Por Marcus Vinicius
Já ouvi essa expressão umas mil vezes, você provavelmente também. Não tem nada a ver com o bíblico "dar a outra face", mas com responder a uma cretinice que fazem contigo com outra cretinice, só que supostamente educada.
Eu sou meio cético pra essas coisas, eu acredito no palavrão. O palavrão, ainda que socialmente condenável, libera tensões. Uma pessoa que fala logo um quanto está irritada tem menos chance de pegar um fuzil e dizimar o público de uma filial do Mc Donald's numa tarde qualquer.
Cordialidade cínica é pior do que grosseria, porque ainda por cima é mentirosa.
Você está numa festa com sua namorada, uma prima dela metida a besta começa a fazer comentários desagradáveis sobre a roupa que ela está usando, sobre o penteado dela e até sobre aquele concurso que ela não conseguiu passar.
Você sabe que as duas não se dão bem desde que uma arrancou a perna da Barbie da outra quando tinham 6 anos. Sua namorada teve uma educação castradora, dessas que dizem que é feio soltar um "pqp!" até quando damos uma topada na mesa de centro e por isso fica ali, ouvindo as idiotices quieta. Com certeza ela vai chorar de raiva em casa mais tarde e estragar a noite que você preparou com tanto esmero, comprando calcinha nova pra ela e até cortando as unhas, o que você faz?
Vai ser superior, pedir licença e fazer um comentário homo-fashionista no estilo "esses sapatos que você está usando são tããão verão passado"? Ou vai mostrar porque você não nasceu ectotérmico e falar algo do tipo "Porque você não faz bronzeamento artificial e vai trabalhar como cover da Preta Gil? Sua fdp?!".
Sim, será um barraco. Mas ao invés de você passar uma semana pensando nela, no que poderia ter respondido e no que ela merecia ter ouvido, será ela que vai passar uma semana sem te tirar da cabeça, com a sua cara feia engasgada na mente até na hora de ir dormir.
Não acredito muito em convivência forçada, nessa história de gente que "se atura" e fica dando alfinetada uma na outra. Ao contrário da maioria das pessoas, eu duvido muito do caráter de alguém que ouve um monte de ofensas, diretas ou veladas, e não manda o outro tomar num lugar bem feio, relacionado à profissão de um médico temido por homens de meia idade.
Essa obsessão pelo controle de emoções, tão anti-latino, virou febre de uns tempos pra cá. Não é mais bonito pagar mico por amor, escrever cartas melosas e ter arroubos de ciúme. Atualmente o admirável é ser informado sobre um chifre pelo próprio parceiro, de preferência sentados num café, e perguntar logo depois "o (a) outro (a) é boa gente?".
Se o passional demais assusta, o passional de menos oprime.
Viver de verdade é estourar o limite do cartão, é dever ao cheque especial. Não se iluda: o amor é um jogo de "perde, perde", assim como a vida também é, mas de vez em quando ganhamos uma aqui e outra ali, e é por isso que tudo vale a pena.
Quem briga de uma vez, faz as pazes de uma vez. Não fica aquele azedume pairando, aquela intolerância a conta-gotas, acumulando-se até virar uma ironia mais grosseira do que um xingamento. Porque quando você chama alguém de "fdp", você não quer ofender a pessoa e nem a digníssima mãe dela, você está desabafando, é quase uma ofensa de domínio público. Todo mundo é, já foi ou ainda será "fdp", é da vida.
Mas dizer coisas que atingem que ferem de verdade, mesmo sem usar de expressões grosseiras, é muito mais mal-educado. Elegância é saber o que machuca o outro e não usar isso nem na hora da raiva. Melhor proferir generalidades, desabafar, fazer as pazes e seguir adiante. Esquecer xingamento é fácil, difícil é apagar as verdades da memória.
Por isso a minha teoria é simples: se for pra dar tapa, que seja com luva de boxe. Melhor depois dar pontos no supercílio do que na alma.
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