí que eu perdi!...
Se ele não achar: ninguém mais.


Salamanca do Jarau


No tempo dos padres jesuítas, existia um moço sacristão no Povo de Santo Tomé, na Argentina, do outro lado do rio Uruguai. Ele morava numa cela de pedra nos fundos da própria igreja, na praça principal da aldeia.
Ora, num verão mui forte, com um sol de rachar, ele não conseguiu dormir a sesta. Vai então, levantou-se, assoleado e foi até a beira da lagoa refrescar-se. Levava consigo uma guampa, que usava como copo.
Coisa estranha: a lagoa toda fervia e largava um vapor sufocante e qual não é a surpresa do sacristão ao ver sair d'água a própria Teiniaguá, na forma de uma lagartixa com a cabeça de fogo, colorada como um carbúnculo. Ele, homem religioso, sabia que a Teiniaguá - os padres diziam isso!- tinha partes com o Diabo Vermelho, o Anhangá-Pitã, que tentava os homens e arrastava todos para o inferno. Mas sabia também que a Teiniaguá era mulher, uma princesa moura encantada jamais tocada por homem.
Aquele pelo qual se apaixonasse seria feliz para sempre.
Assim, num gesto rápido, aprisionou a Teiniagá na guampa e voltou correndo para a igreja, sem se importar com o calor. Passou o dia inteiro metido na cela, inquieto, louco que chegasse a noite.
Quando as sombras finalmente desceram sobre a aldeia, ele não se sofreu: destampou a guampa para ver a Teiniaguá. Aí, o milagre: a Teiniaguá se transformou na princesa moura, que sorriu para ele e pediu vinho, com os lábios vermelhos. Ora, vinho só o da Santa Missa. Louco de amor, ele não pensou duas vezes: roubou o vinho sagrado e assim, bebendo e amando, eles passaram a noite.
No outro dia, o sacristão não prestava para nada. Mas, quando chegou a noite, tudo se repetiu. E assim foi até que os padres finalmente desconfiaram e numa madrugada invadiram a cela do sacristão. A princesa moura transformou-se em Teiniaguá e fugiu para as barrancas do rio Uruguai, mas o moço, embriagado pelo vinho e de amor foi preso e acorrentado.
Como o crime era horrível - contra Deus e a Igreja! - foi condenado a morrer no garrote vil, na praça, diante da igreja que ele tinha profanado.
No dia da execução, todo o Povo se reuniu diante da igreja de São Tomé. Então, lá das barrancas do rio Uruguai a Teiniaguá sentiu que seu amado corria perigo. Aí, com todo o poder de sua magia, começou a procurar o sacristão abrindo rombos na terra, um valos
enormes, rasgando tudo. Por um desses valos ela finalmente chegou à igreja bem na hora em que o carrasco ia garrotear o sacristão. O que se viu foi um estouro muito grande, nessa hora, parecia que o mundo inteiro vinha abaixo, houve fogo, fumaça e enxofre e tudo afundou e tudo desapareceu de vista. E quando as coisas clarearam a Teiniaguá tinha libertado o sacristão e voltado com ele para as barrancas do rio Uruguai.
Vai daí, atravessou o rio para o lado de cá e ficou uns três dias em São Francisco de Borja, procurando um lugar afastado onde os dois apaixonados pudessem viver em paz. Assim, foram parar no Cerro do Jarau, no Quaraim, onde descobriram uma caverna muito funda e comprida. E lá foram morar, os dois.
Essa caverna, no alto do Cerro, ficou encantada. Virou Salamanca, que quer dizer "gruta mágica", a Salamanca do Jarau. Quem tivesse coragem de entrar lá, passasse 7 Provas e conseguisse sair, ficava com o corpo fechado e com sorte no amor e no dinheiro para o resto da vida.
Na Salamanca do Jarau a Teiniaguá e o sacristão se tornaram os pais dos primeiros gaúchos do Rio Grande do Sul. Ah, ali vive também a Mãe do Ouro, na forma de uma enorme bola de fogo. Às vezes, nas tardes ameaçando chuva, dá um grande estouro numa das cabeças do Cerro e pula uma elevação para outra. Muita gente viu.
A lenda da Salamanca do Jarau é a mais bela e mais complexa das recolhidas do conhecimento popular e documentadas pela genialidade de João Simões Lopes Neto, em 1913, no livro “Lendas do Sul”. Dela participam – como num mural de encantadora plasticidade – formas e cores de diferentes raças, crenças e terras. Entende-se que os mouros teriam introduzido a prática da magia negra nas terras da Espanha. A cidade de Salamanca era o mais importante reduto dessa prática, embora também estivesse presente em Córdoba e Toledo.
Mas, a “Cueva de Salamanca” ou de San Cibrian (ou de Cipriano mais tarde) deixou fundas raízes desse culto, que era praticado em cavernas e subterrâneos escuros e ocultos.
Nada mais natural que os campeiros do Rio Grande, assim como os rio-platenses, tenham chamado de Salamancas as cavernas e furnas descobertas aqui, e nelas depositados seus fantásticos tesouros, a desafiar a coragem e incentivar a imaginação de todos.
A Salamanca do Jarau é uma delas. As notícias de tesouros nas terras da América, a origem vulcânicas do cerro, com suas manifestações sísmicas e sua imponência na monotonia das planícies do pampa, criaram o ambiente para desenvolver na mente fantasiosa dos nativos, essa lenda que teria assinalado o nascimento da raça gaúcha. Nela está viva e pulsante toda a força do imaginário dos primeiros povoadores destes campos.
A moura princesa, o espanhol sacristão, o português Blau Nunes, mesclando o espanto guarani, à rebeldia charrua, a nostalgia do negro – no ventre do cerro – miscigenaram etnias para o nascimento do homem do pampa, livre das maldições vencidas nas sete provas.
Colmar Duarte


Poeta e criador da Califórnia da Canção Nativa do Rio Grande do Sul
Uma das mais vigorosas e belas páginas da literatura universal, A Salamanca do Jarau, só agora – próximo a um século de sua criação – começa a ser entendida em toda sua abrangência. Seu autor, o pelotense João Simões Lopes Neto, considerado escritor regionalista, é, na verdade, um precursor do modernismo. Usa a linguagem rio-grandense para expressar o humano, o mítico, o todo eo o único, aquilo que faz o sonho e o desespero dos indivíduos de quaisquer épocas ou espaços. Por isso, hoje se diz que a linguagem simoniana é universal.
Vigor e ternura, drama e lirismo são as tintas com que Simões Lopes Neto escreveu A Salamanca..., para alguns lenda, para outros conto, talvez novela poética.
Considerando o potencial de força e beleza que o Teatro de Sombras extrai e acrescenta aos textos que apresenta, festejo a iniciativa do diretor Alexandre Fávero, da Cia Teatro Lumbra de Animação, neste audacioso projeto.
Enfim o projeto “A Salamanca do Jarau” poderá revelar seus mananciais de cultura gaúcha, poesia pampiana e reflexão humanística. E o que – para o Rio Grande do Sul, pobre de conhecimento de Simões Lopes Neto – é mais importante: Blau Nunes e os mistérios do cerro do Jarau serão difundidos, levando o Rio Grande e instigando interpretações e questionamentos. É o pampa, igual as estepes e pradarias européias, comunicando sua misteriosa sabedoria.


Hilda Simões Lopes


Escritora e Socióloga pelotense


Simões Lopes Neto sem dúvida é um clássico não só da literatura gaúcha mas da literatura universal. Senão vejamos: quem falou com tamanha maestria daquilo que há de mais genuíno na alma gaúcha, as inquietações desse povo que habitava e habita esse imenso país chamado Pampa? Érico Veríssimo em O Tempo e o Vento, Cyro Martins na sua Trilogia do Gaúcho à pé... Dentre esses grandes artífices da alma gaúcha certamente Simões Lopes Neto tem seu lugar de destaque.
Boa parte do mérito da Companhia Teatro Lumbra reside aí. Montar "A lenda da Salamanca do Jarau" através da linguagem do teatro de sombras sem dúvida é uma oportunidade ímpar de levar ao grande público de nosso estado parte da obra desse grande contador de causos.
"Patrício, apresento-te Blau, genuíno tipo crioulo!"
Amigos, abram olhos, ouvidos e o coraça! Vem aí a Companhia Teatro Lumbra com “A Salamanca do Jarau”, casamento de teatro com histórias magníficas de nossa gente, nossa história, nossa literatura, nossa alma.


Richard Serraria


Professor de história, poeta, compositor


e vocalista da banda porto-alegrense Bataclã FC.




A lenda da Casa de MBororé (Missões)


No tempo dos Sete Povos das Missões, havia um índio velho muito fiel aos padres jesuítas, chamado MBororé. Com a chegada dos invasores portugueses e espanhóis, os padres precisaram fugir levando em carretas os tesouros e bens que pudessem carregar. Assim, amontoaram o muito que não podiam levar consigo – ouro, prata, alfaias, jóias, tudo!- e construíram ao redor uma casa branca, sem porta e sem janela. Para evitar a descoberta da casa pelo inimigo e o conseqüente saqueio, deixaram o velho índio fiel MBororé cuidando, com ordens severas de só entregar o tesouro quando os jesuítas voltassem às Missões.
Mas os jesuítas nunca mais voltaram. Com o passar dos anos, o velho índio morreu e o tempo foi marcando tudo, deixando as ruínas de pé como as cicatrizes de um sonho que acabou. Acabou? Não. A Casa de MBororé continua lá num mato das Missões, imaculadamente branca, cuidada pela alma do índio fiel que ainda espera a volta dos jesuítas.
Às vezes, algum mateiro –lenhador ou caçador- dá com ela, de repente, num campestre qualquer. Imediatamente dá-se conta de que é a Casa de MBororé, cheia de tesouros. Resolve então marcar bem o local para voltar com ferramentas e abrir a força a casa que não tem porta nem janela. Guarda bem o lugar na memória pelas árvores tais e tais, pela direção do sol e coisas assim. Sai, volta com ferramentas, só que nunca mais acha de novo a Casa Branca de MBororé, sem porta e sem janela.”




São Sepé


Sepé era um índio valente e bom, que lutou contra os estrangeiros para defender a terra das missões. Ele era predestinado por Deus e São Miguel: tinha nascido com um lunar na testa. Nas noites escuras ou em pleno combate, o lunar de Sepé brilhava, guiando seus soldados missioneiros. Quando ele morreu, vencido pelas armas e o número de portugueses e espanhóis, Deus Nosso Senhor retirou de sua testa o lunar, que colocou no céu do pampa para ser o guia de todos os gaúchos - é o Cruzeiro do Sul.


A moça do cemitério


Em Porto Alegre, num ponto de táxi que fica na rua Otto Niemayer, esquina Cavalhada, às vezes aparece uma moça loira, lindíssima, usando sempre um vestido vermelho, muito bonito e chamativo. E sempre à noite. Ela toma um taxi e manda tocar para um lugar qualquer que passe pelo cemitério da Vila Nova mas, ao passar por este, ela simplesmente desaparece! Vários motoristas porto-alegrenses, muitos dos quais vivos até hoje, transportaram a moça-fantasma e repetem a mesma história.


A Lenda do minhocão


Diz-se que na Lagoa do Armazém, em Tramandaí aparecia nas águas do minhocão, uma espécie de serpente monstruosa, muito grande, olhos de fogo verde, língua também de fogo, com pêlos na cabeça. Virava embarcações com rabanadas e comia nas margens porcos e galinhas. Hoje o povo acredita que o Minhocão deixou a lagoa e voltou para o mar.


Boitatá


(J. Simões Lopes Neto)


A Andrade Neves Neto


Foi assim:


Num tempo muito antigo, muito, houve uma noite tão comprida que pareceu quenunca mais haveria luz do dia.
Noite escura como breu, sem lume no céu, sem vento, sem serenada e sem rumores,sem cheiro dos pastos maduros nem das flores da mataria.
Os homens viveram abichornados, na tristeza dura; e porque churrasco não havia,não mais sopravam labaredas nos fogões e passavam comendo canjica insossa; osborralhos estavam se apagando e era preciso poupar os tições...
Os olhos andavam tão enfarados da noite, que ficavam parados, horas e horas,olhando, sem ver as brasas vermelhas do nhanduvai... as brasas somente, porqueas faíscas, que alegram, não saltavam, por falta do sopro forte de bocascontentes.
Naquela escuridão fechada nenhum tapejara seria capaz de cruzar pelos trilhosdo campo, nenhum flete crioulo teria faro nem ouvido nem vista para bater naquerência; até nem sorro daria no seu próprio rastro!
E a noite velha ia andando... ia andando...
Minto:
no meio do escuro e do silêncio morto, de vez em quando, ora duma banda oradoutra, de vez em quando uma cantiga forte, de bicho vivente, furava o ar: era otéu-téu ativo, que não dormia desde o entrar do último sol e que vigiavasempre, esperando a volta do sol novo, que devia vir e que tardava tanto já...
Só o téu-téu de vez em quando cantava; o seu - quero-quero! - tão claro,vindo de lá do fundo da escuridão, ia agüentando a esperança dos homens,amontoados no redor avermelhado das brasas.
Fora disto, tudo o mais era silêncio; e de movimento, então, nem nada.
Minto:
na última tarde em que houve sol, quando o sol ia descambando para o outro ladodas coxilhas, rumo do minuano, e de onde sobe a estrela-d’alva, nessa últimatarde também desabou uma chuvarada tremenda; foi uma manga d’água que levouum tempão a cair, e durou... e durou...
Os campos foram inundados; as lagoas subiram e se largaram em fitas coleandopelos tacuruzais e banhados, que se juntaram, todos, num: os passos cresceram etodo aquele peso d’água correu para as sangas e das sangas para os arroios,que ficaram bufando, campo fora, campo fora, afogando as canhadas, batendo nolombo das coxilhas. E nessas coroas é que ficou sendo o paradouro da animalada,tudo misturado, no assombro. E era terneiros e pumas, tourada e potrilhos,perdizes e guaraxains, tudo amigo, de puro medo. E então!...
Nas copas dos butiás vinham encostar-se bolos de formigas; as cobras seenroscavam na enrediça dos aguapés; e nas estivas do santa-fé e das tiriricasboiavam os ratões e outros miúdos.
E, como a água encheu todas as tocas, entrou também na cobra-grande, a -boiguaçu - que, havia já muitas mãos de luas, dormia quieta, entanguida. Elaentão acordou-se e saiu, rabeando.
Começou depois a mortandade dos bichos e a boiguaçu pegou a comer as carniças.Mas só comia os olhos e nada, nada mais.
A água foi baixando, a carniça foi cada vez engrossando, e a cada hora maisolhos a cobra-grande comia.
Cada bicho guarda no corpo o sumo do que comeu.
A tambeira que só come trevo maduro, dá no leite o cheiro doce do milho verde;o cerdo que come carne de bagual nem vinte alqueires de mandioca o limpam bem; eo socó tristonho e o biguá matreiro até no sangue tem cheiro de pescado.Assim também, nos homens, que até sem comer nada, dão nos olhos a cor de seusarrancos. O homem de olhos limpos é guapo e mão-aberta; cuidado com osvermelhos; mais cuidado com os amarelos; e, toma tenência doble com os raiadose baços!...
Assim foi também, mas doutro jeito, com a boiguaçu, que tantos olhos comeu.
Todos - tantos, tantos! que a cobra-grande comeu -, guardavam, entranhado eluzindo, um rastilho da última luz que eles viram do último sol, antes danoite grande que caiu... E os olhos - tantos, tantos! - com um pingo de luz cadaum, foram sendo devorados; no princípio um punhado, ao depois uma porção,depois um bocadão, depois, como uma braçada.
E vai,como a boiguaçu não tinha pêlos como o boi, nem escamas como o dourado, nempenas como o avestruz, nem casca como o tatu, nem couro grosso como a anta, vai,o seu corpo foi ficando transparente, transparente, clareado pelos miles deluzezinhas, dos tantos olhos que foram esmagados dentro dele, deixando cada qualsua pequena réstia de luz. E vai, afinal, a boiguaçu toda já era uma luzerna,um clarão sem chamas, já era um fogaréu azulado, de luz amarela e triste efria, saída dos olhos, que fora guardada neles, quando ainda estavam vivos...
Foi assim e foi por isso que os homens, quando pela vez primeira viram a boiguaçutão demudada, não a conheceram mais. Não conheceram e julgando que era outra,muito outra, chamam-na desde então, de boitatá, cobra de fogo, boitatá, aboitatá!
E muitas vezes a boitatá rondou as rancheiras, faminta, sempre que nem chimarrão.Era então que o téu-téu cantava, como bombeiro.
E os homens, por curiosos, olhavam pasmados, para aquele grande corpo deserpente, transparente - tatá, de fogo - que media mais braças que três laçosde conta e ia alumiando baçamente as carquejas... E depois, choravam. Choravam,desatinados do perigo, pois as suas lágrimas também guardavam tanta ou maisluz que só os olhos e a boitatá ainda cobiçava os olhos vivos dos homens, quejá os das carniças a enfaravam...
Mas, como dizia:
na escuridão só avultava o clarão baço do corpo da boitatá, e era por elaque o téu-téu cantava de vigia, em todos os flancos da noite.
Passado um tempo, a boitatá morreu; de pura fraqueza morreu, porque os olhoscomidos encheram-lhe o corpo mas lhe não deram substância, pois que sustâncianão tem a luz que os olhos em si entranhada tiveram quando vivos... Depois derebolar-se rabiosa nos montes de carniça, sobre os couros pelados, sobre ascarnes desfeitas, sobre as cabelamas soltas, sobre as ossamentas desparramadas,o corpo dela desmanchou-se, também como cousa da terra, que se estraga de vez.
E foi então, que a luz que estava presa se desatou por aí.
E até pareceu cousa mandada: o sol apareceu de novo!
Minto:
apareceu sim, mas não veio de supetão. Primeiro foi-se adelgaçando o negrume,foram despontando as estrelas; e estas se foram sumindo no coloreado do céu;depois foi sendo mais claro, mais claro, e logo, na lonjura, começou a subiruma lista de luz... depois a metade de uma cambota de fogo... e já foi o solque subiu, subiu, subiu, até vir a pino e descambar, como dantes, e destafeita, para igualar o dia e a noite, em metades, para sempre.
Tudo o que morre no mundo se junta à semente de onde nasceu, para nascer denovo: só a luz da boitatá ficou sozinha, nunca mais se juntou com a outra luzde que saiu.
Anda sempre arisca e só, nos lugares onde quanta mais carniça houve, mais seinfesta. E no inverno, de entanguida, não aparece e dorme, talvez entocada.
Mas de verão, depois da quentura dos mormaços, começa então o seu fadário.
A boitatá, toda enroscada, como uma bola - tatá, de fogo! - empeça a correr ocampo, coxilha abaixo, lomba acima, até que horas da noite!...
É um fogo amarelo e azulado, que não queima a macega seca nem aquenta a águados manantiais; e rola, gira, corre, corcoveia e se despenca e arrebenta-se,apagado... e quando um menos espera, aparece, outra vez, do mesmo jeito!
Maldito! Tesconjuro!
Quem encontra a boitatá pode até ficar cego... Quando alguém topa com ela sótem dois meios de se livrar: ou ficar parado, muito quieto, de olhos fechadosapertados e sem respirar, até ir-se ela embora, ou, se anda a cavalo,desenrodilhar o laço, fazer uma armada grande e atirar-lhe em cima, e tocar a galope, trazendo o laço de arrasto, todo solto, até a ilhapa!
A boitatá vem acompanhando o ferro da argola... mas de repente, batendo numamacega, toda se desmancha, e vai esfarinhando a luz, para emutilar-se de novo,com vagar, na aragem que ajuda.
Campeiro precatado! reponte o seu gado da querência da boitatá: o pastiçal, aí faz peste....
Tenho visto!


A Origem do Mate, segundo os jesuítas


Um dia Cristo desceu à terra, acompanhado por São João e São Pedro, e veio ter às selvas americanas. Depois de um penoso viajar pelas florestas sem fim, encontrou - perdido no fundo dos bamburrais - o rancho de um velho índio que ali morava em companhia de sua filha, jovem de deslumbrante formosura. Os três viajantes foram muito bem recebidos, e Jesus resolveu premiar aquela franca hospitalidade que encontrara no rancho do selvícola. Indagando-lhe o que mais desejava em sua vida, recebeu esta resposta:
- Senhor! Anhangá tomou conta dos corações humanos: as guerras incendeiam os campos de minha terra, e não há mais tranqüilidade nas tabas de meu povo. Vencedores, os guerreiros não poupam os vencidos: os homens são trucidados e as mulheres jovens são arrastadas a satisfazer os mais baixos instintos. Por isso, fugi de minha tribo e vim enterrar-me no escuro das florestas. Não por salvar-me, que pouco me resta viver. Mas para afastar minha filha das garras do pecado. Sei que em breve morrerei, e o que mais me acabrunha é pensar que a deixarei desprotegida, novamente exposta à fúria das paixões. Assim, Senhor, se alguma cousa me fosse dado pedir, eu pediria uma eterna proteção à alma de minha filha. Que ela fosse eternamente bondosa, eternamente pura, eternamente linda:
Respondeu Jesus:
- Se Anhangá hoje impera em tuas selvas, podes crer que o Deus-do-bem voltará a estender seu manto de paz sobre a taba de teus irmãos. As selvas se encherão de cânticos e as almas se encherão de luz. É o Deus-do-Bem que me envia para proteger teu povo... Tu, que foste bom, generoso e hospitaleiro, mereces ser recompensado. Farei de tua filha aquilo que me pedes. Símbolo da bondade, ela retribuirá o mal com o bem: aos que quiserem roubar as delícias do seu corpo, premiará com a fartura nos ranchos. E nenhuma força será capaz de abatê-la, pois por mais que a queiram aniquilar, sempre haverá de renascer, triunfante, trazendo força e inteligência aos homens de tua raça. Tua filha será eternamente linda e eternamente pura, pois. transformá-la-ei na mais linda e mais pura das árvores; linda no contorno das folhagens e pura no manto verdejante que lhe descerá até os pés. Tua filha será eternamente linda, eternamente pura e bondosa...
E Deus a transformou na erva-mate...






SÂO TOMÉ NA AMÉRICA


Quando, em 1624, os padres Montoga e Mendonza fundaram a vila de Encarnación, importante missão jesuítica posteriomente destruída, tiveram curiosidade em saber o que pensavam os selvícolas a respeito do mate, bebida que já constituía um hábito característico do Paraguai. Tiveram por resposta que a erva-mate lhes servia de alimento e remédio desde o dia em que Pai-Zumé, um estranho personagem que há muito tempo estivera naquelas tabas, lhes ensinara como aproveitar as folhas da caá (que até então julgavam venenosas), e como lhes usufruir os efeitos medicinais. Contavam também os indígenas que Zumé era um homem poderoso: as selvas brutas conservavam intacto o caminho por onde ele passara, desde o Tibagi até o Piquiri; e às margens deste rio, Zumé havia deixado, numa pedra, o sinal de seus pés - testemunho eterno de sua passagem por aquelas terras.
Os dois jesuítas logo aliaram a figura de Zumé à pessoa de São Tomé, o apóstolo que provavelmente teria visitado o continente americano pregando a doutrina de Cristo. A versão cristianizada da lenda logo se espalhou entre as populações brancas, e em breve era voz corrente que a erva-mate havia sido descoberta e bendita pelas mãos de São Tomé. Isto é o que vamos encontrar em muitos livros da época, a iniciar-se pelo “Tratado sobre o uso do mate no Paraguai”, escrito pelo licenciado Diego Zevallos em meados do século XVII e publicado em Lima no ano de 1667.
Lozano, no capítulo VIII de sua “História de la Conquista del Paraguay”, também se refere a São Tomé, narrando que durante uma terrível peste que assolara as tribos guaranis, foi aquele santo o salvador do gentio, ensinando-lhes como preparar a erva-mate, eficaz remédio contra aquela epidemia e muitas outras doenças.
A peste foi vencida, e a milagrosa bebida, cujo uso se generalizara por todas as tabas guaranis, continuou a prestar inúmeros benefícios. E por muito tempo os selvícolas guardaram na memória a figura daquele bom Zumé, que um dia, apesar das súplicas e protestos gerais, teve de deixar as terras do Paraguai.
Santo Tomé les responde:
“Os tengo que abandonar
Porque Cristo me ha mandado
Otras tierras visitar.
En recuerdo de mi estada
Una merced os he de dar,
Que es la yerba paraguaya
Que por mi bendicta está”.
Santo Tomé entró en el rio


Y en peana de cri tal


La aguas se lo llevaron


A las l anuras del mar.


Los indios, de zu partida


No se pueden consolar,


y a Diós sempre están pidiendo


Que vuelva Santo Tomás.




(Trecho extraído do livro "História do Chimarrão", de Barbosa Lessa, publicado em 1a. edição pelo Departamento de Cultura da Prefeitura do Município de São Paulo e editado posteriormente em 2a. edição pela Livraria Sulina.












A Origem do Mate - Guaranis

Os cânticos de guerra reboaram na floresta, e Itabaetê marchou com seus homens à procura do grande acampamento. Toda a tribo partira, levando nos olhos o brilho da vitória. Só um homem, enfraquecido pelo peso dos anos, não pudera seguir nesta nova arrancada guerreira. E ficara chorando no oito de uma coxilha, olhar estendido à linha de combatentes que serpenteava pelos caminhos. Mesmo depois da tribo ter desaparecido no véu da grande mata, ainda o velho índio permanecera numa atitude de estátua, mudo, enovelado em mil recordações das pelejas passadas. Voltava, em pensamento. àqueles tempos em que seu braço era o mais temido da tribo, a sua flecha a mais certeira, os seus olhos os mais seguros a perscrutar a imensidão das noites, Agora, fraco, envelhecido, estava condenado a atirar-se inativo ao fundo das matarias. Para seu consolo, restavam-lhe apenas as recordações, e a beleza de Yarí, a mais jovem e a mais formosa de suas filhas - a qual, surda ao convite de muitos guerreiros enamorados, preferira permanecer junto ao velho pai, adoçando-lhe as últimas horas de vida com o mel de seus sorrisos.
Um dia, chegou ao rancho do velho guarani um viageiro estranho - roupagem colorida, olhos lembrando o azul de céus longínquos. O guarani logo percebeu que o homem vinha de terras distantes, muito além das matas do Maracaju, matas que ele cortara, vibrando de entusiasmo, nas caminhadas de outrora. A porta de couro de seu rancho abriu-se inteiramente, recebendo o estrangeiro. Yarí foi buscar os frutos mais lindos da floresta, e o mel mais doce das mirins. E o seu velho pai, cerrando um pouco os olhos para melhor buscar as riquezas de um mundo afastado no tempo, recordava episódios de sua mocidade, entusiasmava-se no relato das caçadas perigosas e dos entreveros ruidosos. Tudo foi feito para que as horas que o estrangeiro passasse naquele rancho fossem cheias de contentamento.
Desceu a noite sobre a terra e a rede foi estendida para o sono do visitante. Seus sonhos foram povoados pela voz suave da virgem, entoando as cantigas guaranis. E no outro dia, quando o sol espiou por entre os ramos mais baixos do arvoredo, foi encontrar o estrangeiro já pronto para seguir viagem.
- Em tuas mãos repousa a generosidade das fontes cristalinas... - disse ele ao velho índio. - Em teu coração se abriga a hospitalidade das planuras infindas dos charruas, onde os campos se abrem em mil caminhos sem estender nada que impeça o andar do viageiro; no corpo de tua filha se esconde a pureza dos o1hos-d’água e a alegria das madrugadas de minha terra. Tanta virtude merece ser recompensada. Venho dos domínios de Tupá, o Deus do Bem. Pede o que quiseres!
- Nada mereço pelo que fiz, senhor! -, respondeu o guarani. - Mas como a bondade imensa de Tupá quer pousar suas mãos sabre este rancho pobre, eu pediria mais um pouco de alento para os últimos passos do meu viajar. Outrora, eu guiava pelos caminhos da guerra um sem-fim de guerreiros; hoje, somente minha filha enche de vida as minhas horas derradeiras. Eu quisera um outro companheiro, que atirasse doçura aos meus lábios e descanso ao meu coração. Alguém que fosse meu último amigo, um amigo fiel. Assim, Yarí poderia seguir o rastro da nossa tribo, onde os jovens anseiam por seu amor para continuarem mais confiantes no caminho da vitória. É o que peço, senhor: um amigo fiel, um companheiro que encha de doçura a horas amargas da saudade...
O emissário de Tupá sorriu. Em suas mãos brilhava - recoberta de uma luz estranha - uma planta repleta de folhagens verdes, donde se desprendia um perfume de bondade, talvez o mesmo perfume de Tupá.
- Deixa crescer esta planta, e bebe de suas folhas! - disse o enviado de Deus. - Bebe de suas folhas, e terás o companheiro que pedes! Esta erva, que traz em si a graça do Tupá, se estenderá pelas matas, trazendo o conforto não só a ti mas a todos os homens de tua tribo. E tu, Yarí, serás a protetora das florestas que haverão de surgir. Os guerreiros provarão a mesma delícia de teu carinho ao sorver esta bebida; as caminhadas de guerra serão menos fatigantes, e os dias de descanso mais felizes...
E já se afastando do rancho, o enviado de Tupá repetiu:
- Terás um companheiro fiel, velho chefe guarani... E será a protetora de tua raça, Caá-Yarí...
E desde então Caá-Yarí é a senhora dos ervais e a deusa dos ervateiros. Todos merecem dela o máximo de auxilia, se lhe são fiéis. E se algum ervateiro, ainda não satisfeito com aquela proteção, quiser ver a fartura escorrendo de seus dedos, poderá fazer com ela um pacto sagrado. Bastará entrar numa igreja, durante a Semana Santa, e pedir Caá-Yarí em casamento, jurando viver para sempre nos ervais, voltado somente para o culto de sua deusa, sem nunca mais amar outra mulher... Deixará, depois, num ramo de erva-mate, um bilhete no qual marca um encontro com a bela protetora das florestas No dia marcado, deverá penetrar no fundo da mataria, onde Caá-Yarí lhe provará a bravura, interrompendo-lhe o caminho com serpentes e feras. E se o ervateiro for corajoso e forte, vencendo a todos os perigos, receberá a recompensa de Yarí.
Sua vida será toda tomada pelo amor da jovem deusa. Suas noites serão cheias de prazer, e seus dias cheios de fartura. Os ervais se despirão por encanto, enchendo os surrões de couro sem que ele tenha gasto o mínimo de esforço. Na hora da pesagem, Caá-Yarí - que é invisível para todos menos para o seu amante - pousará sobre os feixes de erva, aumentando o peso da colheita. A felicidade será eterna para o ervateiro!
Eterna... se ele não quebrar seu juramento... Pois se alguma mulher consegue desnorteá-lo, haverá de lhe entregar, junto às carícias, a sentença da desgraça. Um dia, o ervateiro será encontrado estirado no meio dos ervais, inexplicavelmente morto, ou então correndo pelas florestas, ensangüentado, delirando, louco!
É a vingança de CaáYarí! Ela jamais perdoa!



Caverá
O Caverá é uma região na fronteira-oeste do Rio Grande do Sul, ouriçada de cerros, que se estende entre Rosário do Sul e Alegrete. Na Revolução de 1923, entre os maragatos (os revolucionários) e os chimangos (os legalistas) o Caverá foi o santuário do caudilho maragato Honório Lemes, justamente apelidado "O Leão do Caverá".
Diz a lenda que a região, no passado, era território de uma tribo dos Minuanos, índios bravios dos campos, ao contrário dos Tapes e Guaranis gente mais do mato. Entre esses Minuanos, destacava-se a figura de Camaco, guerreiro forte e altivo, mas vivendo uma paixão não correspondida por Ponaim, a princesinha da tribo, que só amava a própria beleza...
Os melhores frutos de suas caçadas, os mais valiosos troféus de seus combates, Camaco vinha depositar aos pés de Ponaim, sem conseguir dela qualquer demonstração de amor.
Um dia, achando que lhe dava uma tarefa impossível, Ponaim disse que só se casaria com Camaco se ele trouxesse a pele do Cervo Berá para forrar o leito do casamento. O Cervo Berá era um bicho encantado, com o pelo brilhante - daí o seu nome. O mato era dele: Caa-Berá, Caaverá, Caverá, finalmente.
Então Camaco resolveu caçar o cervo encantado. Montando o seu melhor cavalo, armado com vários pares de boleadeiras, saiu a rastrear, dizendo que só voltaria depois de caçar e courear o Cervo Berá.
Depois de muitas luas, num fim de tarde ele avistou a caça tão procurada na aba do cerro. O cervo estava parado, cabeça erguida, desafiador, brilhando contra a luz do sol morrente. Sem medo, Camaco taloneou o cavalo, desprendeu da cintura um par de boleadeiras e fez as pedras zunirem, arrodeando por cima da cabeça. Então, no justo momento em que o Cervo Berá deu um salto para a frente quando o guerreiro atirou as Três Marias, houve um grande estouro no cerro e uma cerração muito forte tapou tudo. Durante três dias e três noites os outros índios campearam Camaco e seu cavalo, mas só acharam uma grande caverna que tina se rasgado na pedra dura do cerro e por onde, quem sabe, Camaco e seu cavalo tinham entrado a galope atrás do Cervo Berá para nunca mais voltar.

João de Barro


Contam os índios que, há muito tempo, numa tribo do sul do Brasil, um jovem se apaixonou por uma moça de grande beleza. Melhor dizendo: apaixonaram-se. Jaebé, o moço, foi pedi-la em casamento. O pai dela perguntou:
- Que provas podes dar de sua força para pretender a mão da moça mais formosa da tribo?
- As provas do meu amor! - respondeu o jovem.
O velho gostou da resposta mas achou o jovem atrevido. Então disse:
- O último pretendente de minha fila falou que ficaria cinco dias em jejum e morreu no quarto dia.
Eu digo que ficarei nove dias em jejum e não morrerei.
Toda a tribo se espantou com a coragem do jovem apaixonado. O velho ordenou que se desse início à prova.
Enrolaram o rapaz num pesado couro de anta e ficaram dia e noite vigiando para que ele não saísse nem fosse alimentado. A jovem apaixonada chorou e implorou à deusa Lua que o mantivesse vivo para seu amor. O tempo foi passando. Certa manhã, a filha pediu ao pai:
- Já se passaram cinco dias. Não o deixe morrer.
O velho respondeu:
- Ele é arrogante. Falou nas forças do amor. Vamos ver o que acontece.
E esperou até até a última hora do novo dia. Então ordenou:
- Vamos ver o que resta do arrogante Jaebé.
Quando abriram o couro da anta, Jaebé saltou ligeiro. Seu olhos brilharam, seu sorriso tinha uma luz mágica. Sua pele estava limpa e cheirava a perfume de amêndoa. Todos se espantaram. E ficaram mais espantados ainda quando o jovem, ao ver sua amada, se pôs a cantar como um pássaro enquanto seu corpo, aos poucos, se transformava num corpo de pássaro!
E exatamente naquele momento, os raios do luar tocaram a jovem apaixonada, que também se viu transformada em um pássaro. E, então, ela saiu voando atrás de Jaebé, que a chamava para a floresta onde desapareceu para sempre
Contam os índios que foi assim que nasceu o pássaro joão-de-barro.
A prova do grande amor que uniu esses dois jovens está no cuidado com que constroem sua casa e protegem os filhotes. E os homens amam o joão-de-barro porque lembram da força de Jaebé, uma força que vinha do amor e foi maior que a morte.

A panelinha



Na bela cidade de Cruz Alta, nos começos deste século, havia uma grande fonte em forma de poço, de onde partia uma sanga, hoje tudo urbanizado no cruzamento das ruas Andrade Neves e General Portinho, quase no centro da cidade.
Essa fonte, pela sua forma de poço, recebeu o nome de Fonte da Panelinha e ali muita gente boa, praticamente toda a zona nobre da cidade, abastecia-se de água. E era crença geral a de que beber água da Panelinha era amarrar-se definitivamente a Cruz Alta. Quem bebesse dessa água, mesmo que partisse, logo dava um jeito de voltar.
Muitas moças cruzaltenses, namoradas de oficiais do Exército de outras plagas ou de viajantes que eventualmente passavam por Cruz Alta, sempre davam um jeito de lhes servir um copo d´água da Fonte da Panelinha.


O lobisomem do cemitério de RG


Aproximadamente na década de 70, na rua 2 de Novembro, onde até hoje se encontra o Cemitério Católico da cidade de Rio Grande, atuava o famoso “Lobisomem do Cemitério”.
Pessoas que passavam tarde da noite por ali diziam que um estranho bicho aparecia sempre a meia noite. Assim que alguém passava, ele pulava do alto muro do cemitério e assustava as pessoas. Os que eram assustados por ele, revelavam que o bicho era meio homem meio animal. Foi a partir desse depoimento que as pessoas começaram a acreditar que se tratava de um lobisomem. Notaram também que o bicho uivava quando agia.
Mas o segurança da Viação Férrea (que ficava em frente ao Cemitério) não acreditava no que estava acontecendo. Então ele resolveu vigiar uma noite inteira o cemitério para ver se o que falavam era verídico. Assim que deu meia noite em seu relógio ele ficou mais atento em tudo que estava em sua volta. Foi aí que ele ouviu um uivo muito alto, no instante uma senhora passava pela frente do cemitério (uma mendiga), e o lobisomem saia do muro. O segurança começou a atirar, e o lobisomem saiu em disparada.
Desse dia em diante nunca mais se ouviu falar nele, mas nada dura para sempre, a qualquer momento pode aparecer um para voltar a assustar a cidade.

Praga do padre morto na Tamandaré


No século passado, por volta de 1880, havia um Padre em nossa cidade, cujo nome a igreja mantém em sigilo até hoje; certo dia começaram a suspeitar deste, pois as crianças não queriam ir à missa ou aproximar-se do padre. Tudo isto devido ao fato de o padre aliciar as meninas, filhas das beatas.
Para o sociedade daquela época isto era completamente incompreensível, pois o padre era uma das pessoas em que todos confiavam. Assim ele foi condenado a morte, sendo enforcado em plena praça pública (Tamandaré).
Antes de morrer jogou uma praga para a cidade, dizendo que ela nunca se desenvolveria e que todas as vezes que acontecesse algum ato publico ao ar livre choveria pelo menos dia. Há quem confirme que estas pragas realmente aconteceram. E acontecem.


A Lenda de Angoéra


Nos sete povos das Missões, no Pirapó, ainda no tempo dos padres jesuítas, vivia um índio muito triste, que se escondia de tudo e de todos pelos matos e peraus. Era um verdadeiro fantasma e por isso era chamado de Angoéra (fantasma, em guarani). E fugia da igreja como o diabo da cruz!
Mas um dia a paciência dos padres valeu mais e o Angoéra foi batizado, convertendo-se à fé cristã e deixando de vagar pelos rincões escondidos. Recebeu o nome de Generoso e tornou-se alegre e bom, mui amigo de festas e alegrias. E um dia morreu, mas sua alma alegre e festeira continuou por aí, até hoje, campeando diversão. Onde tenha um fandango, lá anda rondando a alma do Generoso. Se rufa uma viola sozinha, é a mão dele. Se houve uma risada galponeira ou se levanta de repente a saia de alguma moça, todos sabem - é ele.
Quando isto acontece, o tocador que está animando a festa deve cantar em sua homenagem:
"Eu me chamo Generoso, morador de Pirapó. Gosto muito de dançar com as moças, de paletó".




A Lenda da Lagoa Vermelha


A primeira tentativa dos padres jesuítas, que resultou na fundação de 18 Povos Missioneiros no Rio Grande do Sul, deu em nada. Os bandeirantes de Piratininga, que haviam arrasado as reduções do Guairá caçando e escravizando índios para a escravidão das lavouras de cana-de-açúcar de São Paulo e Rio de Janeiro, quando souberam que os padres tinham vindo mais para o sul e erguido suas aldeias no Tape, vieram aqui fazer o que sabiam fazer. Assim e aos poucos, os padres tiveram que refluir para o oeste, fazendo agora na volta o mesmo caminho que tinham feito na vinda.
E nessa fuga tratavam de levar consigo tudo o que podiam carregar. O que não podiam, queimavam ou enterravam. Casas, plantações, até igrejas foram incendiadas, para que nada ficasse aos bandeirantes.
Pois diz que numa dessas avançadas pelo Planalto, no rumo da Serra, uma carreta carregada de ouro e prata, fugindo das Missões.
Ali vinha a alfaia das igrejas, candelabros, castiçais, moedas, ouro em pó, um verdadeiro tesouro cujo peso faziam os bois peludearem. Com a carreta, alguns índios e padres jesuítas e atrás deles, sedentos de sangue e ouro, os bandeirantes.
Ao chegarem às margens de uma lagoa, não puderam mais.
Desuniram os bois e atiraram a carreta com toda a sua preciosa carga na lagoa, muito profunda. E aí então os padres mataram os índios carreteiros e atiraram os corpos n'água, para que não contassem a ninguém onde estava o tesouro. Com o sangue dos mortos, a lagoa ficou vermelha.
E lá está, até hoje. Ao seu redor, cresceu uma bela cidade, que tomou seu nome - Lagoa Vermelha. E cada um dos seus moradores que passa na beira das águas coloradas, lembra que ali ninguém se banha, nem pesca, e segundo a tradição, a lagoa não tem fundo. E nas secas mais fortes e nas chuvaradas mais bravas, o nível da lagoa é sempre o mesmo.


A Lenda do Quero


QueroQuando a Sagrada Família fugia para o Egito, com medo das espadas dos soldados do rei Herodes, muitas vezes precisou se esconder no campo, quando os perseguidores chegavam perto.
Numa dessas vezes, Nossa Senhora, escondendo o Divino Piá, pediu a todos os bichos que fizessem silêncio, que não cantassem, porque os soldados do rei podiam ouvir e dar fé.
Todos obedeceram prontamente, mas o Quero-quero, não: queria porque queria cantar. E dizia: Quero! Quero! Quero!
E tanto disse que foi amaldiçoado por Nossa Senhora: ficou querendo até hoje.


A Lenda do Umbu


O Umbú é uma árvore grande e folhuda que cresce no pampa. Muitas vezes é solitária, erguendo-se única no descampado e atrai os campeiros, os tropeiros, os carreteiros que fazem pouso sob sua proteção. O tronco do Umbu é muito grosso, as raízes fora da terra são grandes, mas ninguém usa a madeira da árvore - não serve para nada, mesmo. É farelenta, quebradiça, parece feita de uma casca em cima da outra.
Por quê?
Pois não vê que quando Deus Nosso Senhor criou o mundo, ao fazer as árvores perguntava a cada uma delas o que queria na terra.
A laranjeira, o pessegueiro, a macieira, a pereira e assim por diante, quiseram frutos deliciosos. O pau-ferro, o angico, o ipê, o açoita-cavalo, a guajuvira, pediram madeira forte.
- E tu, Umbú, queres também frutos doces e madeira forte?
- Nada, Senhor. - respondeu o Umbú. - Eu quero apenas folhas largas para as sesteadas dos gaúchos e uma madeira tão fraca que se quebre ao menor esforço.
- A sombra, Eu compreendo - disse o Senhor. - Mas porque a madeira fraca?
- Porque eu não quero que algum dia façam dos meus braços a cruz para o martírio de um justo.
E Deus Nosso Senhor, que teve o filho crucificado, atendeu o pedido do Umbú.





Soledade A Lenda de Soledade




Há muitos e muitos anos, um grupo de mineiros vagava numa caravana de carretas entre o Planalto e a Serra do Rio Grande do


Sul. Muitas famílias completas faziam parte do grupo e elas queriam fundar uma vila, uma cidade, mas o local de assentamento só poderia ser escolhido por Nossa Senhora, cuja imagem sagrada eles traziam numa carreta, com altar e tudo.
E assim vagavam de pago em pago, acampavam, armavam o altar, passavam aí alguns dias e, como não recebiam sinal de Nossa Senhora, recarregavam as carretas e iam embora.
Até que um dia pararam num campo lindo, banhado pela luz de Deus, com uma estranha beleza solitária. Ao descarregarem as carretas, alguém teria dito: "Que soledade!"
Bueno, acamparam e tal e depois de alguns dias, recarregaram tudo prontos para partir de novo. Quando chegou a hora da partida, quebrou-se o eixo da carreta que levava a imagem de Nossa Senhora. Descarregaram tudo, consertaram o eixo e quiseram partir, mais uma vez. Surpresa: quebrou-se o eixo, de novo. Outra vez descarregaram, consertaram o eixo e se dispuseram a partir.
Quando se quebrou o eixo pela terceira vez, eles compreenderam que era um aviso: Nossa Senhora tinha escolhido, afinal, a sua querência.
Então, ali, naquele chão sagrado, eles ergueram ranchos, galpões, estâncias. E Nossa Senhora abençoou o esforço, a fé e a dedicação de todos, fazendo prosperar Soledade, a terra escolhida pela própria Mãe de Deus.

Argumentos de outras lendas missioneiras e do centro e norte do Brasil


Missioneiras










A mãe do Ouro


Cerros Bravos


Zaoris


Mãe






Do centro e norte do Brasil


O CAAPORA


É um espírito com forma de homem, gigante, peludo e muito tristonho, que comanda as


varas de porcos-do-mato e anda sempre montado sobre um deles.


Quem topar com o Caapora daí em diante arrastará consigo a infelicidade (caiporismo),


para todo o resto da vida; se era bom torna-se mau caçador, pescador; dará topadas no caminho,


espinhar-se-á nas roçadas, perderá objetos, andará atrasado, apoquentado...


Os animais domesticados também sentem a sua má influência, e entecarão, terão gogo,


sofrerão bicheiras... No entanto o Caapora protege a caça bravia dos matos.











O CURUPIRA


É o espírito malfazejo do mato, que enreda os trilhos do caminho para enganar os


andantes e sugar-lhes o sangue.


Andam sempre em casal e moram no oco dos paus de lei; aparecem de repente, fazem os


seus embustes e escondem-se, à tocaia, rindo-se em silêncio.


O Curupira é como um tapuio pequeno; tem os dentes verdes e os pés colocados às


avessas.


Quando perseguido pelo Curupira, o melhor meio de fugir-lhe é atirar-se e ir deixando pelo


caminho cruzes e rodilhas de cipó, entrançadas; ele entretém-se a examinar o achado e a


destrançá-lo, e, enquanto isso, o perseguido escapa-se.














A UIARA






"A Uiara - ou Mãe d’água - é um demônio macho-fêmea dos rios. É um tapuio ou tapuia de


rara beleza, morador no fundo dos rios ou lagos, e que fascina aquele que cai em seu poder,


induzindo a pessoa fascinada a lançar-se n'água. O indivíduo fascinado pelas UIaras, se não


chega a afogar-se, ao ser retirado da água, declara ter visto palácios encantados, no fundo do rio,


tendo sido acompanhado nesse passeio por uma bela mulher (se é homem, e por dois belos


tapuios, se é mulher).


Ao voltar à terra as Uiaras o soltam e de novo vão para o rio, mas deixando em seu lugar


pequenos tapuios para guardar o enfermo. Estes pequenos tapuios devem impedir que outros


espíritos d'água, seus inimigos, se apoderem da vítima.










O JURUPARI


É um espírito mau, que à noite aperta a garganta das crianças e até dos homens, para


trazer-lhes aflição e maus sonhos, principalmente por haverem comido muito antes de deitarem. É ele que faz o pesadelo nas criaturas.














O LOBISOMEM


Dizem que eram homens que, havendo tido relações impuras com as comadres,


emagreciam; todas as sextas-feiras, alta noite, saíam de suas casas transformados em cachorro


ou em porco, e mordiam as pessoas que a tais desoras encontravam; estas, por sua vez, ficavam


sujeitas a transformarem-se em lobisomens...


A MULA-SEM-CABEÇA


Diziam também que as mulheres de má vida, relacionadas com padres, se transformavam, tarde da noite, em mulas, sem cabeça, e conduzindo na cauda um facho de fogo, que nenhum vento ou chuva apagava antes de romperem as barras do dia...
A lenda referente aos enterros (dinheiros, jóias, baixelas enterradas) tem sua origem na crença das almas do outro mundo - os espíritos. "A alma de quem morreu, sem deixar notícias do dinheiro que tinha escondido ou guardado em tal e tal lugar, anda penando. As luzes azuladas que se observam de noite nos campos e em redor de povoações, que volteiam e afinal se desvanecem, não são senão almas penadas.
Só quando um cristão descobrir o enterro é que hão de cessar de aparecer e de penar.
Se o enterro está dentro da habitação, ouve-se ruídos, pancadas, gemidos... são as casas mal-assombradas.



O SACI



Era um caboclinho dum pé só, muito ágil, que saltava na garupa dos cavalos dos viajantes.
Gostava das picadas e das encruzilhadas das estradas sombreadas. Outros diziam que o Saci apenas era manco de um pé e tinha uma ferida em cada joelho; que usava um barreta feito das marrequinhas (flores das corticeira), e que era ele que governava as moscas importunas, as mutucas, os mosquitos.






A lenda da Lagoa Brava é apenas uma variante da dos Cerros Bravos e tem a sua
contextura na da Uiara.
A da Lagoa do Iberá, bem como as dos salamanqueiros, dos nhandu-tatá e outras, são mais do acervo rio-platense-andino.


Lendas do Sul – João Simões Lopes Neto


Cidade de Pelotas –41










Há ainda, de formação local, muitas histórias ingenuíssimas e curiosas, tais como a do


dorme-dorme (ave vespertina); porque a pomba não sabe fazer seu ninho; porque a capivara é


rabona (sem cauda); a do anu, ladrão do ninho alheio; a do joão-barreiro, e outras muitas, para


adormecer crianças...



AVALIAÇÃO: 


Lendas são histórias anônimas muito antigas que fazem parte da imaginação popular poética, em que a fantasia e o real se misturam, criando assombrações e seres naturais que não existem; elas são transmitidas de geração a geração. Desta maneira a avaliação será feita através da observação, da participação e interesse dos alunos e será safisfatória no momento em que todos os objetivos propostos forem atingidos.







CONCLUSÃO:


É uma atividade interessante e enriquecedora trabalhar com crianças de diferentes níveis de aprendizado, pois nos leva a um desafio maior, o do conhecimento pessoal.

É importante valorizar o folclore: ele representa o mais alto valor de uma nação, não importa em que setor se encontra ou a forma como pode ser classificado, pois está presente em todos os momentos de nossa vida, na canção de ninar, nas histórias, nos quitutes, nas cantigas de roda e brincadeiras, na maneira de falar.






















REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS:


http://www.rsvirtual.com.br/artman2/publish/portoalegre/Lendas_e_his_rias_do_folclore_ga_cho_encantam_a_gurizada.shtml


http://pelotas.ufpel.edu.br


LOPES NETO, João Simões. Lendas do sul. Porto Alegre: Artes e Ofícios, 2002. 159p.


Lendas do Sul - João Simões Lopes Neto


http://www.construirnoticias.com.br/asp/materia.asp?id=1229

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