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1 INTRODUÇÃO
As exigências
educativas da sociedade contemporânea são crescentes e estão relacionadas às
diferente dimensões da vida das pessoas: ao trabalho, à participação social e
política, à vida familiar e comunitária, às oportunidades de lazer e
desenvolvimento cultural.
O mundo passa
atualmente por uma revolução tecnológica que está alterando profundamente as
formas de trabalho e de interação, onde, numa economia cada vez mais
globalizada, a competitividade desponta como necessária à susbsistência humana.
No afã de auto-superar o homem moderno terminou
o século XX em desarmonia consigo mesmo, sem reflexão crítica sobre as
suas reais necessidades, as quais deveriam permear o próximo milênio.
Sobre este
prisma, torna-se oportuna a discussão sobre
as formas de lidar com os novos
tempos e, portanto, emergir o discurso sobre a qualidade de ensino nas escola,
atentando para a ascensão no nível de educação de toda população e detectando
os fatores que possam atender às novas
exigências educativas que a própria vida cotidiana impõe de maneira crescente
no meio social.
Neste
sentido, um dos instrumentos imprescindíveis para uma formação geral e que
possibilite cidadãos críticos, autônomos e atuantes, nesta sociedade em
constante mutação, seria a prática de leituras variadas que promovam, de
maneira direta ou indireta, uma reflexão sobre o contexto social em que estão
inseridas, uma vez que o movimento dialético da leitura deve inserir o leitor
na história deste milênio e o constituir como agente produtor de seu próprio
futuro.
O exercício
da leitura, tal qual se encontra atualmente legitimado nas escolas, não vai
além de mera decodificação de signos gráficos, os quais são permeados de fragmentos de livros didáticos, para não
fugir à regra imposta coativamente ao longos dos tempos da história do ensino
em nosso país, servindo como fonte de
disseminação de uma ideologia, a ideologia que vai ao encontro dos interesse
dos detentores do poder: a massificação e formatação do conhecimento
humano.
Tal postura transforma o ato de ler
enfadonho, acrítico, mecânico e, dessa forma, distante de uma categoria que una
o ato de ler ao prazer, que permita a leitura como fonte de lazer.
As fracas experiências com a leitura
afasta o leitor do contexto social e cultural, faz com que desconheça o que de
mais profundo o homem pensou e escreveu sobre si, alienando-se das informações
e, conseqüententemente obsta sua participação ativa e efetiva na sociedade em que está inserido.
Por esta
perspectiva, obvia-se a necessidade da formação de leitores, pois
percebe-se que sua participação no
contexto social depende de sua visão de mundo, de seus valores, de seus
conhecimentos, de sua reflexão e visão crítica, enfim, da leitura como
instrumento do conhecimento.
Diante dos impasses tecnológicos e culturais
do final do milênio, a Escola se revela como uma das instituições mais
ameaçadas pelos novos rumos da sociedade. Espaço privilegiado do saber, a
Escola mantém a escrita da palavra como texto básico no ensino, embora o mundo
das imagens virtuais já faça parte da realidade de muitos alunos.
A velocidade das novas linguagens
invadiram o cotidiano, atropelando o ritmo harmônico do aprendizado, e ao
pretender uma atualização, a Escola assimila o novo sem a devida reflexão. Ou
seja, persiste num ritmo de leitura pouco apropriado à formação do pensamento
crítico, com as informações e novidades sendo incorporadas de maneira
aleatória, sem uma visão científica necessária para a construção do
conhecimento.
Na pressa de estar em sintonia com as
inovações, a Escola desconsidera o processo formador de aprendizagem,
limitando-se a investir na circulação de
imagens e deixando de observar a qualidade dos textos que oferece a seus alunos
como fonte de leitura, promovido no
seu espaço. Priorizando a substituição
do conhecimentos por informação, a Escola se descompassa e, sem formar leitores
críticos ou incutir o hábito da leitura,
prepara mal o cidadão que escreverá o “texto futuro”, que escreverá e
perpetuará a nossa história.
Nesta
perspectiva, o exercício da leitura transcende, em muito, a utilização de
materiais, muitas vezes empregados como modismos em sala de aula. A formação do
leitor impõe-se como prioridade a ser seguida,
pressupondo a figura do professor como interlocutor ativo no diálogo da
leitura, a fim de instigar e promover leitores que estejam à procura de
respostas às suas próprias indagações e a desconfiar dos sentidos das letras
impostas por textos insignificantes para, desta forma, encontrar nos livros, a
fonte de sua sabedoria e inspiração, resgatando a história do conhecimento, tão
necessária nos novos tempos, em que as mudanças são rápidas e atropelam o
próprio “saber humano”.
O desafio se
encontra na necessidade da busca e implementação de mecanismos que propiciem a
atração pela leitura na mais tenra idade, na fase da infância, em que a criança
está descobrindo seu microcosmo, seu mundo, está despertando para a realidade
subjacente e tentando participar desta realidade com suas novas fantasias e
descobertas.
Oportuno citar o que, já no século XVII,
afirmava o filósofo John Locke:
“(...)
deve ser dado à criança algum livro fácil e agradável, adequado à sua
capacidade, a fim de que o entretenimento que ela busca a motive e
recompense.”
A Escola
insere-se neste contexto como instrumento hábil a implementar a leitura na
Educação Infantil e Séries Iniciais, motivando os jovens leitores através de
uma mudança de concepção, ou seja,
transformando a leitura como algo agradável, fonte não apenas de informação,
mas principalmente de lazer.
É o que se pretende ao longo deste trabalho monográfico de
pesquisa bibliográfica, através da escrita demonstrar aos leitores a relevância
do educador na formação de novos
leitores, numa concepção de que, sem rupturas
no processo ensino-aprendizagem, a leitura pode ser empregada como
mecanismo de lazer, cultura e formação.
2
A LEITURA
“A leitura é sempre apropriação,
invenção, produção de significados. (...) Apreendido pela leitura, o texto não
tem de modo algum – ou ao menos totalmente
- o sentido que lhe atribui seu autor, seu editor ou seus comentadores. Toda história da
leitura supõe, em seu princípio, esta liberdade do leitor que desloca e
subverte aquilo que o livro lhe pretende impor.”
2.1 Origem e Importância da Leitura
Desde os primórdios da civilização o homem busca habilidades que lhe tornem mais útil a vida em sociedade e que lhe possam tornar mais feliz. A criação de mecanismos que possibilitassem a disseminação de seu conhecimento tornava-se um imperativo de saber/poder, que ensejava respeito e admiração pelos companheiros de tribo.
Daí o surgimento das
inscrições rupestres, simbologia, posteriormente e num estágio mais avançado
das civilizações, os hieróglifos e as
esculturas que denotavam sua própria e
mais nobre conquista: a conquista de
ser.
Nesse contexto surge a
escrita e a leitura como imanentes à própria história da civilização.
A criação dessa
disponibilidade, que chamamos escrita e leitura, cria outras disponibilidades,
pois ela é a básica, dela provém as demais. Através da leitura e da escrita o
homem conseguiu estreitar os laços de afetividade com seus semelhantes,
harmonizar os interesses, resolver os seus conflitos e se organizar num estágio
atual da civilização, com a abstração a que nominamos “Estado”. O homem se
organizou politicamente.
Mas voltando-nos ao campo
do conhecimento humano, que é o que por ora nos interessa, o mito poético que
sempre embalou o homem, a fantasia dos deuses, descortinaram as portas do
saber, originando a busca da informação, do saber humano, do seu prazer.
Com o desenvolvimento da
linguagem, a força das mensagens humanas aperfeiçoou-se a tal ponto ser
imprescindível à sua própria existência. A busca do conhecimento tornou-se
imperativa para novas conquistas e para o estabelecimento do homem como ser
social, como centro de convergência de todos os outros interesses.
Na busca desse
conhecimento, que se perpetua ao longo da história da civilização,
percebe-se que quanto mais cedo o homem
iniciar, mais cedo germinará bons f resultados. Ou seja, a infância como uma
fase especial de evolução e formação do ser, deve despertar-lhe para este mundo, o mundo da simbologia, o
mundo da leitura.
No dizer de Bárbara
Vasconcelos de Carvalho:
“O conto infantil é uma chave mágica que
abre as portas da inteligência e da sensibilidade da criança, para sua formação
integral. O que fez andersen o grande escritor universal e imortal foram as
estórias ouvidas quando criança.”
Por
outras palavras, a imaginação humana é imperiosa para a construção do
conhecimento, e conhecimento também é arte, daí a importância da Educação
Infantil para enriquecer essa imaginação da criança, oferecendo-lhe condições
de liberação saudável, ensinando-lhe a libertar-se no plano metafísico, pelo
espírito, levando-a a usar o raciocínio e a cultivar a liberdade e o hábito da
leitura.
Nessa
caminhada na construção do conhecimento humano, não é de se olvidar a
relatividade da importância dos livros didáticos, muitas vezes o único acesso
disponível para a maioria do público infantil, sobre o que passaremos a
discorrer nas próximas linhas.
2.2 Escola e Leitura
No que se refere à Escola e aos objetivos da leitura ou ao “Para que ler na escola?”, pode-se afirmar
que ainda não existe nos currículos conhecidos e analisados, uma concretização
de um pressuposto geral básico, qual seja, o da articulação entre a função
social da leitura e o papel da escola na formação do leitor. Se dimensionarmos
essa função social como sendo a necessidade do conhecimento e a apropriação de
bens culturais, a leitura funciona, em certa medida, um meio e não um fim em si
mesma. Daí a importância do papel da
escola em relação à leitura, que é o de oferecer aos alunos mecanismos e
situações em que eles “aprendam a ler e, lendo, aprendam algo”.
Oportuna a citação:
“ A escola precisa ser um espaço mais
amplamente aberto a todos os aspectos culturais do povo, e ir além do ensinar a
ler e a fazer as quatro operações. Precisa investir em bons livros,
considerando que a cultura de um povo se fortalece muito pelo prazer da
leitura; e a escola representa a única oportunidade de ler que muitas crianças
têm. É necessário propiciar nas salas de aula e na biblioteca a dinamização da
cultura
viva, diversificada e criativa, que representa o conjunto de formas de pensar,
agir e sentir do povo brasileiro.”
(BRAGA,1985,P.7)
O conceito
básico de leitura, nesse contexto, passa ser então a “produção de sentido”.
Essa produção de sentido, por consegüinte, é determinada pelas condições
socioculturais do leitor, com os seus objetivos, seus conhecimentos de mundo e
de língua, que lhe possibilitarão a leitura.
Nesse
sentido, a construção do conhecimento, segundo entendimento de alguns autores
como elemento principal, se efetivará pelo hábito da leitura, uma vez inserida
e enfatizada no contexto escolar. Afinal, é principalmente através da leitura
que os alunos poderão encontrar
respostas aos seus questionamentos, dúvidas e indagações, mormente no que
concerne aos caminhos por onde permeiam na construção do seu conhecimento, e
não apenas vinculados e adstritos a uma metodologia tradicional.
3
A LEITURA NA ESCOLA: COMPROMISSO DE
TODAS AS ÁREAS?
“Com as palavras não aprendemos senão
palavras; antes, o som e o ruído das palavras, porque, se o que não é sinal não
pode ser palavra, não sei também como possa ser palavra, aquilo que ouvi
pronunciado como palavra enquanto não lhe conhecer o significado. Só depois de
conhecer as coisas se consegue, portanto, o conhecimento completo das
palavras.”
(Sto. Agostinho: De Magistro)
Como já
salientado em outras linhas, as exigências educativas da sociedade
contemporânea são crescentes e estão relacionadas às diferentes dimensões da
vida das pessoas: ao trabalho, à participação social e política, à vida
familiar e comunitária, às oportunidades de lazer e desenvolvimento cultural,
dentre outros aspectos.
O mundo,
atual passa por uma revolução tecnológica que está alterando profundamente as
formas de trabalho e de interação entre as pessoas e as entidades, num contexto cada vez mais globalizado.
Em sua constante e ansiosa busca de
auto superação, o homem moderno fecha o século XX em desarmonia com o tempo de
reflexão e da crítica que, numa nova concepção humanista, deveriam permear o
momento contemporâneo em que vivemos, considerado por muitos como conditio
sine qua nom para o desenvolvimento.
Sob esse
prisma, torna-se salutar discutir as diferentes formas de lidar com esses
“novos tempos” e, dentro deste contexto, encontra-se inserido de maneira
inarredável, a necessidade de se fazer emergir a discussão sobre a qualidade de
ensino nas escolas, atentando para a ascenção no nível de educação de toda a
população, em especial da Educação
Infantil e Séries Iniciais em razão de sua importância na formação inicial do
futuro cidadão, o qual, cônscio de seus direitos e obrigações, participará de
maneira efetiva do “pacto social”, ou seja, do momento político-social e
cultural em que se encontrar, não será um “excluído”. Indiscutivelmente, esta
é, senão a única, provavelmente uma das mais relevantes maneiras com que se
possa atender às novas exigências
educativas que o cotidiano impõe de maneira sistemática e crescente nas
relações sociais: A discussão crítica e aberta da educação.
Trilhando por
essa linha de pensamento, a instituição escolar
deve se constituir num espaço que
produza conhecimento; todo e qualquer processo de construção deve estar
engajado numa prática democrática, onde educador e educando sejam vistos como
agentes e sujeitos simultâneos nas relações de ensino e aprendizagem,
delineando papéis desprendidos da
mitificação unilateral ou seja, valorando a
iniciativa à pesquisa, e a superação dos
limites em prol de uma atuação positiva, acompanhando a evolução da
sociedade em constante mutação.
Dessa forma,
apenas para exemplificar, referindo-se especificamente as aulas de língua
portuguesa, constata-se, na atual
prática pedagógica, a legitimação das
diferenças entre os grupos sociais,
ocasionados, principalmente, pela dicotomia formada pela língua padrão que é utilizada na instituição escolar, e aquela
normalmente utilizada pelos alunos de classes populares, historicamente
estigmatizadas como sendo inadequadas.
Por este viés
, o ensino tradicional de língua portuguesa pode ser caracterizado por seu
feitio predominantemente normativo e conceitual, privilegiando-se um modelo
ancorado na visão da língua como um código fechado e estático. Neste, o ápice
do processo ensino aprendizagem resulta na memorização de regras e conceitos
dissociados das práticas cotidianas da língua falada dos alunos, submetendo-os
à rígida formalidade gramatical
Tais
elucubracões nos induzem a repensar quais as
maneiras mais adequadas para
abordar a língua portuguesa na Educação Infantil e Séries Iniciais.
A transformação das condições de
reprodução desse processo, que vem se perpetuando ao longo das gerações, passa necessariamente por uma revisão na
concepção de linguagem que encaminha o
ensino da língua portuguesa de forma holística, percebendo-a como uma
forma de interação entre sujeitos, de maneira a concebê-los como produtores do
discurso em contextos sócio histórico determinados, sendo imprescindível tal
postura na formação inicial do futuro leitor.
Nesse
sentido, a leitura e a escrita são componentes dinâmicos, vinculados a um
contexto social que não pode ser reduzido a um aprendizado técnico lingüístico
e entendido como um fato neutro e linear, que resulta apenas em palavras e
frases desconexas e sem sentido aparente para o leitor.
Muito além disso, ler e produzir textos nas
escolas deve estar associado a ação simbólica sobre o mundo, onde o aluno
consiga constituir-se como um sujeito que pensa, sente e dialoga pois segundo
LAJOLO apud GERALDI,(1985, p.91):
“Ler
não é decifrar, como num jogo de adivinhações, o sentido de um texto. É , a
partir do texto, ser capaz de atribuir-lhe significado, conseguir relacioná-lo
a todos os outros textos significativos para cada um, reconhecer nele o tipo de
leitura que seu autor pretendia
e dono da própria vontade, de entregar-se a essa leitura, ou rebelar-se
contra ela, propondo outra não prevista.”
Assim, ler é produzir sentido, é estar
contextualizado no texto, interpretando-o e atribuindo-lhe algum significado.
Portanto, torna-se importante a criação
de situações para que o exercício da leitura e escrita produzam reações,
interação, e construção de subjetividade e conhecimento, não servindo apenas
como uma atividade meramente de cópia ou de decodificação dos sinais gráficos,
alienando os alunos do contexto em estão inseridos.
Aliado à essa
interação com o meio, as relações no processo de construção da linguagem devem
seguir algumas técnicas que tornarão o ensino mais agradável e produtivo, dentre as quais citamos algumas como: trabalho com imagens, produção
de textos, caminhada de leitura, atividades com rótulos, texto coletivo,
notícias de jornal, jogo de rimas, música, etc., .
Sob este
prisma, leitura e escrita como processo discursivo e de produção de sentido, se
percebe que devem englobar todas as disciplinas e todos os níveis de ensino,
onde através da apropriação do conhecimento historicamente constituído, o aluno
esteja inserido nessa construção e produção do conhecimento como elemento
nuclear.
Dessa forma,
não convém obrigar o público infantil a reproduzir exercícios de fixação, mas
sim, proporcionar práticas de leitura e escrita em contextos significativos que
estabeleçam uma estreita familiarização com todo um suporte de materiais
escritos disponíveis: livros, jornais, revistas, publicidades, dentre outros
recursos, de maneira a facilitar e permitir que o aluno observe, explore,
questione, analise, critique, com base nos vários meios da escrita e leitura
existentes na realidade circundante.
É na leitura,
escrita e reescrita de textos significativos, que ocorre a apreensão dos alunos
das normas convencionais, sem que ocorra necessidade de memorização de uma
infinidade de regras e exceções, próprias de nossa língua portuguesa.
Através de
materiais e contextos significativos, o paradigma de que o aluno precisa escrever para que o professor corrija
precisa ser transformado na instituição de uma escrita que sirva de mecanismo
de prática e interação, interlocução e inferências, tendo como base suas
vivências e expectativas, libertando-o de axiomas preconcebidos, enfim, fazendo
com que o aluno “dê asas à sua imaginação” sem os exageros dos pruridos da
lógica formal de nossa língua.
Com
essa concepção, a leitura, por exemplo, não pode estar associada somente ao
livro de literatura, e muito menos ao livro didático, que tradicionalmente
transmite um conhecimento fragmentado, alienado e alheio à realidade dos
alunos, mas também a textos cotidianos, como os conhecidos “gibis”, que estabelecem uma estreita ligação com o leitor através
do repertório comum e de uma linguagem coloquial. Outros textos, como crônicas,
músicas, poesias, charges, transformam-se numa leitura prazerosa e natural,
além de levá-los a refletir sobre as intenções subjacentes de cada palavra.
Este
aspecto, o de despertar a atenção e o interesse do aluno pela leitura, é a essência da questão.
Nas palavras de Roger Chartier (pg. 103-104, 2000):
“(...) Aqueles que são considerados não
leitores lêem, mas lêem coisa diferente daquilo que o cânone escolar define como uma leitura
legítima. O problema não é tanto o de considerar como não-leitura estas
leituras selvagens que se ligam a objetos escritos de fraca legitimidade
cultural, mas é o de tentar apoiar-se sobre estas práticas incontroladas e
disseminadas para conduzir esses leitores, pela escola, mas também sem dúvida
por múltiplas outras vias, e encontrar outraas leituras. É preciso utilizar
aquilo que a norma escolar rejeita como um suporte para dar acesso à leitura na
sua plenitude, isto é, ao encontro de textos densos e mais capazes de
transformar a visão do mundo, as maneiras de sentir e de pensar.”
A concretização positiva na escola está
no desafio dos professores em olhar para as produções dos alunos com uma visão
não somente crítica e que busque os seus erros, ou ainda que
atente apenas para a linearidade da escrita, mas sim almejando o
significado das suas formas de construção, estimulando o aluno a empenhar-se na
realização consciente e divertida de um trabalho lingüístico que lhe faça muito
mais sentido. Pois se ler é produzir sentido, tal só ocorrerá se houver
interesse, do latim “ inter esse”,
que significa “estar entre” , ou
seja, estar engajado, envolvido, empenhado.
Assim, com olhar ativo e crítico,
através da multiplicidade de linguagem, será possível auxiliar o aluno na
construção do conhecimento, que o faça entender-se não apenas como produto,
mas, acima de tudo, como partícipe da construção da história da coletividade, e também como
agente de transformação de uma realidade que não é estática, mas dinâmica e
suscetível `a constantes mudanças.
Na criação e formação de sua própria
identidade, o público da educação infantil e séries iniciais precisa ser
estimulado. Criando-se fantasias, despertando o seu potencial imaginativo,
aflorando seu pensamento infantil e sua capacidade intuitiva para a realidade
circundante. Neste diapasão, convém que recorramos às palavras de Denise
Fernandes Tavares:
“O sorriso, a alegria duma criança que
lê, que ouve estórias, que brinca, compensa a luta que possamos ter, para que
aquele sorriso e aquela alegria existam. E compensa, ainda, a sua certeza
íntima que estamos abrindo novos horizontes e possibilidades para centenas de
crianças, através da leitura. Estaremos ensinando quanto vale o livro;
dando-lhes o hábito da leitura, fazendo-as amar o livro estaremos assimilando
responsabilidades e cumprindo o nosso dever com as gerações que formarão os
homens de amanhã.”
Nessa caminhada na construção do
conhecimento humano, não é de se olvidar a relatividade da importância dos
livros didáticos, muitas vezes o único acesso disponível para a maioria do
público infantil, sobre o que passaremos a discorrer nas próximas linhas.
4 ANÁLISE DO LIVRO DIDÁTICO E SUA RELEVÂNCIA NA FORMAÇÃO DO
LEITOR
"(...) A ideologia contida no
livro didático serve para consolidar a hegemonia da classe dominante e, com ela, as relações de produção.(...)"
FREITAG.
O livro didático vêm despertando a
atenção dos mais variados segmentos da pedagogia moderna.
Atenção
investigativa e descritiva, pesquisas sobre conteúdos programáticos, aspectos
psicopedagógicos e metodológicos, conteúdos ideológicos, são fatores com os
quais talvez se possa entender as polêmicas em curso no nosso sistema
educacional: Manter ou rejeitar o livro didático? Defendê-lo ou condená-lo? O
que é, afinal, um livro de qualidade?
Apesar das grandes mudanças que a
escola tem experimentado ao longo dos tempos, dos diferentes modelos pelos
quais tem pautado sucessivamente suas concepções e práticas pedagógicas, uma
característica é mantida, característica esta que parece constituir sua própria
essência: “a Escola é uma instituição burocrática, portanto, fundamentalmente
ortodoxa: nela se ordenam e se hierarquizam ações e tarefas, se organizam e se
distribuem em categorias alunos e professores, divide-se e controla-se o tempo,
regula-se e avalia-se o trabalho; sobretudo, seleciona-se no campo da cultura,
dos conhecimentos, das ciências, das práticas sociais, os saberes e as
competências a serem ensinados, aprendidos e avaliados.
Assim, na
Escola, a transmissão do saber, o ensino, a
aprendizagem, a avaliação, sofrem um processo de fragmentação e seleção,
pois organizam de maneira sistemática com
seqüências progressivas e antipedagógicas o ensino torna-se em síntese
didatizado e meramente escolarizado, com pouca ou nenhuma inovação.
Nesse sentido, o
livro didático institui-se, historicamente, bem antes que o estabelecido em
Programas e Currículos, como instrumento para assegurar a aquisição dos saberes
escolares, isto é, daqueles saberes e competências julgados indispensáveis à
inserção das novas gerações na sociedade, induzindo à crença de que a ninguém é
permitido ignorar o conhecimento, no entanto persiste o ensino, parcelado,
estanque e controlado ou manipulado.
Assim, o
propósito inicial do livro didático é subsidiar a prática educativa de forma
que se assegurem informações suficientes para modelar o conhecimento a ser
adquirido pela grande maioria da população, ou seja, disseminar uma ideologia:
a ideologia daqueles que detêm os Fatores de Poder.
Em contraposição
à essa realidade, o livro didático pode ser, na prática pedagógica, um meio de
enriquecer as aulas, e não um fim em si mesmo, quando funciona como um veiculo
único de informações com suas verdades absolutas e incontestáveis. Daí a
responsabilidade, principalmente do professor, de fazer a escolha certa dos
livros a serem usados e discernir sobre quais as informações relevantes e que
estará transmitindo em sala de aula.
Tendo a consciência de que o livro
didático é, muitas vezes, o único instrumento de leitura que a grande camada da
população escolar têm à sua disposição, o professor acaba sendo um referencial,
muitas vezes também único, para a disseminação de idéias que, mal empregadas,
poderão se transformar em uma ferramenta de dominação.
Respaldando a argumentação, fizemos a
constatação de que os livros didáticos são os mais lidos em todo país, conforme
pode ser observado na pesquisa constante no ANEXO I, extraída da revista VEJA
de nº ......... 7 de fevereiro de 2001.
Atualmente, a escolha do livro didático
evoluiu no que concerne às práticas pedagógicas, eis que com o surgimento do
guia do Livro Didático, elaborado pela Secretaria do Ensino fundamental do
Ministério da Educação (MEC), que tem como objetivo analisar e selecionar os
principais livros que merecem integrar o catálogo de compras do governo,
destacou os erros conceituais, idéias desatualizadas, dentre outros aspectos,
fazendo com que os autores e editores negligentes sejam mais cuidadosos nas
revisões de seus exemplares, atentando principalmente para a qualidade dos
conteúdos.
Tais iniciativas são de grande ousadia
e relevância, pois vasculham em interesses de grandes editores que, movidos, em
sua grande maioria, por motivos econômicos, não atentam para a imprescindível
qualidade que deve existir nos livros didáticos.
As críticas aos livros didáticos e a
intervenção do governo na sua revisão, nos dão indicativos de melhoria nas práticas que se direcionam na busca de uma
melhor qualidade na educação, no entanto, não se pretende mascarar a
precariedade educacional com um discurso dogmático que releve apenas as
publicações didáticas de má qualidade, pois outros aspectos subjacentes devem
ser considerados nessa avaliação.
Cumpre ressaltar que o grande
responsável pelo bom uso do livro continuará sendo o professor que, conhecendo
a realidade de seus alunos, através da investigação de suas necessidades e
interesses, respaldará sua escolha nos livros que pretenda utilizar. Pouco
adiantaria mudar o conteúdo se o professor continuasse adotando uma prática
tradicional de ensino, fazendo com que seus alunos se limitassem a copiar e a
memorizar textos, sem discussões e reflexões a respeito. Tal metodologia
comprometeria sobremaneira o desenvolvimento intelectual das futuras gerações.
Destarte, o professor como sendo grande
responsável pelo processo ensino aprendizagem dos alunos e pela adoção da
leitura que estes fazem em sala de aula, deve atentar também para a qualidade
de suas aulas, através de práticas criativas e dinâmicas, em que se torne
interessante incentivar e implementar a pesquisa dos alunos de mais de um livro
didático. Tal ação fará com que estes se tornem construtores de seu próprio
espaço- conhecimento. Por esta mesma linha de pensamento, a articulação dos conteúdos
dos livros didáticos, de maneira a que ocorra uma interação com situações de
seu cotidiano, estimulará os alunos a refletirem sobre a realidade circundante
de modo a que percebam, com uma leitura
critica, os significados subjacentes de cada texto ou situação.
5
A IMPORTÂNCIA DA ESCOLA NA FORMAÇÃO DE LEITORES
Numerosos estudos nos fazem supor que
os livros preparados para a infância remontam ao final do século XVII. Antes
disso, as crianças, vistas como adultos em miniatura, participavam desde a mais
tenra idade , da vida adulta.
Naqueles
tempos não havia histórias dirigidas especificamente ao público infantil, pois
a infância, enquanto período de desenvolvimento humano, com particularidades
que deveriam ser respeitadas, inexistia.
As profundas
transformações ocorridas no âmbito social e econômico, principalmente com o
advento do Capitalismo e da Supremacia burguesa, fizeram com que surgisse uma
nova organização familiar e educacional, na qual a criança passou a ocupar um
espaço privilegiado. Com intuito de capacitar cidadãos a fim de enfrentar um mercado de trabalho tão
competitivo já naquela época, tornava-se imperioso o preparo eficiente das
crianças para o trabalho e, consequentemente, para um desenvolvimento social
sustentável.
Nesse sentido, reorganiza-se a Escola
para que a atenda às novas exigências, repensando-se todos os produtos
culturais destinados a infância e, dentre eles, especialmente o livro.
A Escola há que estar atenta para a
formação do leitor, conforme Eriche Fromm “o elemento básico da cultura, a
linguagem, é a precondição de qualquer realização humana”. Nesse desiderato a
Escola deve estar atenta à esta concepção da leitura como fonte do conhecimento
e de sua responsabilidade na formação do leitor.
Bamberger nos dá alguns indicativos que
podem ser aplicados pela Escola para induzir o hábito da leitura aos seus
alunos. Senão , vejamos:
“O desenvolvimento de interesses e
hábitos permanentes de leitura é um processo constante, que principia no lar,
aperfeiçoa-se sistematicamente na escola e continua pela vida afora através das
influências da atmosfera cultural geral e dos esforços conscientes da educação
e bibliotecas públicas.”
Surge assim a Literatura Infantil,
criada com uma concepção ideológica compro metida com um destinatário
específico: a criança, embora persistissem resquícios ideológicos amalgamados à
transmissão de valores da sociedade então vigente.
Com o passar
dos tempos e com o surgimento de novos autores, os livro infantis vão
gradativamente sofrendo transformações e promovendo, através da disseminação de
uma leitura prazerosa e ao mesmo tempo
vinculada à construção do conhecimento,
um alargamento vivencial para as crianças.
Nesta
direção, a Escola, como espaço socializador do conhecimento, fica com a tarefa
primordial de assegurar aos seus alunos o aprendizado da leitura, devendo
fazer circular em seu meio uma
diversidade de materiais, com conteúdos ricos e variados, que promovam a
formação de leitores livres. Concebe-se assim, a prática da leitura, não como
habilidades lingüísticas, mas como um processo de descoberta e de atribuição de
sentidos que venha possibilitar a interação leitor-mundo. Conforme FREIRE
(1996): “(...) O ato de ler não se esgota na decodificação pura da palavra
escrita (...) A leitura do mundo precede a leitura da palavra.”
Sob este
prisma, o professor precisa estar capacitado e
preparado para provocar em sala de aula, a partir de leituras
diversificadas, discussões que conduzam os alunos ao estabelecimento de elos
com outras realidades, permitindo assim, a efetivação do real sentido do que
está sendo lido, em consonância com o discurso de STÜBIE (1997): “A
leitura na escola, tem a função de desacomodar o aluno, despertar-lhe o senso
crítico, romper com a alienação(...) já que ler não é apenas decodificar signos
gráficos.”
Por esta
perspectiva, é oportuno reforçar a assertiva de que o professor deve
selecionar diferentes tipos de textos, literários ou não, que projetem a vida
contemporânea do local onde os alunos estão inseridos, bem como de outros
lugares e tempos, os diversos pontos de vistas, estimulando discussões, reflexões e confrontos entre os
alunos.
De se
considerar:
“Se educar é preparar para a vida, despertar a
consciência, compreender e transformar a realidade, então a leitura só pode ser
compreendida numa perspectiva crítica.Ler criticamente é admitir pluralidade de
intrpretação, desvelar significados ocultos, resgatar a consciência do mundo,
estasbelecendo, por meio dela, uma relação dialética com o texto..” ( INDURSKY
e ZINN. 1985, p 23 )
Com a virada
do milênio a escola, visando incentivar o hábito da leitura, busca construir mecanismos eficientes a fim de
competir com o advento dos recursos visuais, auditivos e multimídia, a que
alguns poucos alunos já têm acesso.
O desenvolvimento intelectual da
população representa um fator político-social básico para o alcance do
progresso e aspiração de toda a
sociedade. Por exemplo, aqueles que irão representar os interesses nacionais no
plano internacional hão de estar plenamente capacitados para esse mister, o que
promoverá a consolidação da sustentação de um país que intitula-se como um
Estado Democrático de Direito e que tem como um dos seus fundamentos
constitucionais básicos a educação como “direito
de todos e dever do Estado e da família (...)”. A amplitude que enseja
a formação desses agentes se inicia na Educação Infantil e Séries Iniciais, e
esta não pode estar à margem da modernidade.
Numa visão holística e, por que não dizer metafísica da importância
da leitura e do saber humano, façamos uma reflexão sobre as palavras de
Rabindranath Tagore-Gitanjali:
“Onde o espírito vive sem medo e a
fronte se mantém erguida;
Onde o saber é livre;
Onde o mundo não foi dividido em
pedaços por estreitas paredes
domésticas;
Onde as palavras brotam do fundo da
verdade;
Onde o esforço incansável estende os
braços para a perfeição;
Onde a clara fonte da razão não perdeu
o veio no triste deserto de areia do hábito rotineiro;
Onde o espírito é levado à Tua
Presença, em pensamento e ação sempre crescentes;
Dentro desse céu de liberdade, ó meu
Pai, deixa que se erga minha pátria.
(...) Para que possam crescer felizes
as crianças.”
Nesta ótica,
não há como negar os avanços tecnológicos, no entanto, a Escola deve estar
atenta ao uso que se faz dos recursos eletrônicos e definir com clareza quais
objetivos a serem atingidos com o seu uso. A utilização inadequada desses
meios induzem seus “leitores” a uma mera
assimilação de fatos, ao invés de serem sujeitos de sua própria leitura e criação,
tornando-os seres passivos e distantes de sua realidade fática circunstancial.
A utilização inadequada dos meios
eletrônicos como mecanismo básico do ensino e leitura induzem a formatação do
conhecimento, ao contrário do que ocorre na leitura do livro, quando o tempo da
reflexão assegura um diálogo em que as experiências de vida são compartilhadas.
“(...) O livro desempenha um papel
importante na vida e na formação do ser humano, pois através dele nos tornamos
mais sensíveis ao mundo e capazes de entender
nossas próprias reações. O livro incrementa a missão de educar, pois
fornece as crianças informações, lazer, cultura, propiciando ao leitor elaborar
seu próprio conhecimento, enriquecer seu vocabulário, facilitar a escrita,
agilizar o raciocínio e aguçar a imaginação. Assim, ao incentivarmos a leitura,
estamos deflagrando um movimento para desenvolver pessoas críticas,
participativas, criativas e preparadas para construir a nação do futuro.”
A Escola,
incumbida então da função de promover a formação do leitor, terá que rever as
condições, muitas vezes restrita, a que impõe a leitura aos seus alunos.
Partindo então do pressuposto que o incentivo
à leitura ainda consiste numa das maiores dificuldades para os professores e
para as escolas, cabe salientar alguns fatores relevantes na tentativa de
solucionar essas dificuldades:
1-
Fator pessoal: representado pelo
professores, pois sua postura frente ao livro é fundamental para a formação do
hábito de ler na criança. O entusiasmo contagia, mas quem não sabe apreciar o
livro pode desestimular o aluno, mesmo de forma inconsciente;
2-
Ambiente físico: o espaço da leitura
deve ser agradável, acolhedor e informal, seja na sala de aula, seja na
biblioteca, o que importa é a criança sentir-se a vontade para ali permanecer
para entregar-se à leitura com prazer e familiarizar-se com o livro;
3-
Livro acesso aos livros: ao livros
devem estar dispostos de forma a permitir à criança fácil manuseio. Às vezes a
organização formal das prateleiras constitui barreira para o aluno, que se
sente inibido e receoso de tocar nas obras;
4-
Acervo da biblioteca: é importante a
atualização da biblioteca, tendo em vista o atendimento dos interesses e a fase
do desenvolvimento dos usuários.
Dessa forma reportando-nos
exclusivamente às Educação Infantil e às séries iniciais, pode-se constatar que
na maioria da escolas não existem critérios para o incentivo à leitura, e que
os livros considerados didáticos, são
muitas vezes o único material de leitura que os alunos dispõe para ler,
resultando na absorção de um conhecimento parcial e limitado, o que pouco contribui para a formação de
leitores que estão a procura de respostas às suas infinitas indagações. Tal
fato faz com que as aulas de leitura culminem em apenas mais uma das atividade
da rotina em sala de aula, permeadas unicamente por textos fragmentados e
insignificantes.
Em
contraposição a essas condições, faz-se necessário nas escolas o
redimensionamento de todo o trabalho, partindo da seleção de materiais,
garantia de espaço para discussões, mudança de postura de alguns profissionais
e, principalmente, admissão de resultados convergentes em relação a confrontos
existentes durante o processo da leitura.
Com as inovações propostas a prática da
leitura se fará constante, buscando-se o
auxílio pelo emprego de livros, jornais, revistas, quadrinhos, rótulos,
listas, tabelas, placas, publicidade, etc., que forneçam subsídios aos professores
nas tarefas de tornarem seus alunos , verdadeiros leitores.
Por esta direção citamos STÜBE (1997, p
32) :
“Tudo o que faz parte do contexto em
que o homem vive é possível de leitura; o processo de atribuição de sentidos
mostra-se mais amplo que a mera decodificação(...)”
Assim, ao
professor incumbe não ficar adstrito ao espaço fechado da sala de aula, mas sim
encarar o trabalho de leitura com seriedade, munindo-se de embasamento teórico
sobre a ciência da leitura, o que lhe dará auxílio no direcionamento de sua
prática, pois segundo BRAGA (1985): “Só ensinamos bem o que conhecemos e
acreditamos”.
O professor
deverá ser capaz de escolher livros de acordo com os interesses do leitor,
disponibilizar vários tipos de leitura, conhecer o interesse e o nível de
desenvolvimento e contexto social da
criança com a qual trabalha; citando BRAGA : “A falta de adequação entre a
obra e o interesse do aluno, poderá acabar com a motivação do pequeno leitor”.
Por derradeiro, o professor poderá
utilizar vários recursos metodológicos para despertar o prazer de ler em seus
alunos:
“ A literatura é um grande desafio ao
educador da atualidade. A escola se organizou muito centradamente no aspecto cognitivo
e se esqueceu, quase que
completamente, da arte (em suas diversas manifestações) do prazer, do lúdico,
do agradável...da literatura.Fato lamentável numa época de poluição, de
famílias desestruturadas, de massacre do homem em função da máquina e do
progresso.”
(BRAGA, 1995,p.36)
No atual
contexto social faz-se mister que os professores estejam comprometidos com a
literatura, que também tenham ou adotem o salutar hábito da leitura pois, no
dizer de Fombeure: “É lendo que nos tornamos leitores”. Então, que leiam por
prazer e acompanhem o desenvolvimento dos seus alunos, incentivem o pensamento
reflexivo e crítico, capacitando-os a reconhecer os valores subjacentes nas
relações sociais, culturais, políticas e econômicas da sociedade, descritas,
muito provavelmente, nas entrelinhas da maioria dos bons livros.
Necessário
também é a existência de consenso entre professores e alunos no sentido de que
a literatura é objeto de lazer e compreensão do mundo que, respeitados os
interesses e crenças do leitor, propicia prazer, emociona, alegra, engaja o ser
por inteiro na leitura e se transforma em atividade lúdica e cognitiva.
Portanto, não é de se pensar em literatura como instrumento de transmissão de
normas lingüisticas ou comportamentais. Ela poderá oferecer um vasto horizonte
à criatividade e fantasia, levar o leitor ao âmago de suas emoções, mas não
deverá ser usada como simples recurso para a aprendizagem de conteúdos
educativos.
Tornar o
livro um objeto “amigo” do aluno,
oportunizando o contato com o belo, com o imaginário e com a arte da palavra,
são condições que reforçarão o estabelecimento do hábito de ler por prazer e
entretenimento. Alcançados tais objetivos, os demais propósitos referentes a
relevância da leitura, virão como conseqüência.
6
LEITURA COMO FONTE DE INFORMAÇÃO E PRAZER
A escola,
espaço que convencionamos como sendo específico e privilegiado do saber, no que
concerne à leitura , precisa rever suas práticas, mormente diante de leituras impostas
em salas de aulas onde faz imperar um dualismo:
de um lado algumas escolas que, ao pretenderem uma rápida atualização
com o presente, assimilam o novo sem a devida reflexão utilizando
inadequadamente instrumentos modernos de ensino e tornando seus leitores
passivos diante de imagens efêmeras. Em contraposição, outras escolas utilizam textos fragmentados de
manuais didáticos como único meio auxiliar para a leitura, objetivando o
trabalho de unidades curriculares como mera fixação e memorização de conteúdos,
quase sempre aleatórias à realidade dos alunos.
Esta antinomia existente em tais
práticas de leitura estão longe de resgatar a história do conhecimento humano,
de estimular o pensamento ou induzir o
aluno ao prazer em ler.
Neste
sentido, esta ambigüidade da prática educativa tornam os alunos alheios a realidade que os circundam, tornando-os
vulneráveis a dominação de uma minoria que pensa e se mantêm bem informados.
Parte-se então do pressuposto que a prática da leitura significa a possibilidade
de domínio através de um instrumento de poder, chamado linguagem formal, pois é
desta forma que estão escritas as leis que regem nosso país, e assim perceber
os direitos que se tem, o direito das elites que, com um discurso ideológico em
prol da liberdade e da justiça, os mantêm na condição de detentores do Poder
Manter grande parte da população
escolar perto do alcance desta linguagem formal, este é o grande desafio, a fim
de que, com uma visão crítica e reflexiva e através do discernimento, não se
permita a perpetuação de sua condição de dominados.
Neste sentido
torna-se oportuno citar FOUCAMBERT (1994,p. 121):
“(...) a leitura
aparece também como um instrumento de conquista de poder por outros atores,
antes de ser meio de lazer ou evasão. O “acesso a leitura” de novas camadas
sociais implica que leitura e produção de texto se tornem ferramentas de
pensamento de uma expreriência social renovada; ela supõe a busca de novos
pontos de vista sobre uma realidade mais ampla, que a escrita ajuda a conceber e a mudar, a
invenção simultânea e recíproca de novas relações, novos escritos e novos
leitores. Nesse sentido torna-se leitor pela transformação da situação que faz
que não se o seja.”
Assim, a leitura como prática social
faz a diferença para aqueles que dominam, tornando-os distintos cultural e
socialmente.
Faz-se mister
que as escolas revejam as condições restritas impostas ao ensino da
leitura. Entretanto mudar as condições
de produção da leitura na escola não significa apenas alterar os instrumentos
de sua codificação e decodificação, vai muito mais além:
Conforme
Paulo Freire (1997, p. 11):
“(...)
o ato de ler não se esgota da decodificação pura da palavra escrita ou da
linguagem escrita, mas que se antecipa e se alonga na inteligência do mundo. A
leitura do mundo precede a leitura da palavra(...) linguagem e realidade se
prendem dinamicamente.”
Exige-se da escola, principalmente, o
redimensionamento de todo o trabalho educativo que engloba: ousadia, seleção de
materiais variados, espaço para socialização, respeito a opiniões divergentes,
enfim novas propostas de trabalhos
pedagógicos com leituras críticas e variadas.
Reafirmamos
que o exercício e prática da leitura transcende ao uso de materiais como meios
auxiliares de ensino, empregados como modismos em sala de aula ou como
atividade ligada a lição e a intenção didática instrucional.
Além da
leitura como informação e,
conseqüentemente, como fonte de acesso ao conhecimento e ao poder , o mais
importante é a capacidade de se aliar isso ao prazer e entretenimento, pois é
de se deduzir, por essa linha de pensamento que, a contrário sensu, o prazer na prática da leitura levará
automaticamente o leitor ao conhecimento.
Assim, a
leitura singular dos livros didáticos devem ceder espaço aos livros de
literatura infantil, jornais, revistas, gibis,
bulas de remédios, receitas caseiras, etc., que fazem parte dos objetos de uso
cotidiano, articulado a uma leitura significativa e, portanto, compreensiva e
mais agradável como processo pedagógico.
Leitura é
conhecimento, e o conhecimento é um processo de construção em que o
protagonista é o aluno, e respaldando tal assertiva é oportuno citar Paulo
Freire:
“Uma educação que procura desenvolver a
tomada de consciências e a atitude crítica, graças à qual o homem escolhe e
decide, liberta-o em lugar de submetê-lo, de domesticá-lo, de adaptá-lo, como
faz com muita freqüência a educação em vigor num grande número de países do
mundo, educação que tende a ajustar o indivíduo
à sociedade em lugar de promovê-lo em sua própria linha.”
Com essa ideologia na prática pedagógica, poderá se propor
nas escolas alternativas de promoção de
leitura, objetivando despertar o interesse e a vontade de ler por parte dos
alunos através, por exemplo, das seguintes ações:
a) Substituição dos livros didáticos por
livros de literatura;
b) Dramatizações com a participação dos
alunos;
c) Atividades com ORIGAMI, arte japonesa
que constitui na dobradura artística de papéis, criando personagens das histórias;
d) Manipulação de argila e construção de
maquetes, fundamentados na releitura das histórias;
e) Realização de atividades com bulas de
remédios. Com a troca de informações, experiências e conselhos;
f) Criação de caixinhas de remédios e
elaboração de bulas com base em algum medicamento natural conhecido;
g) Exploração de receitas culinárias;
h) Trabalho com jornais;
i) Leitura de histórias em quadrinhos:
As histórias em quadrinhos têm um
efeito surpreendente como mecanismo de incentivo à leitura. Tais histórias
atraem os alunos pela identificação que estes fazem com alguns personagens,
semelhante ao mundo fático. A fantasia transforma a leitura em
modalidade de ensino e de prazer.
j)
Feira de leitura: conforme poderá ser
verificado nas fotos consignadas no ANEXO 2.
A realização
destas propostas pedagógicas, como alternativas
e complementares, poderá
estimular nos alunos a vontade e o prazer da leitura.
Há muito a se
discutir, refletir e pesquisar para que se consiga concretizar de maneira
efetiva, nas salas de aula, esta audaciosa proposta. Para isso, se faz mister
uma mudança na postura dos educadores e também da consciência de que, como
enfatizamos nos capítulos iniciais, exigirá a quebra de alguns paradigmas no
processo educativo.
Trata-se de um primeiro passo e de um
grande desafio: romper barreiras para
melhor ensinar, visando, sobretudo, uma educação que permita ao aluno o
exercício pleno de sua cidadania e o seu desenvolvimento como pessoa humana
através do hábito de ler, não apenas como fonte de conhecimento, mas também
como informação e prazer!
7 LITERATURA INFANTIL
Algumas
publicações nos dão conta de que os primeiros livros para crianças tenha sido o
trabalho de Comenius : Orbis Sensualium
Pictus (1658), criado com o intuito de ensinar latim através de gravuras
constituindo, pois, um antepassado , talvez dos atuais livros didáticos
ilustrados para crianças. Antes dessa época não havia nada que pudesse ser tratado como literatura
infantil, pois é o que se deduz da falta de registros a respeito.
Posteriormente, surge a literatura infantil, com moldes
ideológicos comprometidos com um
destinatário específico, a criança, contudo eivado de valores que objetivavam a
transmissão de valores da sociedade então vigente.
Somente
com o passar dos tempos e com a verificação da realidade mutante, que os textos
infantis vêm a sofrer adaptações, promovendo o alargamento vivencial do leitor
infantil, incitando-o a participar de problemas e buscar soluções refletidas.
Nessa
linha de desdobramento evolutivo, a
literatura infantil passa a
abranger um público específico, passando a ser entendida como agente
emancipatório e capaz de projetar a criança para além do seu universo
cotidiano, recriando a vida como ela ainda poderia ser vivida, ainda que
houvesse uma fantasia subjacente, despertando o seu raciocínio.
Sob esta ótica, os livros ofereciam às
crianças, de maneira sistemática, lúdica e prazerosa um "modelo"
capaz de ampliar e produzir seus próprios conhecimentos, haja visto a
diversidade de opções a que se deparava. Essa é a atual conjuntura da
literatura infantil no mundo contemporâneo, sobre a qual passaremos também a
discorrer frente à realidade nacional.
7.1 A Literatura
Infantil no Brasil
Até o início do século XIX, a escola
não existia , ao menos da forma tal qual a
conhecebemos hoje, institucionalizada e seriada. Não haviam professores
formados e com capacitação adequadas, sendo que muito menos cogitava-se o livro
em sala de aula.
Foi a partir
da chegada da família Real ao Brasil com D João VI, que a educação até então
oferecida pelos Jesuítas com intenção
religiosa, tomava novos rumos, redimensionando o ensino. Uma das importantes
emancipações foi a formação de professores e o nascimento do livro-texto,
emergindo a possibilidade de se pensar num livro recreativo e consequentemente
na literatura infantil.
A partir de 1808 criaram-se colégios
por todo o país, de Minas Gerais ao Rio de Janeiro, Bahia etc. A partir desse
momento a educação, garantida posteriormente na Constituição de 1824, declara “gratuito
a todos a instrução primária” . Com isso garantia-se a instrução popular,
em paralelo à excelência da educação dos colégios particulares. Deflagra-se a
criação de instituições de imprensa que fazem circular vários jornais
infanto-juvenis, permitindo-nos admitir como a primeira fase da literatura
específica para crianças no Brasil, pois o valor dos jornais que circulavam na
época, principalmente os folhetins infantis, despertavam nas crianças o
interesse pela informação e cultura.
A literatura infantil no Brasil,
portanto, ao esboçar-se no final do século XIX, denota uma preocupação
educacional, tornando o ensino menos
teórico e fatigante. Alguns nomes emergem como merecedores de destaque desta
“nova pedagogia”: Rui Barbosa, Teodoro Morais e, em nossos dias, podemos
ressaltar, dentre vários outros, Anísio
Teixeira e Lourenço Filho , precursores da Escola Nova no Brasil.
Por razões evidentes, não poderíamos
deixar de também fazer alusão a um dos maiores nomes da literatura infantil:
Monteiro Lobato.
Monteiro Lobato tornou-se o maior
clássico da literatura brasileira.; Não escreveu apenas livros para crianças,
mas sim criou um novo universo para elas. Foi original em seus escritos, embora
utilizasse o rico acervo da literatura clássica infantil de todo o mundo. Sua
maior fonte de inspiração foi a própria criança: os ingredientes de sua
vivência, suas fantasias, suas aventuras, seus jogos e brinquedos, e tudo que
povoasse sua imaginação.
Bárbara Vasconcelos, em sua obra “A
literatura Infantil”, retrata bem a importância da obra de Monteiro Lobato:
“É importante que a criança viva em seu
mundo, sem ser perturbada, para que ela seja criança enquanto for criança.
Lobato realizou uma obra onde a criança, desinibida e autêntica, é livre para
ser criança. E é isso que é importante. Ele não mente à criança, mas não lhe
impõe os problemas.
A
criança merece beleza e respeito, sem precocidade vulgares, sem
permissividades, porque o nosso objetivo é dar-lhes condições de crescer. É
isso que faz a obra de Lobato.”
A criação literária de Monteiro Lobato
contribuiu sobremaneira para a educação, inspirando as novas gerações para o
hábito da leitura, num mundo cheio de
fantasia e beleza, fazendo com que sua presença fique viva nos lares, nas
escolas e, principalmente, nos corações das crianças.
Sua obra infantil tem servido de
inspiração para educadores e homens de teatro no Brasil e no exterior, motivo
de orgulho nacional.
8 A LITERATURA E A CRIANÇA
“Um livro infantil, para o quarto de
uma criança, é um objeto tão importante e mais indispensável do que o berço”
Friedrich Bertuch
Uma das formas de recreação mais importante para a criança,
principalmente no que se refere ao seu desenvolvimento e crescimento
intelectual, psicológico, afetivo e espiritual é a leitura.
A literatura infantil, como meio de
comunicação e modalidade da leitura, também é um dos mais eficientes mecanismos
de recreação e lazer, servindo como um método prático de terapia educacional.
Os condicionamentos impingidos pela
vida moderna, tais como a massificação da informação pela televisão, os
programas televisivos inadequados, a comunicação via ciberespaço, os filmes infantis instigando à violência,
dentre outros aspectos, despejam sobre a criança informações que cerceam a sua
capacidade imaginativa, culminando num alheamento de perspectiva crítica.
A literatura desempenha papel
fundamental na vida da criança, não apenas pelo seu conteúdo recreativo que
desempenha, mas também pela riqueza de motivações, sugestões e de recursos que
oferece ao seu desenvolvimento.
Em seu descobrimento da vida, a criança
está ávida por descobrir e entender a realidade circundante, deslumbrando os
mistérios que a aproximam do mundo exterior através dos símbolos, da leitura
infantil. Nessa curiosidade e deslumbramento deverá encontrar estímulos sadios
e enriquecedores que serão a tônica de sua motivação e crescimento como pessoa
humana.
Portanto, deve-se estimular e propiciar ao alcance das crianças
os livros infantis, dos Contos de Fadas, poesias, os mitos, folclore, fábulas,
teatro, permitindo-lhe penetrar em seu universo mágico dos sonhos. É o caminho
não apenas de sua descoberta, mas também um dos mais completos meios de
enriquecimento e desenvolvimento de sua personalidade.
Com a leitura e os livros a criança e o
jovem encontrarão caminhos, crescerão e se desenvolverão na busca de soluções
para as suas inquietações e problemas de
ordem intelectual, social, afetiva, ética e moral.
Diz Erich Fromm: “ o elemento mais básico da
cultura, a linguagem, é a precondição de qualquer realização humana.”
A leitura infantil é um dos fatores
básicos para a criança buscar a sua realização como pessoa humana, incumbindo
às novas gerações uma grande responsabilidade quanto à mudança de concepção
ideológica, de maneira a que o hábito da leitura seja propugnado desde a mais
tenra idade, contribuindo em sua formação sob todos os aspectos.
9 CONCLUSÃO
Ao longo
dessas linhas buscou-se inspiração, sobretudo, na crença e firme convição como
educadora, de que o futuro está na
educação, principalmente na Educação Infantil
e Séries Iniciais.
O desfio do
novo educador, daquele adequado ao mundo contemporâneo, está justamente em
fazer frente às ideologias dominantes que insistem em práticas educativas
tradicionais e descomprometidas com o objetivo máximo da educação, centro para
onde deveriam convergir todos os interesses: o aluno.
Nesse
desiderato, comprometidos com o amanhã e com o futuro de nossos filhos, de
nossa história, e porque não dizer de nossa própria existência, incumbe-nos, através de um discurso pragmático e não
meramente dogmático, persuadir o público que tem compromisso com a educação, na
realidade da família ao professor, da Escola ao próprio Estado, a implementar
ações voltadas para a formação do futuro cidadão, sendo a incultação do hábito
da leitura o mais ideal dos instrumentos
para essa conquista.
Que as vicissitudes do cotidiano nos
permita avançar através da leitura, rumo a uma Sociedade Livre, Justa e
Igualitária, valores supremos de qualquer nação!
Elaine De Paula – Profª Especialista
Creche Municipal Joel Rogério de
Freitas – Fpolis - SC
Giovani
De Paula – Capitão Profº Especialista
Núcleo
de Pesquisa, Inovação e Tecnologia em Segurança Pública - NuPITEC
José
Luiz Gonçalves da Silveira – Capitão Prof. Doutorando
Núcleo
de Pesquisa, Inovação e Tecnologia em Segurança Pública - NuPITEC
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