O que diz o meu silêncio
“De onde vem essa iluminação que chamam de amor, e logo depois se contorce, se enleia, se turva toda e ofusca e apaga e acende feito um fio de contato defeituoso, sem nunca voltar àquela primeira iluminação?” Caio F. A.
As lágrimas escorrem em mim como se esvaem todos esses sentimentos que me furam o peito. Tentei, tentei e tenho tentado todos os dias. Busquei desesperadamente amar sem exigências e aceitar com um belo sorriso no rosto tudo aquilo que tão facilmente você me oferece. Procurei ignorar o fato de que egoisticamente transformei você no meu ponto central, no meu retorno, na minha saída. Estou com medo de lembrar essa tarde como a tarde em que tudo se perdeu; em que tudo eu perdi. Quem me dera agora ter a audácia dos que se afogam em álcoois, cigarros, alucinógenos, pois o que eu mais queria agora era ter uma boa alucinação, do tipo daquelas em que não se imagina mais voltar, pois o que era real simplesmente desapareceu. Sim, e era isso o que eu queria: que tudo desaparecesse. Porque se eu fosse corajosa agora, eu colocaria aquele meu vestido estampado de decote e iria andar sozinha pelo bar mais próximo, ofendendo os homens, poluindo meu corpo, esquecida de todos os meus princípios e de todas aquelas dores. Eu ficaria feliz por alguns minutos; envergonhada por meses. E eu seria aquela para que todos olham quando imaginam a solidão. Mas não, eu não sou tão corajosa assim. E é por isso que estou aqui, nesse quarto de classe média, rodeada de todas as coisas que não me fazem falta, escrevendo ininterruptamente sobre coisas que não compreendo, tentando ser algo e tentando dar sentido a algo, porque não consigo mais me entregar à falta de iluminação. Não tenho me acostumado com essa escuridão crescente que você me traz. E eu queria que você sentisse falta da luz que a gente era. Do brilho que carregávamos. Queria ter a certeza de que você se lembraria de mim e de que, se tudo acabasse, você se arrependeria por mim; por nós. Como hoje eu me arrependo e como provavelmente ainda me arrependerei. Eu queria que você soubesse que eu não vou encontrar o seu sorriso em outro rosto e que eu não vou conseguir reencontrar o que você me é. Mas e eu? Eu sou algo passível de fazer falta para você? Existem coisas minhas, só minhas, que você sempre lembrará e doerá? Pois como é difícil, meu deus, tentar sufocar esse amor no peito por medo dele não ser recíproco. Eu me aproximei de você e me contei para você; eu fiz você a razão de minhas linhas e coloquei tudo ao seu redor; eu não abandonei nada, mas acrescentei você em tudo. Desculpe-me se eu ainda não descobri como amar sem razão; desculpe-me se eu também queria sentir como é receber esse amor. E eu tenho medo. Estou com medo. Você está? Eu conheci a felicidade quando descobri que você era suficiente para mim, mas reconheci a dor quando não fui suficiente para você. E eu simplesmente não posso suportar viver dias felizes que trazem consigo a incerteza dos outros dias; eu não consigo aproveitar momentos que soam falsos quando analisados por inteiro; eu me dei inteira e não suporto aceitar metades de você. E tudo termina assim, minhas palavras saem daqui para continuarem como ecos em minha mente; elas tornam-se companhia para todas as outras, imensa maioria, que não conseguem ser ditas. E a única coisa que sei, ou sinto, é que desejo incansavelmente a minha luz de volta, mas não tenho ideia de como começar a voltar, se não sei mais para onde estou indo.
"Essa morte constante das coisas é o que mais dói." Caio F. A.
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