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sexta-feira, 24 de junho de 2011

Novas regras para comer!

Novas regras para comer!

Está pensando em pôr a dieta de volta aos trilhos neste inverno? Saiba como tornar as decisões cotidianas mais fáceis e deixar a alimentação mais saudável.
Por Michael Pollan
 
 
Comer está cada vez mais complicado. Precisamos de especialistas que nos aconselhem sobre o que podemos consumir – médicos, livros sobre alimentação, meios de comunicação, órgãos governamentais, informações adicionais sobre nutrientes nas embalagens.
 
Mas, depois de anos pesquisando o assunto, finalmente percebi que a resposta para o problema do que se deve comer, supostamente complexa, não é, de fato, nem um pouco complicada. Na verdade, pode ser resumida a apenas seis palavras: Coma comida. Não muita. Principalmente plantas.
 
Na guerra da nutrição, todos os competidores concordam que a chamada “dieta ocidental” – na qual entram toda a sorte de alimentos industrializados, carne, adição de gordura e açúcar, cereais refinados e tudo em grande quantidade, exceto hortaliças, frutas e cereais integrais – nos faz mal. E quem abandona essa dieta nociva para adotar um modo mais tradicional de se alimentar vê a própria saúde melhorar sensivelmente.
 
Conheça algumas regras simples para comer bem:
 
Coma comida
Falar é fácil, colocar algo em prática é que são elas, principalmente quando surgem milhares de produtos novos por ano no supermercado, todos brigando pelo seu dinheiro. Mas a maioria desses itens não merece ser chamada de comida; eu as chamo de substâncias comestíveis parecidas com comida. São preparados processadíssimos, compostos principalmente de ingredientes que nenhuma pessoa normal guarda na despensa. Hoje, boa parte do desafio de comer bem se resume a escolher comida de verdade e evitar novidades industriais.
 
Coma alimentos que apodrecem
No caso da comida, o que significa “apodrecer”? Em geral, significa que fungos, bactérias e outras criaturas com as quais disputamos nutrientes e calorias chegaram a ela antes de nós. A industrialização dos alimentos começou como uma forma de aumentar o tempo de prateleira, protegendo-os desses competidores vorazes.
 
Para conseguir isso, o mais comum é que se tente tornar a comida menos atraente para os micro-organismos, buscando remover nutrientes que os atraem ou que podem ficar rançosos. Quanto mais processado um alimento, maior é o seu tempo de prateleira e menos nutritivo ele costuma ser.
 
A comida de verdade está viva e, portanto, deve acabar morrendo. (Há algumas exceções a essa regra: a vida de prateleira do mel, por exemplo, é medida em séculos.)
 
Observe também que a maioria das substâncias imortais que se parecem com comidas está geralmente localizada nos corredores do meio em supermercados.
 
Evite produtos alimentícios com mais de cinco ingredientes
O número específico é arbitrário, mas, provavelmente, quanto mais ingredientes houver na elaboração de alimento embalado, mais processado ele será.
 
Coma principalmente plantas, com destaque para as folhas
Os cientistas podem discordar sobre o que há de tão bom nas plantas – são os antioxidantes? as fibras? os ácidos graxos ômega-3? – mas todos concordam que são muito boas para a saúde e, sem dúvida, mal não fazem. Além disso, com uma alimentação baseada principalmente em plantas reduz bastante o consumo de calorias, já que os alimentos vegetais, com exceção das sementes, como cereais e nozes, costumam ser menos “densos em energia” do que outras coisas que comemos.
 
Coma colorido
A ideia de que um prato saudável é colorido é um bom exemplo de uma noção antiga comprovada pela ciência. As cores das hortaliças refletem os diversos antioxidantes fitoquímicos que contêm: antocianinas, polifenóis, flavonoides e carotenoides. Muitas dessas substâncias nos defendem de doenças crônicas, cada uma de um jeito diferente, de modo que a melhor proteção vem de uma alimentação com a maior diversidade possível de substâncias fitoquímicas.
 
Pague mais, coma menos
Quem gasta mais para ter uma alimentação melhor comerá menos e tratará a comida com mais cuidado. E, se essa alimentação de qualidade tiver mais sabor, precisaremos de menos comida para nos sentirmos satisfeitos. Prefira a qualidade à quantidade. Ou, como diziam as sábias avós: “Melhor pagar a quitanda do que o médico.”
 
Coma alimentos doces como encontrados na natureza
Quase sempre, na natureza, os açúcares vêm junto com as fibras que retardam a sua absorção e nos dão saciedade antes de ingerirmos calorias demais. Por isso que é sempre melhor comer a fruta do que tomar o suco.
 
“Quanto mais branco o pão, mais cedo vem o caixão”
Esse conselho franco e transcultural (passado por avós judeus e italianos), indica que o perigo da farinha branca para a saúde é reconhecido popularmente há muitos anos. No que diz respeito ao organismo, a farinha branca não é muito diferente de açúcar. A menos que seja suplementada, não oferece fibras, vitaminas e gorduras saudáveis como os cereais integrais, mas apenas uma dose alta de glicose, que aumenta o potencial inflamatório e provoca o caos no metabolismo da insulina. Coma cereais integrais e minimize o consumo de farinha branca.
 
Pare de comer antes de se encher
Os japoneses têm um ditado – hara hachi bu – que aconselha todos a pararem de comer quando estiverem 80% satisfeitos. Na Índia, a tradição aiurvédica aconselha a comer até ficar 75% satisfeito; os chineses dizem 70%; e o profeta Maomé descrevia a barriga cheia como a que continha um terço de comida, um terço de líquido e um terço de ar. Os franceses também têm o que ensinar. Em vez de dizer “Estou faminto”, eles dizem “J’ai faim” (tenho fome) e, ao acabar, “Je n’ai plus faim” – não tenho mais fome. É um jeito totalmente diferente de pensar na saciedade. Não se pergunte se já está satisfeito, mas se a fome passou. Este momento geralmente chega muitas garfadas antes.
 
Desobedeça às regras de vez em quando
Ficar obcecado com a alimentação faz mal à felicidade e, provavelmente, à saúde também. Nas últimas décadas, as dietas e a preocupação excessiva com a nutrição não nos tornou mais saudáveis nem mais magros; é importante cultivar uma atitude tranquila em relação à comida. Em algumas ocasiões, você terá vontade de jogar as regras pela janela. O mais importante são os hábitos cotidianos que definem o seu modo de comer. Costuma-se dizer “tudo em moderação”, mas não devemos esquecer o sábio acréscimo atribuído, às vezes, a Oscar Wilde: “a moderação, inclusive”.

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