O valor dos professores
Maioria dos estados paga menos que o piso estabelecido por lei. Docentes se mobilizam e greves prejudicam volta às aulasGisele Brito
gisele.brito@folhauniversal.com.br
Ana Jimenez, de 27 anos, atua há 4 na rede pública estadual na cidade de São Paulo e não nega que já sabia que seu futuro seria difícil quando ingressou na faculdade de Geografia e decidiu dar aulas. A vontade de contribuir para diminuir as mazelas do mundo, porém, a motivou, diz ela. Hoje, em meio à dificuldade de comprar um imóvel, Ana sente certa frustração. “Uma manicure ganha R$ 20 reais por 1 hora e meia de trabalho. Eu ganho R$ 7,50. Não é desmerecer o trabalho da manicure, até porque uma das minhas tias é manicure, mas ela não fez faculdade”, conta. “Para o meu pai, todo o investimento na minha formação está sendo desperdiçado. Por ele eu não seria professora. Nenhum pai quer que seu filho seja professor”, afirma. Em São Paulo , o salário inicial para um professor da rede estadual com nível superior é R$ 1.438,33. É pouco, mas há situações ainda mais críticas em outros estados.
Os baixos salários entre os professores não são novidade, mas, com a entrada em vigor da lei que estabelece um piso nacional para a categoria, este quadro deveria ter começado a se alterar. A lei foi promulgada em 2008 e questionada na Justiça. Ficou suspensa até abril deste ano, quando o Supremo Tribunal Federal sentenciou que o texto é constitucional. O piso nacional passou a ser de R$ 1.187,97 para professores de nível médio, aqueles que não cursaram Ensino Superior.
Mesmo com a determinação, porém, pouco mudou. A maioria dos estados ainda paga remuneração inferior ao piso estabelecido, segundo a Confederação Nacional dos Trabalhadores em Educação (CNTE). Os professores têm feito protestos e greves para reclamar da situação. Algumas já duram meses e para muitos alunos o reinício das aulas previsto para agosto será adiado.
No Rio de Janeiro, por exemplo, onde esses professores recebem R$ 650, a situação só deve se definir nesta quarta-feira (3), quando haverá uma assembleia. Eles estão parados desde 7 de junho. “O Governo defende que paga um salário proporcional ao piso, já que a nossa carga horária é de 22 horas e meia, mas nós queremos receber o valor estabelecido pela lei”, explica Sérgio Paulo Aurnheimer Filho, coordenador do sindicato dos profissionais de educação do Rio de Janeiro. Segundo ele, centenas deixam a rede estadual, atraídos por salários em redes municipais que pagam até o dobro.
“Os professores ficam só esperando a aprovação em outro concurso para saírem. Isso prejudica o desenvolvimento de projetos educativos de médio e longo prazo”, aponta Aurnheimer.
Para Heleno Araújo Filho, secretário para assuntos educacionais da CNTE, a falta de vínculos com a comunidade e as múltiplas jornadas prejudicam a qualidade da educação. “O piso foi um instrumento muito comemorado, mas foi muito descaracterizado graças a interpretações errôneas e à má vontade dos gestores”, comenta.
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